São Paulo, quinta-feira, 04 de maio de 2000


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"A MARCA DA MALDADE"

Do texto ao filme, Welles muda tudo

FERNANDO MORGADO
especial para a Folha

Escritor que vende seu livro para Hollywood costuma passar por três experiências: a satisfação, pela fortuna que recebeu, a decepção, pelo resultado na tela, e a vingança, pela mesma indignação do diretor porque o estúdio mutilou ainda mais o filme. No caso de Whit Masterson, é tudo isso junto e mais alguma coisa.
Para começar, ele não é um, mas dois autores de livros policiais, Robert Wade e Bill Miller, ambos nascidos em 1920, o segundo falecido em 61. Usando o pseudônimo Whit Masterson, eles estão entre os favoritos do cinema americano, que já usou quatro de seus romances, típicos representantes do chamado gênero "noir".
Na tela, os resultados foram pouco mais que medianos: "Um Grito na Noite" ("A Cry in the Night"), em 1956, "O Agente 711 Pede Socorro" ("The Warning Shot"), de 1967, e "A Outra Morte Minha" ("The Death of Me Yet"), de 1971.
O que poderia ter sido o canto de cisne, o momento de glória de Masterson, foi "A Marca da Maldade", escrito em 1956, e que dois anos depois ganharia uma adaptação para o cinema, feita por ninguém menos que Orson Welles, que mudou o nome para "Touch of Evil", no Brasil batizado de "A Marca da Maldade". A glória ficou pela metade, por um simples motivo: o filme nada tem a ver com o livro. Welles exagerou, ainda bem que foi Welles, pois o filme, embora pessoalmente o considere superestimado, é muito, muito superior ao livro.
Mas os fãs dos romances policiais não vão se decepcionar com "A Marca da Maldade", o livro, até então inédito entre nós e que acaba de ser lançado pela editora Record. Mas quem ousar comparar os dois vai se arrepender, mais ainda se procurar semelhança entre eles. Não existe nada, ou quase nada.
O que chama a atenção é a incrível imaginação e criatividade de Orson Welles, que do pouco tirou tudo, do mínimo, o máximo possível e de uma história comum, bem-comportada (e bem narrada), fez algo superior. A capa do livro, por sinal, nada criativa, é enganadora, força inexistente semelhança, com ilustrações fraquinhas de Charlton Heston, astro do filme, do Hank, de Welles.
Mas, voltando ao começo, não se sabe qual foi a reação de Whit Masterson ao ver seu livro virado de pernas para o ar na tela, nem quanto ganhou por isso. Mas é provável que endossaria o clássico e memorável desabafo de um anônimo e sofrido escritor e argumentista de Hollywood: "Eles arruinam suas histórias, massacram suas idéias, prostituem sua arte e esmagam seu orgulho. E o que você ganha com isso? Uma fortuna".


Avaliação:   

Livro: A Marca da Maldade
Autor: Whit Masterson
Tradutor: Luis Antonio Aguiar
Editora: Record
Quanto: R$ 30 (252 págs.)


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