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CRÍTICA
O rap (definitivamente) não é mais aquele
DA REPORTAGEM LOCAL
O rap está mudando. E a cada CD se firma como a grande barreira ideológica, em letras e
ritmos, a uma música brasileira
chapa branca, festeira e banal.
"Sujeito Homem", primeiro
disco de Rappin" Hood, é um resumo da criativa geléia sonora
gestada nos cantos esquecidos e
caóticos (a maioria) do Brasil.
Em "De Repente", apesar do
nome óbvio, Hood delega ao repente o nascimento do rap. Os
pandeiros de Caju e Castanha são
a base para a letra (e vocal rap).
A faixa "Sou Negrão" é um partido alto, tocado, não sampleado,
que traz à mente Candeia. E como
o próprio fez, Hood canta (com
vocal rap) o orgulho de ser negro,
acompanhado por Leci Brandão e
Moisés da Rocha.
O samba também está no refrão
de "Vida Bandida", na voz de Péricles, do grupo de pagode Exaltasamba. Lembra Netinho, ex-Negritude Jr., em música do Racionais MC's (e vice-versa). Atitude
sem rótulo por estilo musical.
A misoginia é banida em "Tributo às Mulheres Pretas". E a glamourização da violência, às vezes
tão excitante para quem nunca
viu um cadáver seco na rua de casa, é exorcizada em "Suburbano".
A introdução da música, que está no fim da faixa anterior, "Raízes", um reggae, lembra "Rapaz
Comum" (Racionais de novo).
Conta a história de alguém que
está assistindo TV, vai ver quem
toca a campainha e é morto a tiros. A narrativa é interrompida
pelo som de um despertador e um
violão em acordes de bossa nova.
O que se ouve a seguir é uma letra sobre quem acorda às 5h para
trabalhar. A maioria do subúrbio,
que não se envolve na guerra, está
sempre entre a casa e o trabalho e
nunca é tema, por não mexer com
o imaginário de quem só se interessa por uma periferia "exótica".
Em nenhuma das letras do CD
se ouve o termo "playboy". O que
há é a exaltação da negritude, sem
agressões a classes sociais. Mas
(claro) polícia não é classe, e a categoria é massacrada em "Caso de
Polícia", que conta com um sampler explosivo (e creditado) de
"Sou Negro", com Toni Tornado.
A referência ao rap mais agressivo, gangsta, está em "A Bola do
Mundo 2". A canção aproveita o
refrão de "A Bola do Mundo", do
disco "São Mateus pra Vida", do
De Menos Crime, e fala o de sempre: treta, tiro, assalto, morte, tráfico. Enfim, a "quebrada" não
mudou, continua violenta, suja,
abandonada e sem esperança.
Ou não. A luz tenta vir justamente de atitudes como usar Originais do Samba para contar a história de Escadinha ("A Fuga",
Xis); fazer um "Rap Embolada",
com orgulho da origem nordestina (Thaíde e DJ Hum); levar o jazz
e R&B ao gueto (Camorra).
Resumindo, "a revolução não
pára, rap das quebradas", canta o
DMC. E é isso aí.
(RODRIGO DIONISIO)
Sujeito Homem
![](http://www.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
Artista: Rappin" Hood
Gravadora: Trama
Quanto: R$ 25, em média
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