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São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2003

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DISCOS/LANÇAMENTOS

"DRAGONFLY"

Em seu 10º álbum, primogênito de Bob se afasta mais do reggae

Sem irmãos, Ziggy Marley orienta seu próprio barco

Divulgação
O cantor e compositor Ziggy Marley, que lança seu primeiro CD solo sem o grupo Melody Makers


DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

O reggae é tão grande quanto o oceano. Precisamos dar uma chance ao amor. A Justiça irá chegar para os meus filhos. O discurso "paz e amor", que poderia ter saído da boca de um hippie há 30 anos, continua a fazer a cabeça de Ziggy Marley, 34, filho e herdeiro da mesma filosofia do papa do reggae, Bob Marley (1945-81).
"Escrevi o que sentia naquele momento [há cerca de um ano", antes dessa guerra que está aí. O que eu gosto é que essas músicas são atemporais e trazem mensagens positivas", disse Ziggy à Folha, em referência a seu novo rebento, "Dragonfly", décimo álbum de sua carreira rasta e primeiro sem a companhia dos irmãos Stephen, Cedelia e Sharon Marley, os Melody Makers.
"Ei, senhora abelha, o mundo mudou mas você continua a mesma/ e eu me pergunto como você sobrevive com o ambiente indo por água a baixo/ Ei, senhorita libélula, eu vejo você me olhando com seus bonitos olhos/ Você deve estar pensando que tipo de criatura sou eu / Um cachorro olhou para mim e disse / Ziggy, por que não podemos confiar nos homens? Se nos unirmos, por que não podemos nos entender?"
A simplicidade, de disco e discurso, parece não incomodar Ziggy. "Só quero ser honesto com a música, não vou ficar colocando um nome, reggae, rock, deixo que a música se defina por si mesma".
Fiel em partes à retórica do reggae e do clã Marley, "Dragonfly" acompanha sonoramente, no entanto, a trajetória solo de Ziggy em seus vôos frequentes pelo rock ("I Get Out"), pelos ritmos latinos ("Looking") e por uma temática, embora geograficamente próxima do tal êxodo do povo de Jah, aparentemente inédita no campo do reggae: a questão Israel-Palestina e o terrorismo ("Shalom Salaam" e "In the Name of God").
"Quem é culpado? Os dois governos [Estados Unidos e Iraque] são culpados por crimes contra a humanidade. Não é o Bem contra o Mal, mas o Mal contra o Mal. Não há justificativa para nenhuma dessas guerras que acontecem, nem por tudo o que Saddam Hussein fez no passado", diz.
Produzido por Scott Litt (R.E.M., The Replacements, Nirvana), "Dragonfly" envereda ainda pelo pop e pela soul music, com as palhetadas experientes de Flea, baixista do Red Hot Chilli Peppers, nas faixas "Rainbow in the Sky" e "Melancholy Mood".
Ao final da entrevista, com as melosas e quase bregas "Never Deny You" e "Don't You Kill Love", ao fundo, Ziggy solta mais uma pérola: "O reggae é como um oceano onde você pode colocar um grande navio, um barquinho ou simplesmente nadar". Tudo para tentar explicar que o reggae, hoje, é feito por sujeitos com estilos musicais diferentes. Mas com a cabeça no mesmo lugar: lá nos anos 70.


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