São Paulo, Sexta-feira, 04 de Junho de 1999
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CINEMA
Lewis volta "limpa" em "Simples como Amar"

CLAUDIO CASTILHO
especial para a Folha, de Los Angeles

Depois de um hiato de três anos longe das câmeras, Juliette Lewis parece estar decidida a retomar de vez sua carreira em Hollywood.
Rumores dão conta de que durante as gravações de seu penúltimo filme, "O Entardecer de uma Estrela", em 1996, a atriz mal conseguia manter-se de pé e formar frases sem produzir sons ininteligíveis por causa da cocaína.
De lá para cá, a imagem da atriz havia ficado apenas na lembrança daqueles que admiraram o trabalho dessa talentosa profissional. Juliette Lewis, ex-namorada de Brad Pitt, desaparecera misteriosamente do circuito cinematográfico dos EUA.
"Eu quase me destrui por completo com as drogas. Foi uma época muito difícil e triste", disse a atriz, conhecida por interpretar papéis de adolescentes neuróticas e sedutoras em produções como "Cabo do Medo", de Martin Scorsese -filme que lhe garantiu uma indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante-, e, mais recentemente, "Assassinos por Natureza", de Oliver Stone, no qual ela viveu uma assassina psicótica.
Hoje, aos 25 anos, Lewis está de volta. Ela afirma ser uma pessoa mais madura, vivendo uma das fases mais felizes de sua vida. Longe do vício, ela esteve internada numa clínica de recuperação de drogados da igreja que frequenta, a Cientologia, e tenta resgatar sua carreira com o filme "Simples como Amar", em que contracena com o ator de "O Resgate do Soldado Ryan" Giovanni Ribisi.
Em "Simples como Amar", do mesmo diretor de "Uma Linda Mulher", Garry Marshall, ela se transforma em Carla, uma jovem que se recupera de uma deficiência mental e luta pela independência e confiança de sua mãe superprotetora, Elizabeth (Diane Keaton).
Durante a entrevista à Folha, além de falar sobre seu mais recente trabalho, que estréia hoje em São Paulo, a atriz não hesitou em comentar sobre assuntos como a dependência às drogas e seu envolvimento com a chamada igreja das celebridades do cinema.

Folha - Foi difícil deixar para trás papéis de jovens neuróticas e sedutoras e interpretar uma personagem diferente, doce e inocente?
Juliette Lewis -
Eu gostaria de esclarecer uma coisa: "Assassinos por Natureza" foi um filme tão forte e pesado que acabou criando uma imagem errada de mim na cabeça de muita gente. De repente passei a ser vista como uma pessoa meio pirada por causa do papel que interpretei nesse filme.
Não vejo minha carreira limitada a papéis desse tipo e o fato de eu ter feito o papel de uma jovem neurótica no cinema não significa que eu seja o espelho dela.
Folha - Alguma identificação com a Carla interpretada por você em "Simples como Amar"?
Lewis -
Claro que sim. Só não me identifico com o fato de ela ter encontrado o grande amor da vida dela e eu não. Admito ter uma certa inveja de Carla por isso. No mais, acho que ela é a personagem que mais me identifiquei. Sempre me senti um pouco diferente das outras pessoas. Achava que as pessoas não me entendiam direito.
Folha - Pode ter sido esse um dos motivos que a levaram ao vício?
Lewis -
Creio que sim. Quando comecei a usar drogas, eu não me sentia bem comigo mesma. Parecia que não merecia toda aquela atenção que minha carreira havia me proporcionado. Depois de fazer "Cabo do Medo", eu não entendia por que havia toda aquela atenção e admiração das pessoas pelo meu trabalho no filme. Era um sentimento ruim e irracional. Foi quando entrei numa fase de autodestruição para me ver totalmente fora do jogo do qual fazia parte.
Folha - Seus pais fazem parte da Igreja da Cientologia. Isso a influenciou na escolha?
Lewis -
Lógico que sofri certa influência, apesar de eles nunca terem tentado me convencer a seguir essa religião.. Sempre senti uma atração e curiosidade naturais pelas obras do criador da Cientologia, L.Ron Hubbard. Comecei a ler os livros dele e imediatamente me identifiquei com seus escritos.
Folha - Como você evita cometer erros do passado como, por exemplo, o de usar drogas?
Lewis -
Não tenho mais inclinação por drogas. A mudança que passei foi tão marcante que me afastou de vez de qualquer ação autodestrutiva. Mesmo quando estou chateada, precisando escapar de problemas, sinto-me forte o suficiente para evitar o comportamento negativo.
Nessas horas sempre aparece uma pessoa com um apoio que hoje eu sei dar valor.


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