São Paulo, sábado, 04 de junho de 2011
![]() |
![]() |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
CRÍTICA ROMANCE Comércio do ópio ganha tom épico em "Mar de Papoulas" Trama do autor Amitav Ghosh forma um panorama da Índia do século 19 COLABORAÇÃO PARA A FOLHA "Jesus Cristo é o livre-comércio e o livre-comércio é Jesus Cristo." A frase, sucinta e potente, poderia ser a síntese do primeiro volume de uma trilogia que se inicia com "Mar de Papoulas", de Amitav Ghosh, indiano indicado ao Booker Prize. O romance se passa entre a Índia e a China do início do século 19, quando, mesmo após o fim do comércio de escravos, a Inglaterra continuou a transportar trabalhadores em regime de servidão, cujo tratamento em nada os separava da escravidão. Mas os servos hindus a serem transportados para as ilhas Maurício, os "girmityias", não são os únicos e nem os principais objetos de lucro do Império Britânico no Oriente. Como diz o título do romance, tudo gira em torno do cultivo e da comercialização de ópio, motivo financeiro da primeira das guerras do ópio entre a China e a Índia e motivo novelístico deste épico moderno. A bordo do Íbis, antigo navio de transporte de escravos e onde agora embarcam os servos hindus a caminho do inferno, reúne-se uma tripulação cujos personagens representam uma espécie de panorama da Inglaterra e da Índia do século 19. Uma aldeã visionária e religiosa, que escapa de ser cremada no funeral do marido, está na tripulação, além de um mestiço americano que, de tanta habilidade manual, sobe até o segundo posto no comando do navio. Além deles, também faz parte do grupo um inglês evangélico comerciante de ópio, um industrial falido proprietário da embarcação, um hindu ambicioso e sua linda irmã. O quadro histórico minucioso dá conta de mostrar os bastidores de uma fábrica de produção de ópio no interior da Índia (o próprio retrato de um dos círculos do inferno colonial) e a dependência econômica da Inglaterra e dos indivíduos chineses pelo ópio. Além disso, também passa por motins, prisões, sequestros, estupros, relações sensuais e amorosas. A linguagem do romance é mesclada aos dialetos pidgin, crioulo e à terminologia indiana, que, ao final, compõem uma Crestomatia -uma espécie de mapa astral das palavras, escrito por Neel, um dos personagens do romance, para que elas mantivessem o mundo do passado sempre conectado ao presente. Apesar do evidente interesse histórico e antropológico do romance, e da estrutura romanesca carregada de ação e suspense, que prende a atenção contínua do leitor, a linguagem em nada surpreende, atendo-se a conhecidos clichês de tensão e distensão narrativos. Romance bem escrito, de interesse informativo, mas mais dirigido a quem se interessa somente pelo conteúdo e não tanto pela linguagem. (NOEMI JAFFE) MAR DE PAPOULAS AUTOR Amitav Ghosh EDITORA Alfaguara TRADUÇÃO Cássio de Arantes Leite QUANTO R$ 59,90 (536 págs.) AVALIAÇÃO bom Texto Anterior: Painel das Letras - Josélia Aguiar: Para ter mais leitores Próximo Texto: Livros: Ficção Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |