São Paulo, Sexta-feira, 04 de Junho de 1999
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Bienal de Veneza chega sem rugas e aposta na surpresa


O curador Harald Szeemann fala da "rejuvenescida" mostra, que começa na quarta, com os brasileiros Iran do Espírito Santo, Nelson Leirner e Maurício Dias


CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

A partir da próxima quarta-feira, o refrão "que c'est triste Venice" ("como é triste Veneza"), eternizado pelo francês Charles Aznavour, perde seu sentido. É nesse dia que se inaugura, para convidados, a 48ª edição da Bienal de Veneza, o mais importante evento cultural da cidade. A abertura para o público acontece no sábado, dia 12.
Curada por Harald Szeemann (leia-se Zéman), o evento é uma incógnita. Nem seu curador consegue defini-la com clareza.
As dúvidas se justificam. Szeemann foi chamado às pressas e teve apenas cinco meses para organizar o evento. Aceitou o convite com a garantia de que curaria também a próxima edição, em 2001.
Para esta edição, criou uma mostra genérica ("dAPERTutto"), sem distinção de idade, estilo ou procedência e sem se prender em conceitos, como tem sido em toda a sua carreira.
O Brasil comparece com Iran do Espírito Santo e Nelson Leirner como representantes nacionais e com Maurício Dias (que faz dupla com Walter Riedweg), selecionado pelo próprio curador-geral.
Szeemann concedeu entrevista exclusiva à Folha esta semana. Falou sobre os princípios da mostra e divulgou os vencedores dos Leões de Ouro pela carreira: Louise Bourgeois e Bruce Nauman, curiosamente, dois artistas presentes na última Bienal de São Paulo.

Folha - A edição da Bienal de Veneza deste ano tem um conceito específico para esta edição?
Harald Szeemann -
A mostra geral tem o tema "dAPERTutto" e significa um longo passeio, cheio de surpresas. Esse é o mais belo conceito que existe.
Folha - Mas esse conceito é bastante genérico. Quais critérios você usou para definir esse belo?
Szeemann -
Decidimos fazer uma bienal jovem, já que ela havia se tornado uma velha mamãe, cheia de rugas. Hoje queremos remoçá-la, para que se mostre orgulhosa ao lado de jovens, como Santa Fé e Johannesburgo, já que é a mãe de todas elas.
Existirão sempre questionamentos políticos, mas nenhum tema específico. As mostras temáticas são sempre chatíssimas pois as obras devem ilustrar esse tema.
Folha - Mas, além de estar renovada, a Bienal de Veneza trabalhará conceitos extra-estéticos, como políticos ou econômicos?
Szeemann -
Existem mais artistas chineses que americanos, por exemplo. Isso já é um "statement" político. A bienal discutirá também questões como feminismo, cidades, o papel dos museus de hoje. Estamos até o pescoço com eles. Somos a favor do silêncio.
Folha - Quando a organização desta edição da bienal começou?
Szeemann -
Nós aceitamos o convite quando soubemos que os novos espaços no Arsenale estavam prontos. Tivemos apenas cinco meses para organizar a mostra, mas as representações nacionais já estavam escolhidas, mesmo não sabendo se a Bienal de Veneza seria em 1999 ou 2000.
Folha - A sua seleção privilegia a produção asiática, principalmente chinesa. Você acredita que a arte asiática será uma tendência no início do próximo milênio?
Szeemann -
A arte asiática está começando a se destacar agora e acredito que nos próximos anos essa tendência se confirmará. Tivemos pouco tempo para pesquisar a África, por exemplo, que deverá esperar pela próxima edição.
Folha - Você acredita que a arte italiana contemporânea tem relevância no contexto internacional?
Szeemann -
O problema da arte contemporânea italiana é que ela não possui espaço para experimentação. E isso é sentido na produção. Só se produz o que se mostra nas galerias. Existem poucos espaços abertos. Por isso convidamos 12 artistas, mas também grupos que se ajudam uns aos outros, como o Oreste e o Ora Locale.



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