São Paulo, domingo, 04 de maio de 2008

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"Agosto" mistura ficção e realidade

"Coleção Folha" traz livro de Rubem Fonseca às bancas no próximo domingo

"Agosto", publicado pela primeira vez em 1990, é um dos livros mais famosos do escritor e ganhou versão para a televisão anos depois


DA REPORTAGEM LOCAL

"A História, disse Dedalus, é um pesadelo do qual procuro acordar." Esta frase do clássico romance "Ulysses", do escritor irlandês James Joyce, foi escolhida por Rubem Fonseca como uma das epígrafes do livro "Agosto", o 13º volume da "Coleção Folha Grandes Escritores Brasileiros".
A frase constitui um comentário perfeito para o romance de Fonseca, cujo enredo se desenrola em agosto de 1954 e mistura ficção à realidade ao narrar os fatos que levaram ao suicídio do presidente Getúlio Vargas, no dia 24 daquele mês.
Gregório Fortunato, o chefe da guarda pessoal do presidente que planejou um atentado contra o adversário político Carlos Lacerda, além do próprio Lacerda e de Vargas, são alguns dos muitos personagens reais que circulam pela trama eficiente, em que ainda se vêem bicheiros, empresários, macumbeiros, políticos, policiais, dondocas -e em que a corrupção e a violência são a norma.
Nesse ambiente cediço, o honesto comissário de polícia Alberto Mattos está às voltas com outro crime: o do assassinato de um milionário envolvido em negociatas. As poucas pistas deixadas no local, entre elas um anel de ouro encontrado no box do banheiro, levam Mattos a crer que o assassino seja Fortunato, apelidado de Anjo Negro.
Mas outros acontecimentos vão mostrar ao comissário que a situação é bem mais complexa, e que os acontecimentos das esferas pública e privada se acham emaranhados de modo perversamente estreito.
Se Vargas, como ele escreveu em sua carta-testamento, queria sair da vida "para entrar na História", Mattos, no melhor estilo do thriller noir, quer desesperadamente escapar das forças históricas que o oprimem, para poder viver.
"Agosto", publicado originalmente em 1990, é um dos livros mais famosos de Fonseca e ganhou versão para a televisão três anos depois. A minissérie, dirigida por Paulo José, contou com elenco formado por José Mayer, Vera Fischer, José Wilker e Tony Tornado, entre outros atores.
Nascido em 1925 em Juiz de Fora (MG), mas desde cedo residente no Rio, Fonseca é uma figura arredia, que evita a imprensa. Foi comissário de polícia, tendo exercido principalmente funções burocráticas. Na década de 1950, recebeu uma bolsa para os Estados Unidos, onde estudou administração de empresas.
Estreou com a coletânea "Os Prisioneiros", em 1963. Entre seus livros de destaque estão "A Coleira de Cão" (contos, 1965), "O Cobrador" (contos, 1979) e "A Grande Arte" (romance, 1983, filmado por Walter Salles com roteiro do autor). Pelo conjunto de suas obras, traduzidas para diversas línguas, Fonseca ganhou o prêmio Camões e o prêmio de literatura latino-americana e do Caribe Juan Rulfo.
Como o poeta americano de origem soviética Joseph Brodsky, Fonseca diz acreditar que a verdadeira biografia de um escritor está em seus livros.


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