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Lov.e fecha, mas deixa herdeiros na noite de SP
Clube na Vila Olímpia misturava públicos e foi responsável por popularizar o drum'n'bass
Cena paulistana agora tem Vegas, D-Edge e Clash, entre outras casas, que fazem ponte entre o underground e o "mainstream"
Igor Arthuzo-2005/Divulgação
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Festa no clube paulistano Lov.e, que encerra suas atividades depois de dez anos
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma das principais casas na
história da noite paulistana, o
Lov.e está fechando as portas a
partir de hoje, com duas festas
de encerramento. Enquanto
isso, uma recente geração de
DJs e promotores procura injetar um novo ânimo à noite de
São Paulo.
A despedida do Lov.e acontece hoje e na próxima sexta-feira. A primeira festa é dedicada à
house, ao electro e ao tecno e
será comandada por 25 DJs que
fazem parte da história do clube, como Mau Mau, Renato Lopes, Magal e Camilo Rocha. A
segunda, no dia 11, será toda de
drum'n'bass, com os principais
nomes do gênero, como Marky,
Patife e Andy, entre outros.
A expectativa de vida das casas noturnas não é das mais altas. Inaugurado em 1998, o Lov.e é uma exceção -na mesma
linha, estão Alôca (12 anos) e o
Manga Rosa (nove anos).
Uma das razões que diferenciaram o Lov.e de seus pares foi
seu caráter pioneiro. No final
dos anos 90, foi o primeiro clube a levar o drum'n'bass à zona
sul de São Paulo (o gênero estava restrito à região leste), com a
noite Vibe, às quintas-feiras, pilotada por Marky.
Em 2004, trouxe do Rio de
Janeiro o DJ Marlboro, que ganhou residência fixa às quartas-feiras com funk carioca.
"O Lov.e significou muito para mim", disse Marky, um dos
principais DJs de drum'n'bass
do mundo, à Folha. "Fiquei extremamente triste com a notícia. O Lov.e trouxe muita informação para o público, não apenas com o d'n'b, mas com house e tecno."
Acima do underground
Outro motivo que levou muitos clubbers a lotar a pista do
clube da Vila Olímpia está na
bem-sucedida reunião com a
música fora do radar comercial
e um público de várias tribos.
"A noite de SP não seria a
mesma sem o Lov.e. Foi um
clube que apostou em vários aspectos da música eletrônica e
que conseguiu trazer estilos e
tendências para um público
mais amplo, sem nunca deixar
de fomentar a música mais underground", afirma o DJ e jornalista Camilo Rocha. "Hoje o
Vegas, o D-Edge e o Clash fazem essa ponte. Mas, antes, havia apenas clubes underground
e clubes "mainstream"."
A jornalista Erika Palomino
aponta a mudança estética realizada pelo Lov.e nos anos 90.
"Foi um divisor de águas bastante claro na história da noite
de São Paulo. Estávamos em
um momento bem fechado, escuro, vivido no ["after hours']
Hell's, aquela coisa mais pesada. O Lov.e veio com uma proposta mais colorida, com uma
iluminação alegre, e reintroduziu a house de volta à moda."
Palomino ainda ressalta: "O
Lov.e teve a percepção de notar
que o drum'n'bass e o funk carioca poderiam ser grandes. É
um clube que construiu uma
história e um conceito".
A festa continua
Se o Lov.e fomentou a noite
paulistana, recebendo em sua
cabine DJs como Richie Hawtin, Laurent Garnier e o produtor alemão Anthony Rother,
nos últimos anos a casa sofria
com essa movimentação que
ajudou a criar.
Há pelo menos dois anos, as
atrações internacionais tornaram-se escassas e o público foi
em direção aos vários clubes
que pipocavam na cidade.
Se o Lov.e se despede, inúmeros projetos continuam a fazer
da noite de São Paulo uma das
mais animadas do mundo.
"O que posso dizer sobre São
Paulo? Nas quatro vezes em
que toquei aí, pude sentir a
energia das pessoas. Não querem que a festa termine nunca.
E sempre fui dos últimos a deixar os clubes", disse Anthony
Rother, que, além do Lov.e, tocou no Clash e no Skol Beats.
"Os brasileiros adoram meus
sets longos. Faço isso poucas
vezes, mas sempre me pedem
quando vou a São Paulo", contou o alemão Sven Väth, que no
último final de semana tocou
por 12 horas na Pacha. "O público paulistano é ótimo, gosta
de música e é muito animado."
Além do aparecimento de
clubes como o Studio Roxy e o
Megga (ambos voltados para o
público GLS), noites como a
Crew, Batalha de iPod e Rockfellas quebram qualquer barreira entre
música pop, rock e eletrônica.
Mas Camilo Rocha ressalva:
"São propostas saudáveis, mas
está virando uma fórmula, o
que tira o caráter revolucionário que havia no princípio".
(THIAGO NEY)
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