São Paulo, sexta-feira, 04 de junho de 2004

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CINEMA/ESTRÉIA

Terceiro capítulo da cinessérie baseada na saga de J.K. Rowling tem trama mais sombria e apimentada

Nas mãos de Cuarón, Harry cresce e melhora

SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL

Começa com a cena do garoto brincando escondido com sua varinha debaixo das cobertas, interrompido pelo tio xereta. A cena, dúbia de propósito, define o terceiro capítulo da cinessérie baseada na saga do bruxo mais famoso da literatura atual.
Por isso, por ser uma aventura adolescente, mais do que infantil, "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban" é o melhor dos três. O outro motivo atende pelo nome de Alfonso Cuarón. O diretor de "E Sua Mãe Também" (2001) foi o responsável por apimentar um pouco a trama, deixando-a palatável também a pais e irmãos mais velhos da garotada que é o público-alvo primeiro dos livros.
Um pouco, porque a margem de manobra à disposição do mexicano de 42 anos não era grande, pelo tamanho do projeto, o dinheiro envolvido e o tanto de pessoas com poder de decisão que ele teve de responder, da escritora J.K. Rowling ao pessoal da Warner, passando pelo diretor norte-americano Chris Columbus, que dirigiu os dois primeiros, assina como produtor neste e se sente um pouco dono da série.
Ao colocar seu "OK" no contrato, Cuarón teve de engolir inclusive uma cláusula segundo a qual se comprometia a não falar palavrões na frente do trio de atores (o que ele compensou ensinando bobagens em espanhol a eles).
O mexicano, escolhido pelo estúdio mais por ter dirigido a fábula "A Princesinha" ("The Little Princess", 1995) do que por "E Sua Mãe" (o produtor médio de Hollywood não assiste a filme com legenda), foi sábio.
Deixou o filme mais sombrio e não procurou ser literal, abandonando subtramas do livro que se perderiam na tela. Sua Hogwarts parece menos uma Disneylândia da magia, como nos outros, e mais o castelo do conde Drácula.
Com a fuga do tal prisioneiro, Sirius Black, que teria ajudado na morte dos pais de Harry Potter e agora vai atrás do próprio, a escola de bruxaria é guardada pelos Dementadores, espécie de marines do além, seres que sugam a alegria de viver das pessoas.
Mesmo os professores são mais dúbios, ainda que no final (alguns) se revelem amigos. Aí se destacam Emma Thompson, hilariante como a mestra de clarividência, David Thewlis (o novo personagem professor Lupin) e o sempre ótimo Robbie Coltrane, como o grandalhão Rubeus Hagrid, que agora é promovido.
E a estrela da nova adaptação, Gary Oldman, na pele de Sirius Black, o tal prisioneiro de Azkaban, impecável -aliás, até o final dessa cinessérie não sobrará grande ator britânico que não tenha participado, a começar por Richard Harris (1930-2002), o professor Dumbledore original, aqui substituído por Michael Gambon.
Já o trio de atores principais continua fazendo o que literalmente cresceu fazendo, interpretações contidas e honestas, mas que podem começar a derrapar conforme a adolescência se instale, principalmente no caso do ruivo Rupert Grint (Ron), caricato demais, e da menina Emma Watson (Hermione), que começa um flerte perigoso com a canastrice.
Aliás, pelos cálculos dos marmanjos, já no próximo filme, "Harry Potter e o Cálice de Fogo", a doce Emma, que terá então 15 anos, vai começar a dar trabalho.


Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban
Harry Potter and the Prisoner of Azkaban
   
Produção: EUA, 2004
Direção: Alfonso Cuarón
Com: Daniel Radcliffe, Emma Watson
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Iguatemi e circuito



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