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CINEMA
Ator fala sobre as dificuldades para o financiamento de suas produções e a oposição francesa à guerra no Iraque
John Malkovich amplia frentes de atuação
"Acho que a credibilidade decorre apenas de você ter uma conta bancária recheada. É assim que as coisas funcionam."
GEOFFREY MACNAB
DO "INDEPENDENT"
John Malkovich, 49, acaba de
ser convidado a comentar a deterioração das relações franco-americanas decorrente da oposição
francesa à guerra no Iraque. Na
condição de americano residente
na França e de ator que já foi visto
nos filmes de arte mais rarefeitos
da Europa e também nos filmes
de estúdio mais estúpidos, é um
tema que ele é capaz de enxergar.
""Quem insistiu que se entrasse
na Bósnia para fazer alguma coisa, Bill Clinton ou Jacques Chirac?
Vamos buscar um livro de história. Eu sei a resposta." Ele diz que
a onda atual de sentimento antifrancês foi provocada por eles
mesmos. "Quando você estapeia
alguém 200 vezes e esse alguém dá
o troco, não faz sentido se queixar. Quando você diz coisas duras, pode esperar ouvir o mesmo.
Mas isso se aplica a ambos os lados. Essa história já se arrasta há
200 anos e é meio chata. Se eu a levo a sério? Não."
Ele não é autoridade em calma.
As observações que fez em 2002
em Cambridge, dizendo que gostaria de dar um tiro no jornalista
Robert Fisk ("The Independent")
no Oriente Médio, e no deputado
George Galloway, tiveram repercussão desastrosa.
Hoje ele demonstra um misto
estranho de diplomacia e contestação, tanto assim que menciona
a questão dos franceses diversas
vezes. "Se me criticarem por 200
anos e eu os criticar de volta, não
me importo se ficarem magoados
ou não", diz ele. Mas faz questão
de insistir que ainda é francófilo.
Admite que está prestes a deixar a
França, sim, mas por razões ligadas aos impostos.
Malkovich está sentado num iate no porto velho de Cannes. É o
tipo de ambiente em que Tom Ripley, o psicopata elegante e culto
que ele representa em "Ripley's
Game" (adaptação de "O Talentoso Ripley", sem data de estréia no
Brasil) se sentiria à vontade. Representado por Malkovich, Ripley
é capaz de estrangular capangas
russos e lidar com seu antigo parceiro britânico sem perder a pose.
Malkovich esteve em Cannes
para anunciar um projeto da Mr.
Mudd, a produtora que ajudou a
fundar em 1998. "The Libertine"
(O Libertino) é uma adaptação da
peça de Stephen Jeffrey sobre
John Wilmot, conde de Rochester, que viveu no século 17 e é tão
famoso por ter morrido de alcoolismo e doença venérea aos 33
quanto por sua filosofia. No cinema, Malkovich será o rei Charles
2º e Johnny Depp, o protagonista.
"The Libertine", que será rodado em 2004, é "uma história contada de maneira muito forte, muito sexy, muito dark e muito malcheirosa". Seus potenciais financiadores acharam que cheirava
mal demais. O filme parece ter encontrado financiamento, cinco
anos após ser concebido.
Em 1998, quando Malkovich e
seus sócios, os produtores Lianne
Halfon e Russell Smith, criaram a
Mr. Mudd, "The Libertine" foi
um dos primeiros filmes que
anunciaram. Ele foi concebido ao
mesmo tempo que o filme de estréia de Malkovich na direção,
"The Dancer Upstairs" (O Dançarino do Andar Superior, sem data
de estréia no Brasil). Malkovich
recebeu a promessa de apoio financeiro para ambos os filmes da
empresa britânica J&M, hoje extinta. "Acho que ela não pretendia
realmente fazer nenhum dos dois
-só queria fazer o anúncio."
Quando a J&M não cumpriu o
que prometera, a Mr. Mudd formou uma parceria com a Granada, mas o acordo caiu por terra
quando a empresa de TV britânica decidiu que não iria mais produzir longas. Agora Malkovich e
sua produtora estão com outra
parceira britânica, a Odyssey. Ele
acha que o filme será feito.
Cada filme que a Mr. Mudd produz é uma batalha. Malkovich diz
que precisou convencer financistas céticos de que seria possível fazer "The Dancer Upstairs", sua
adaptação do romance de Sebastian Shakespeare, de 1997, sobre o
grupo terrorista peruano Sendero
Luminoso, por US$ 5,3 milhões
(cerca de R$ 14,95 milhões).
Malkovich se vê como alguém
cujo dever é proteger cineastas jovens, como Dunmore. O projeto
ficou pronto há dois anos mas só
agora está sendo lançado. Malkovich diz que não entende porque
levou tanto tempo. "Se a Mr. tivesse mais controle sobre o projeto, isso não teria acontecido", comenta o ator, que tem mais uma
função de consultor criativo.
Quando "The Libertine" estiver
concluído, ele vai enfrentar uma
batalha ainda mais árdua para o
financiamento do suspense cômico de Hugh Laurie "The Gun Seller" (O Vendedor de Arma), que
será o maior projeto da Mr. Mudd
até agora. "É difícil encontrar financiamento." E ele não nutre
ilusão de que sua vida como produtor possa ser facilitada pelo fato
de ser famoso. "Acho que a credibilidade decorre apenas de você
ter uma conta bancária recheada.
É assim que as coisas funcionam.
Não adianta reclamar."
Tradução de Clara Allain
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