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"Agosto" mistura ficção e realidade
"Coleção Folha" traz livro de Rubem Fonseca às bancas no próximo domingo
"Agosto", publicado pela primeira vez em 1990, é um dos livros mais famosos do escritor e ganhou versão para a televisão anos depois
DA REPORTAGEM LOCAL
"A História, disse Dedalus, é
um pesadelo do qual procuro
acordar." Esta frase do clássico
romance "Ulysses", do escritor
irlandês James Joyce, foi escolhida por Rubem Fonseca como uma das epígrafes do livro
"Agosto", o 13º volume da "Coleção Folha Grandes Escritores
Brasileiros".
A frase constitui um comentário perfeito para o romance
de Fonseca, cujo enredo se desenrola em agosto de 1954 e
mistura ficção à realidade ao
narrar os fatos que levaram ao
suicídio do presidente Getúlio
Vargas, no dia 24 daquele mês.
Gregório Fortunato, o chefe
da guarda pessoal do presidente que planejou um atentado
contra o adversário político
Carlos Lacerda, além do próprio Lacerda e de Vargas, são
alguns dos muitos personagens
reais que circulam pela trama
eficiente, em que ainda se vêem
bicheiros, empresários, macumbeiros, políticos, policiais,
dondocas -e em que a corrupção e a violência são a norma.
Nesse ambiente cediço, o honesto comissário de polícia Alberto Mattos está às voltas com
outro crime: o do assassinato
de um milionário envolvido em
negociatas. As poucas pistas
deixadas no local, entre elas um
anel de ouro encontrado no box
do banheiro, levam Mattos a
crer que o assassino seja Fortunato, apelidado de Anjo Negro.
Mas outros acontecimentos
vão mostrar ao comissário que
a situação é bem mais complexa, e que os acontecimentos das
esferas pública e privada se
acham emaranhados de modo
perversamente estreito.
Se Vargas, como ele escreveu
em sua carta-testamento, queria sair da vida "para entrar na
História", Mattos, no melhor
estilo do thriller noir, quer desesperadamente escapar das
forças históricas que o oprimem, para poder viver.
"Agosto", publicado originalmente em 1990, é um dos livros
mais famosos de Fonseca e ganhou versão para a televisão
três anos depois. A minissérie,
dirigida por Paulo José, contou
com elenco formado por José
Mayer, Vera Fischer, José Wilker e Tony Tornado, entre outros atores.
Nascido em 1925 em Juiz de
Fora (MG), mas desde cedo residente no Rio, Fonseca é uma
figura arredia, que evita a imprensa. Foi comissário de polícia, tendo exercido principalmente funções burocráticas.
Na década de 1950, recebeu
uma bolsa para os Estados Unidos, onde estudou administração de empresas.
Estreou com a coletânea "Os
Prisioneiros", em 1963. Entre
seus livros de destaque estão "A
Coleira de Cão" (contos, 1965),
"O Cobrador" (contos, 1979) e
"A Grande Arte" (romance,
1983, filmado por Walter Salles
com roteiro do autor). Pelo
conjunto de suas obras, traduzidas para diversas línguas,
Fonseca ganhou o prêmio Camões e o prêmio de literatura
latino-americana e do Caribe
Juan Rulfo.
Como o poeta americano de
origem soviética Joseph
Brodsky, Fonseca diz acreditar
que a verdadeira biografia de
um escritor está em seus livros.
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