São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2008

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Lov.e fecha, mas deixa herdeiros na noite de SP

Clube na Vila Olímpia misturava públicos e foi responsável por popularizar o drum'n'bass

Cena paulistana agora tem Vegas, D-Edge e Clash, entre outras casas, que fazem ponte entre o underground e o "mainstream"

Igor Arthuzo-2005/Divulgação
Festa no clube paulistano Lov.e, que encerra suas atividades depois de dez anos

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma das principais casas na história da noite paulistana, o Lov.e está fechando as portas a partir de hoje, com duas festas de encerramento. Enquanto isso, uma recente geração de DJs e promotores procura injetar um novo ânimo à noite de São Paulo.
A despedida do Lov.e acontece hoje e na próxima sexta-feira. A primeira festa é dedicada à house, ao electro e ao tecno e será comandada por 25 DJs que fazem parte da história do clube, como Mau Mau, Renato Lopes, Magal e Camilo Rocha. A segunda, no dia 11, será toda de drum'n'bass, com os principais nomes do gênero, como Marky, Patife e Andy, entre outros.
A expectativa de vida das casas noturnas não é das mais altas. Inaugurado em 1998, o Lov.e é uma exceção -na mesma linha, estão Alôca (12 anos) e o Manga Rosa (nove anos).
Uma das razões que diferenciaram o Lov.e de seus pares foi seu caráter pioneiro. No final dos anos 90, foi o primeiro clube a levar o drum'n'bass à zona sul de São Paulo (o gênero estava restrito à região leste), com a noite Vibe, às quintas-feiras, pilotada por Marky.
Em 2004, trouxe do Rio de Janeiro o DJ Marlboro, que ganhou residência fixa às quartas-feiras com funk carioca.
"O Lov.e significou muito para mim", disse Marky, um dos principais DJs de drum'n'bass do mundo, à Folha. "Fiquei extremamente triste com a notícia. O Lov.e trouxe muita informação para o público, não apenas com o d'n'b, mas com house e tecno."

Acima do underground
Outro motivo que levou muitos clubbers a lotar a pista do clube da Vila Olímpia está na bem-sucedida reunião com a música fora do radar comercial e um público de várias tribos.
"A noite de SP não seria a mesma sem o Lov.e. Foi um clube que apostou em vários aspectos da música eletrônica e que conseguiu trazer estilos e tendências para um público mais amplo, sem nunca deixar de fomentar a música mais underground", afirma o DJ e jornalista Camilo Rocha. "Hoje o Vegas, o D-Edge e o Clash fazem essa ponte. Mas, antes, havia apenas clubes underground e clubes "mainstream"."
A jornalista Erika Palomino aponta a mudança estética realizada pelo Lov.e nos anos 90.
"Foi um divisor de águas bastante claro na história da noite de São Paulo. Estávamos em um momento bem fechado, escuro, vivido no ["after hours'] Hell's, aquela coisa mais pesada. O Lov.e veio com uma proposta mais colorida, com uma iluminação alegre, e reintroduziu a house de volta à moda."
Palomino ainda ressalta: "O Lov.e teve a percepção de notar que o drum'n'bass e o funk carioca poderiam ser grandes. É um clube que construiu uma história e um conceito".

A festa continua
Se o Lov.e fomentou a noite paulistana, recebendo em sua cabine DJs como Richie Hawtin, Laurent Garnier e o produtor alemão Anthony Rother, nos últimos anos a casa sofria com essa movimentação que ajudou a criar.
Há pelo menos dois anos, as atrações internacionais tornaram-se escassas e o público foi em direção aos vários clubes que pipocavam na cidade.
Se o Lov.e se despede, inúmeros projetos continuam a fazer da noite de São Paulo uma das mais animadas do mundo.
"O que posso dizer sobre São Paulo? Nas quatro vezes em que toquei aí, pude sentir a energia das pessoas. Não querem que a festa termine nunca. E sempre fui dos últimos a deixar os clubes", disse Anthony Rother, que, além do Lov.e, tocou no Clash e no Skol Beats.
"Os brasileiros adoram meus sets longos. Faço isso poucas vezes, mas sempre me pedem quando vou a São Paulo", contou o alemão Sven Väth, que no último final de semana tocou por 12 horas na Pacha. "O público paulistano é ótimo, gosta de música e é muito animado."
Além do aparecimento de clubes como o Studio Roxy e o Megga (ambos voltados para o público GLS), noites como a Crew, Batalha de iPod e Rockfellas quebram qualquer barreira entre música pop, rock e eletrônica.
Mas Camilo Rocha ressalva: "São propostas saudáveis, mas está virando uma fórmula, o que tira o caráter revolucionário que havia no princípio".
(THIAGO NEY)


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