São Paulo, quinta-feira, 04 de junho de 2009

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Dá para expor um Picasso aqui?

Alvo de disputa entre Masp e prefeitura, galeria Prestes Maia tem vazamentos, mofo e ligações elétricas improvisadas

Danilo Verpa/Folha Imagem
Administrador da galeria, Celso Vieira, com balde de goteira

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Alvo de uma disputa de posse entre a prefeitura e o Masp, a galeria Prestes Maia está vazia há pelo menos cinco anos. Em estado de semi-abandono, são 6.000 m2 embaixo da praça do Patriarca, no centro de São Paulo -duas grandes galerias deterioradas por vazamentos e problemas de fiação elétrica, com pisos e paredes de mármore ameaçados pelo mofo.
Era para ser uma extensão do museu da avenida Paulista, com exposições temporárias, cursos e outros eventos. Uma parceria do Masp com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção tentou criar ali uma escola de moda, que também não saiu do papel.
Depois de embargar, no ano passado, obras julgadas irregulares pela defesa do patrimônio histórico, o município agora tenta reaver o imóvel, com planos de instalar ali o acervo da Coleção de Arte da Cidade, com quase 3.000 obras.
No mês passado, a prefeitura conseguiu na Justiça uma liminar para que o Masp desocupe a galeria cedida ao museu por um decreto de 1996, do então prefeito Paulo Maluf. Uma semana depois, o museu contestou a decisão, que agora aguarda um novo julgamento.
Laudos da prefeitura obtidos pela Folha mostram que as obras no local estão paradas desde 2004, embora as infiltrações, apontadas como causa da paralisação, só tenham sido comunicadas pelo Masp à prefeitura em junho de 2007.
Com base nesses laudos, a prefeitura pediu e obteve o embargo das obras feitas pelo museu na galeria, em 2008.
No pedido de reintegração de posse, a prefeitura teve como argumento a violação pelo Masp de pontos do decreto de 1996, como o uso indevido do espaço como depósito e o fato de o museu não ter dado uso público à galeria Prestes Maia, que permaneceu fechada ao longo dos últimos anos.
Entre 2001 e 2004, o Masp chegou a fazer exposições na Prestes Maia, mostrando desde fotografias da Coleção Pirelli até presépios folclóricos e arte gráfica da Croácia.
Também cedeu o espaço para eventos da São Paulo Fashion Week e da Casa de Criadores, lançamento de joias, desfile de sapatos italianos e até uma festa de formatura de policiais militares.
Mas há pelo menos cinco anos quase nada acontece na galeria. Em visita à Prestes Maia, acompanhada por seu administrador Celso Vieira e pela assessoria de imprensa do Masp, a reportagem observou manchas no piso e nas paredes, que estão descascadas e rachadas pelos vazamentos, baldes que coletam água das goteiras e espaços expositivos empregados como depósito de material de construção e itens de promoção institucional do museu.
A última vistoria do Departamento de Patrimônio Histórico, que visitou a galeria em abril deste ano, lista, além do impacto visível dos vazamentos, instalações e ligações elétricas "improvisadas e inadequadas", "ferrugem pela falta de manutenção", forro de gesso "despencando" e "obras inconclusas", entre elas um duto que bloqueia uma passagem.


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