MILLY LACOMBE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES

Eles escandalizaram Hollywood com "Debi & Lóide" ("Dumb and Dumber", 1994) e, mais tarde, provaram que não eram homens de um sucesso só dando vida a "Quem Vai Ficar com Mary?".
Mesmo depois de fracassarem com "Eu, Eu Mesmo & Irene" (Me, Myself & Irene, 2000), os irmãos Farrelly, Peter e Bobby, que normalmente escrevem, dirigem e produzem seus filmes, ainda são considerados craques em um gênero cinematográfico que parece estar em alta, o da comédia nojenta -aquela que, antes de fazer rir, faz você arregalar os olhos.
Em "Diga que Não É Verdade" -a história de um rapaz que pensa estar apaixonado pela irmã-, eles vão mais longe e reconhecem a existência de uma "escola Farrelly" (o roteiro foi escrito por J.B Rogers, que há anos trabalha como assistente de direção dos irmãos).
"Ficamos boquiabertos quando J.B nos mostrou o script, parecia coisa nossa. Na hora decidimos produzi-lo", disse Bobby, à Folha, em Los Angeles.
"Por outro lado, sabemos que esse tipo de comédia vai ficar cansativa, temos que mudar rapidamente."

"Shallow Hal"
Antes de mudar, entretanto, eles se preparam para nos mostrar uma Gwyneth Paltrow 50 quilos mais gorda ("computadorizadamente" mais gorda -relaxe, relaxe).
Trata-se de "Shallow Hal", um filme que chegará às telas em 2002. Mas alterar o rumo não será difícil para esses irmãos que, depois de se formarem em contabilidade (Peter) e geologia (Bobby), chegaram a Los Angeles, Califórnia, em 1985, armados de uma brilhante idéia.
"Viemos vender a primeira toalha redonda do mundo, uma tolha de praia que você não precisava trocar de posição com o movimento do sol."
Enquanto tentavam comercializar o arrojado conceito, escreviam roteiros nas horas vagas. Até que, depois de emplacarem alguns episódios de "Seinfeld" (seriado de comédia para televisão), tiveram a idéia para o filme "Débi & Lóide".
"Nesse tipo de filme", diz Bobby, explicando como se dar bem com comédias nojentas, "é necessário criar um personagem que seja bobo, mas com quem simpatizemos", afirma, completando que o fracasso de "Eu, Eu Mesmo & Irene" foi decorrente da falta disso. "Perdemos o balanço e o charme, esquecemos nossa regra mais básica."
"O limite? É não tirar sarro de pessoas reais, como Chelsea Clinton, por exemplo, e não mostrar sangue na tela. No mais, vale tudo." Mesmo assim, eles testam seus filmes pelo menos dez vezes antes da edição final. "Sabemos que esse é um tipo de comédia que vai fazer quatro pessoas rirem e uma sair da sala. Se uma rir e quatro saírem da sala, temos que mudar", comentou o diretor Bobby Farrelly.
O estilo dos Farrelly faz sentido se levarmos em conta a forma como eles foram educados. "Todas as noites, meu pai nos obrigava a contar uma história divertida. Ríamos até de tragédias, porque esse é o caminho mais curto para superar a dor."
Sabendo disso fica fácil entender porque as três irmãs de Bobby e Peter estão trabalhando juntas em um roteiro. "Vocês acham que somos ousados? Pois preparem-se para as irmãs Farrelly", alerta o único homem que tem uma toalha redonda no mundo.