São Paulo, segunda, 4 de maio de 1998

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Começa o festim

NINA HORTA
especial para a Folha

Fui ao Aurélio e achei: "Simpósio. 1 - Na Grécia antiga, a segunda parte dum banquete ou festim, durante o qual os convidados bebiam, entregando-se a diversos jogos. 2 - Banquete, festim. 3 - Reunião de cientistas, técnicos, escritores, artistas para discutir determinado(s) tema(s)".
Pois é isso. Está na hora do simpósio Boa Mesa, do Josimar Melo, durante o qual nós, os convidados (pagantes), vamos nos entregar a folguedos diversos. Com Mari Hirata, que dança seus bolos e massas como se tivesse fermento no corpo. Mimetiza com as mãos expressivas nuvens de farinha, fios de calda, asperezas de açúcar, agrumes de limão.
Nada mau conhecer Patricia Wells, americana inteligente, interessante e interessada que se apaixonou pela França e nos conta este caso de amor em livros fáceis, coloquiais e informativos. Gosto dela. Às vezes repete o que todo mundo já sabe, mas sempre sob um prisma diferente.
Outro companheiro de pagode é Philipe Givre, que vem direto de Paris, 28, Place de la Madeleine. Fauchon, desde 1986. Ele cheira a chocolates em barra perfumados de anis, pimenta e lavanda. Geléias de manga e cereja, sorvetes de nata e canela, pães de leite, croissants e brioches amanteigados, tortas e bolos confeitados. Duas vezes por ano, a Fauchon cria "coleções" de doces, como os designers de roupas. É o prêt-à-manger. Quem sucumbe à tentação de um doce da Fauchon corre o risco de escrever 17 volumes de memórias, como Proust. É o que a loja quer. Que se recriem os sabores da infância.
Segundo o verbete temos também o banquete, o festim. Estão nos tentando com uma festa surpresa nos restaurantes do átrio, no Dia das Mães. Filhos ingratos, folga às mães no dia delas.
Vamos todos em charola fazer farra na grande cozinha que é o Boa Mesa. Um simpósio de comida é o "focus", o centro. Espaço de conversa e de leitura. Tem fogões de carne assada, molhos de ferrugem, suflês de queijo, batatas cremosas. Podemos botar a mão na massa, lamber os dedos, encontrar amigos, fazer a alma feliz. Há possibilidades civilizatórias como amostras de caviar, champanhe, gordo foie gras.
Há cinco anos escrevi na Folha que não podia esperar o dia em que se fizesse uma reunião de historiadores, nutricionistas, sociólogos, botânicos, cozinheiros, publicitários, artistas, para discutir temas de comida.
E não é que o Boa Mesa chegou e pegou? Que não se iludam os participantes. Num simpósio onde se come, se bebe e se brinca, ninguém aprende só o bolo definitivo, o churrasco único dos pampas. A função primordial desta reunião é mostrar caminhos, abrir horizontes, informar a reflexão e principalmente celebrar a vida.



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