São Paulo, domingo, 04 de abril de 2010

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Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

Como uma deuza

A nova primeira-dama de SP, Deuzeni Goldman, 58, a Deuza, que toma posse na terça, cuida de filhos, netos e enteados, escolhe as roupas do marido, faz dança, piano, inglês, ginástica e -ufa!- medita duas vezes por dia para relaxar

Jorge Araújo/Folha Imagem
Deuza Goldman em seu apartamento, em Higienópolis

Faltam duas horas para que o helicóptero do governo de São Paulo levante voo levando Deuzeni Goldman, a Deuza, pelos céus da cidade rumo a sua mais nova missão: estar ao lado do marido no cargo de primeira-dama de São Paulo.

 


Sua antecessora, Monica Serra, é morena. Deuza é loira. Monica é tímida; Deuza, exuberante. A mulher continuou morando em sua casa, em Pinheiros, e Serra foi sozinho para o Palácio dos Bandeirantes. Já Deuza e Alberto Goldman, que assume o governo na terça, são "grudados. A gente ainda namora no cinema". "São 32 anos de casados, acredita? Nem eu acredito que estou há tanto tempo com esse meu maridinho."

 


Deuza se senta à mesa para o almoço em seu apartamento, em Higienópolis. "Então, eu tava te falando... eu tava numa fase bem mãezona. Faz cinco anos que tô aposentada [é ex-decoradora], pra curtir a vida, os filhos. Faço dança de salão, piano, inglês, tenho professora de ginástica três vezes por semana. Sempre fiz mil coisas. Vou ter que me reorganizar."

 


Ela interrompe: "Paula... tá aparecendo a alça do sutiã vermelho, filha." Aos 31 anos, a jovem, que veio de Londres, onde mora, se arruma para ir com a mãe à cerimônia, no Bandeirantes, em que Serra se despedirá do governo. "Sou virginiana, perfeccionista", diz Deuza.

 


Ela cataloga as fotografias de família por assuntos ("Eu e Meu Amor", "Amigas", "Crianças"), datas "e até o nome da rua em que a gente estava", diz Paula. Divide as roupas em armários por décadas: anos 70, 80 e 90. O Le Lis Blanc de seda que veste para a despedida de Serra "tem cinco anos", diz. A bolsa, Dior, "mais de 20. Tenho várias. Comprei quando não custavam essa fortuna". "Ela tem um brechó em casa", afirma Paula. E escolhe as roupas que o marido usa.

 


Deuza derruba suco de uva na mesa. "Nervosa? Não, eu estou até calma! Eu agora faço meditação duas vezes por dia." Quem ensinou a ela a técnica foi o enteado, André. "Cada sessão tem 20 minutos." Olhos fechados, Deuza passa as mãos em várias partes do corpo enquanto explica: "Você pensa nos cabelos, relaxa. Pensa nas orelhas, relaxa. No dorso... até que não percebe mais o corpo. Aí, pensa numa paisagem bonita e "fica" lá. Tem gente que até levita!". Deuza não chega a tanto. Mas está "mais relaxada".

 


Ela conta que está escrevendo um livro. "Eu tenho muita coisa pra contar, né? São 32 anos [com o marido]. Vai se chamar "História e Estórias", e o subtítulo é... ai, gente, é tão pitoresco... mas não consigo me lembrar!". E Paula: "Cê já escreveu muita coisa? Queima esse livro, mãe!". Por quê? "Ah, sei lá, agora tem campanha eleitoral... vai ter espião petista em tudo quanto é lugar."

 


Nascida em Tupã, interior de SP, ela é a mais velha de três irmãos. A mãe , Deuza, e o pai, Zenite, juntaram os nomes e a chamaram Deuzeni. Depois de fazer o clássico e o magistério, Deuza se mudou para a capital. Tinha 18 anos.

 


Em 1972, aos 20, conheceu Goldman. Ele tinha 34, já era deputado e sócio de uma construtora. "Eu era secretária da secretária dele", diz Deuza. "Ele já tinha, assim, um casamento bem falido, né?". E os dois começaram a namorar. "Ficamos seis anos nesse chove, não molha." Até que Goldman decidiu se separar. "Ele sempre disse pra mim que eu nunca fui a causa, e sim a consequência [da separação da primeira mulher, Sara]."
Mas Deuza continuava "naquela indecisão." "Eu era uma menina superjovem, tinha um monte de paqueras que me assediavam. Ele era mais velho, já tinha três filhos (Cláudio, Marcelo e André), era político, judeu. Tinha tudo para dar errado." "E ainda quebrou!", diz Paula. Deuza explica: "Quando a gente se casou, ele fechou a construtora. Eu era secretária, fazia o Imposto de Renda dele, sabia de tudo o que tinha. Nunca me impressionei. Eu sempre brinco que conheci o Alberto rico e casei com ele pobre."

 


Deuza interrompe a conversa, preocupada com perguntas pessoais: "Como sou loira, tenho cabelão, as pessoas acham que eu sou uma dondoca, um nada. E eu não sou isso". A cunhada Antonieta Spargoli, a Toty, diz: "A Deuza não tem culpa de ser alta, magra e loira". Fez apenas uma plástica, suave, no rosto, há muitos anos.

 


A primeira-dama explica que tem "um lado intelectual muito forte." Assina várias revistas (além das semanais de informação, "Casa Claudia" e "Vogue") e está lendo "três livros ao mesmo tempo" -um deles, "Os Homens que Não Amavam as Mulheres", do sueco Stieg Larsson. Gostou "demais" da biografia de Hillary Clinton -em especial quando ela conta que perdoou as traições do marido, Bill Clinton, "por amor".

 


"Tenho aversão. Mas não quero falar sobre isso", diz Deuza quando questionada sobre o governo Lula. "O Serra não gosta", explica. "Falo o que penso", mas, na posição em que está, precisa "ser cuidadosa". Sobre primeiras-damas, diz apenas que "a Ruth Cardoso, sim, foi um modelo. Discreta, atuante, eficiente".

 


Crítica de programas como o Bolsa Família, ela diz acreditar que os projetos do Fundo de Solidariedade, que comandará, têm outro caráter. "O Bolsa Família dá dinheiro mensal para a pessoa se acomodar. A campanha do agasalho é emergencial, para a pessoa não passar frio."

 


Depois da despedida de Serra, Deuza volta para Higienópolis, onde o casal continuará morando mesmo depois da posse. No carro, fala dos planos. "Mil amigas já estão me ligando." São mulheres de deputados, de secretários, que "querem ajudar e não sabem como. Vou mobilizar todo esse pessoal". Seu principal projeto é revitalizar o parque da Água Branca, onde fica a sede do Fundo. Ela quer incrementar o paisagismo e catalogar todas as árvores, colocando placas para que as crianças possam identificá-las. "O parque tem história, meus filhos iam lá quando eram pequenos", diz.

 


Já em casa, Deuza se prepara para jantar fora com o marido e os dois filhos do casal, Paula e Flávio. Se deixarem, o governador só vai a restaurantes como a pizzaria Speranza, no Bixiga, e o Filé do Moraes. Mas, em casa, quem manda é a primeira-dama. Ou melhor, "toda a família manda nele", segundo Paula. Deuza considera que os três filhos mais velhos e as três netas de Goldman, "na realidade, são meus também, entendeu?".

 


A família agora tem várias coisas para resolver. Um dos filhos de Goldman, por exemplo, vendeu o carro "para não poluir o mundo". E, embora a lei determine, não quer andar de ônibus com um segurança na cola.

 


O celular toca. É um dos enteados, André. "Que pena que você não veio com a gente [na despedida de Serra], meu amor!", diz Deuza. Na posse, na terça, afirma ela, ninguém pode faltar. "O papai quer todo mundo lá. Vem aqui que eu boto uma gravata em você."


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