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"A MARCA DA MALDADE"
Do texto ao filme, Welles muda tudo
FERNANDO MORGADO
especial para a Folha
Escritor que vende seu livro para
Hollywood costuma passar por três
experiências: a satisfação, pela fortuna que recebeu, a decepção, pelo
resultado na tela, e a vingança, pela mesma indignação do diretor
porque o estúdio mutilou ainda
mais o filme. No caso de Whit
Masterson, é tudo isso junto e
mais alguma coisa.
Para começar, ele não é um,
mas dois autores de livros policiais, Robert Wade e Bill Miller,
ambos nascidos em 1920, o segundo falecido em 61. Usando o
pseudônimo Whit Masterson,
eles estão entre os favoritos do cinema americano, que já usou
quatro de seus romances, típicos
representantes do chamado gênero "noir".
Na tela, os resultados foram
pouco mais que medianos: "Um
Grito na Noite" ("A Cry in the
Night"), em 1956, "O Agente 711
Pede Socorro" ("The Warning
Shot"), de 1967, e "A Outra Morte
Minha" ("The Death of Me Yet"),
de 1971.
O que poderia ter sido o canto
de cisne, o momento de glória de
Masterson, foi "A Marca da Maldade", escrito em 1956, e que dois
anos depois ganharia uma adaptação para o cinema, feita por ninguém menos que Orson Welles,
que mudou o nome para "Touch
of Evil", no Brasil batizado de "A
Marca da Maldade". A glória ficou pela metade, por um simples
motivo: o filme nada tem a ver
com o livro. Welles exagerou, ainda bem que foi Welles, pois o filme, embora pessoalmente o considere superestimado, é muito,
muito superior ao livro.
Mas os fãs dos romances policiais não vão se decepcionar com
"A Marca da Maldade", o livro,
até então inédito entre nós e que
acaba de ser lançado pela editora
Record. Mas quem ousar comparar os dois vai se arrepender, mais
ainda se procurar semelhança entre eles. Não existe nada, ou quase
nada.
O que chama a atenção é a incrível imaginação e criatividade de
Orson Welles, que do pouco tirou
tudo, do mínimo, o máximo possível e de uma história comum,
bem-comportada (e bem narrada), fez algo superior. A capa do
livro, por sinal, nada criativa, é
enganadora, força inexistente semelhança, com ilustrações fraquinhas de Charlton Heston, astro
do filme, do Hank, de Welles.
Mas, voltando ao começo, não
se sabe qual foi a reação de Whit
Masterson ao ver seu livro virado
de pernas para o ar na tela, nem
quanto ganhou por isso. Mas é
provável que endossaria o clássico e memorável desabafo de um
anônimo e sofrido escritor e argumentista de Hollywood: "Eles arruinam suas histórias, massacram suas idéias, prostituem sua
arte e esmagam seu orgulho. E o
que você ganha com isso? Uma
fortuna".
Avaliação:
Livro: A Marca da Maldade
Autor: Whit Masterson
Tradutor: Luis Antonio Aguiar
Editora: Record
Quanto: R$ 30 (252 págs.)
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