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Começa o festim
NINA HORTA
especial para a Folha
Fui ao Aurélio e achei: "Simpósio. 1 - Na Grécia antiga, a segunda
parte dum banquete ou festim,
durante o qual os convidados bebiam, entregando-se a diversos jogos. 2 - Banquete, festim. 3 - Reunião de cientistas, técnicos, escritores, artistas para discutir determinado(s) tema(s)".
Pois é isso. Está na hora do simpósio Boa Mesa, do Josimar Melo,
durante o qual nós, os convidados
(pagantes), vamos nos entregar a
folguedos diversos. Com Mari Hirata, que dança seus bolos e massas como se tivesse fermento no
corpo. Mimetiza com as mãos expressivas nuvens de farinha, fios
de calda, asperezas de açúcar,
agrumes de limão.
Nada mau conhecer Patricia
Wells, americana inteligente, interessante e interessada que se apaixonou pela França e nos conta este
caso de amor em livros fáceis, coloquiais e informativos. Gosto dela. Às vezes repete o que todo
mundo já sabe, mas sempre sob
um prisma diferente.
Outro companheiro de pagode é
Philipe Givre, que vem direto de
Paris, 28, Place de la Madeleine.
Fauchon, desde 1986. Ele cheira a
chocolates em barra perfumados
de anis, pimenta e lavanda. Geléias
de manga e cereja, sorvetes de nata
e canela, pães de leite, croissants e
brioches amanteigados, tortas e
bolos confeitados. Duas vezes por
ano, a Fauchon cria "coleções"
de doces, como os designers de
roupas. É o prêt-à-manger. Quem
sucumbe à tentação de um doce da
Fauchon corre o risco de escrever
17 volumes de memórias, como
Proust. É o que a loja quer. Que se
recriem os sabores da infância.
Segundo o verbete temos também o banquete, o festim. Estão
nos tentando com uma festa surpresa nos restaurantes do átrio, no
Dia das Mães. Filhos ingratos, folga às mães no dia delas.
Vamos todos em charola fazer
farra na grande cozinha que é o
Boa Mesa. Um simpósio de comida é o "focus", o centro. Espaço
de conversa e de leitura. Tem fogões de carne assada, molhos de
ferrugem, suflês de queijo, batatas
cremosas. Podemos botar a mão
na massa, lamber os dedos, encontrar amigos, fazer a alma feliz.
Há possibilidades civilizatórias
como amostras de caviar, champanhe, gordo foie gras.
Há cinco anos escrevi na Folha
que não podia esperar o dia em
que se fizesse uma reunião de historiadores, nutricionistas, sociólogos, botânicos, cozinheiros, publicitários, artistas, para discutir
temas de comida.
E não é que o Boa Mesa chegou e
pegou? Que não se iludam os participantes. Num simpósio onde se
come, se bebe e se brinca, ninguém aprende só o bolo definitivo, o churrasco único dos pampas.
A função primordial desta reunião
é mostrar caminhos, abrir horizontes, informar a reflexão e principalmente celebrar a vida.
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