São Paulo, quarta-feira, 04 de julho de 2001

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CRÍTICA

O rap (definitivamente) não é mais aquele

DA REPORTAGEM LOCAL

O rap está mudando. E a cada CD se firma como a grande barreira ideológica, em letras e ritmos, a uma música brasileira chapa branca, festeira e banal.
"Sujeito Homem", primeiro disco de Rappin" Hood, é um resumo da criativa geléia sonora gestada nos cantos esquecidos e caóticos (a maioria) do Brasil.
Em "De Repente", apesar do nome óbvio, Hood delega ao repente o nascimento do rap. Os pandeiros de Caju e Castanha são a base para a letra (e vocal rap).
A faixa "Sou Negrão" é um partido alto, tocado, não sampleado, que traz à mente Candeia. E como o próprio fez, Hood canta (com vocal rap) o orgulho de ser negro, acompanhado por Leci Brandão e Moisés da Rocha.
O samba também está no refrão de "Vida Bandida", na voz de Péricles, do grupo de pagode Exaltasamba. Lembra Netinho, ex-Negritude Jr., em música do Racionais MC's (e vice-versa). Atitude sem rótulo por estilo musical.
A misoginia é banida em "Tributo às Mulheres Pretas". E a glamourização da violência, às vezes tão excitante para quem nunca viu um cadáver seco na rua de casa, é exorcizada em "Suburbano".
A introdução da música, que está no fim da faixa anterior, "Raízes", um reggae, lembra "Rapaz Comum" (Racionais de novo).
Conta a história de alguém que está assistindo TV, vai ver quem toca a campainha e é morto a tiros. A narrativa é interrompida pelo som de um despertador e um violão em acordes de bossa nova.
O que se ouve a seguir é uma letra sobre quem acorda às 5h para trabalhar. A maioria do subúrbio, que não se envolve na guerra, está sempre entre a casa e o trabalho e nunca é tema, por não mexer com o imaginário de quem só se interessa por uma periferia "exótica".
Em nenhuma das letras do CD se ouve o termo "playboy". O que há é a exaltação da negritude, sem agressões a classes sociais. Mas (claro) polícia não é classe, e a categoria é massacrada em "Caso de Polícia", que conta com um sampler explosivo (e creditado) de "Sou Negro", com Toni Tornado.
A referência ao rap mais agressivo, gangsta, está em "A Bola do Mundo 2". A canção aproveita o refrão de "A Bola do Mundo", do disco "São Mateus pra Vida", do De Menos Crime, e fala o de sempre: treta, tiro, assalto, morte, tráfico. Enfim, a "quebrada" não mudou, continua violenta, suja, abandonada e sem esperança.
Ou não. A luz tenta vir justamente de atitudes como usar Originais do Samba para contar a história de Escadinha ("A Fuga", Xis); fazer um "Rap Embolada", com orgulho da origem nordestina (Thaíde e DJ Hum); levar o jazz e R&B ao gueto (Camorra).
Resumindo, "a revolução não pára, rap das quebradas", canta o DMC. E é isso aí.
(RODRIGO DIONISIO)

Sujeito Homem
   
Artista: Rappin" Hood
Gravadora: Trama
Quanto: R$ 25, em média



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