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CONTOS/"RITA RITINHA RITONA"
Trevisan se desgasta em sua repetição
ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Rita Ritinha Ritona", a nova
obra de Dalton Trevisan, tem
tudo o que um leitor habitual do
autor sempre encontra em seus livros: ironia, concisão, diálogos
apurados, sexo, violência, pobreza, Curitiba. Esse "feroz resumidor de destinos miúdos", como
escreveu Davi Arrigucci Jr., não
faz muita questão de surpreender
ou avançar. Tal repetição, ao mesmo tempo em que consagra um
projeto literário coerente, provoca desgaste. E não dá para negar
que alguns dos textos presentes
neste volume parecem exercícios
de estilo, rascunhos de um mesmo conto atemporal que ele poderia ter escrito em um instante
qualquer de sua longa carreira.
Mas existem também os momentos antológicos. A narrativa
inicial, "Maria, Sua Criada", é daquelas que se fixam na memória.
Em menos de 15 páginas, Trevisan monta um prodigioso "romance de formação" miniaturizado, no qual os difíceis acontecimentos da vida da protagonista
são sintetizados de um modo tão
bem concatenado que, ao terminá-lo, o leitor é levado a perder a
noção de quão rápido aquilo foi
apresentado a ele.
Outro ponto que merece destaque é a fixação do escritor em Capitu, de "Dom Casmurro". Como
se sabe, ele é do "time" que não
tem nenhuma dúvida da traição
da moça e considera absurdas as
posições contrárias. A sua originalidade consiste em transfigurar
a polêmica literária em narrativas
como "Capitu Sou Eu" (do livro
homônimo), "Capitu Sem Enigma" (de "Dinorá") ou "O Mestre e
a Aluna" (do novo volume).
Neste conto, uma aluna de letras
vai ao apartamento do orientador
para entregar, no último dia de
seu prazo, uma tese sobre o romance de Machado de Assis. Rapidamente, o professor escancara
suas intenções libidinosas. Ela se
pergunta: "Ai de mim, bem o que
eu temia. O que, na minha vez, faria Capitu? Não se sacrificou ao
marido e senhor para sua ascensão social?". Não é difícil imaginar
que logo a estudante está adorando a sessão ("o vinho na taça roubada é mais doce").
O paralelo entre os dois textos é
mais do que explicitado. Mesmo
quem não defende a idéia da traição ou acredita que o problema é
insolúvel (inseridos em uma das
duas posições, quase todos os colegas de profissão deste personagem tão "atirado"), dificilmente
resiste, assim como a moça, ao jogo de sedução cafajeste ali proposto: "O obelisco impávido colosso ali na minha cara. Dispensa
mandar. Lambo desde as fundações até o supremo capitel". Até
porque, em literatura, a razão é de
outra ordem.
Adriano Schwartz é professor de arte,
literatura e cultura no Brasil da Escola de
Artes, Ciências e Humanidades da USP-Leste e autor de "O Abismo Invertido"
(Globo).
Rita Ritinha Ritona
Autor: Dalton Trevisan
Editora: Record
Quanto: R$ 24,90 (128 págs.)
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