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LIVRO/LANÇAMENTO
"Q - O CAÇADOR DE HEREGES"
Roberto Bui, do Luther Blissett, nega que projeto tenha sido inventado por escritor italiano
"Não assistimos às aulas de Umberto Eco"
DA REDAÇÃO
Leia a seguir entrevista com o
italiano Roberto Bui, co-autor de
"Q - O Caçador de Hereges". Por
exigência dele, todas as respostas
serão dadas em nome do coletivo
Wu-Ming.
(DIEGO ASSIS)
Folha - "Q" tem um ritmo bastante fluido, uma mudança constante
de personagens e cenários. Quais
foram suas influências?
Wu-Ming - Primeiramente os livros de James Ellroy, cujas construções foram praticamente plagiadas em "Q". Depois, autores latino-americanos como Paco Ignacio Taibo 2º e Daniel Chavarria.
Folha - Uma das condições para
publicar seus livros é a impressão
de uma advertência contrária aos
direitos autorais. Como impor isso
a grandes editoras?
Wu-Ming - A lógica do copyright tem de ser desafiada onde
ela existir, na barriga da besta.
Não faria sentido, político ou cultural, adotarmos uma prática
marginal para os "poucos privilegiados" do underground esnobe.
De qualquer forma, mantemos
uma clara distinção entre os royalties -isto é, nosso percentual
sobre cada edição vendida- e o
direito do leitor de reproduzir a
obra. Você pode scannear, digitar
e colocar em seu site para outras
pessoas baixarem de graça. Isso é
possível até em nosso site. Mas, se
você fizer as pessoas pagarem por
isso, aí, sim, vamos processá-lo.
Folha - Como foi escrever esse romance a quatro mãos?
Wu-Ming - Teria levado dez anos
para cada um de nós fazermos toda a pesquisa histórica necessária
para escrever algo como "Q". Em
grupo, levou três anos.
Folha - Qual a relação desse processo com o conceito de linguagem
tamariana, do seriado "Star Trek"?
Wu-Ming - Os tamarianos se comunicam por meio de narrativas,
de histórias compactas, de parábolas, em suma, de mitos. Construção de mitos, eis o que temos
feito desde o início dos anos 90.
Folha - Existe alguma diferença
entre os personagens "reais" e os
"míticos" em "Q"?
Wu-Ming - Todos os nomes que
você leu podem ser encontrados
nas crônicas originais da época.
Folha - É possível traçar uma
fronteira entre ficção e realidade
no romance?
Wu-Ming - De jeito nenhum.
Folha - Luther Blissett, Harry Kipper, Wu-Ming. Qual é a importância
de um nome?
Wu-Ming - Ninguém sabe realmente o que é um nome.
Folha - Por que vocês se escondem atrás de uma identidade múltipla? Tem certeza de que não é o
Umberto Eco?
Wu-Ming - Não nos escondemos.
Já falamos em público uma centena de vezes. Só não permitimos
câmeras no recinto. Simplesmente não somos palhaços. Um certo
Andrea Ridolfi redigiu um panfleto, em 1997, relacionando Luther
Blissett a uma criatura de grupos
judaico-maçônicos, anti-Cristo,
antieuropeus etc. De acordo com
ele, uma leitura detalhada (isto é,
paranóica) dos trabalhos de Eco
seria suficiente para perceber que
foi Eco quem inventou Blissett,
uma espécie de Frankenstein saído do departamento de semiologia. Na verdade, nenhum de nós
Luther Blissett baseados em Bolonha assistimos às aulas dele.
Folha - Até que ponto ações promovidas na internet podem afetar
eventos exteriores?
Wu-Ming - Afetam muito. O novo movimento global anticapitalista, nascido das manifestações
de Seattle em 1999, não teria sido
possível sem a internet.
Q - O CAÇADOR DE HEREGES. Autor:
Luther Blissett. Lançamento: Conrad
Editora. Quanto: R$ 55 (598 págs.).
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