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São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2003

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FOTOGRAFIA

Único a desembarcar com tropas aliadas no Dia D, húngaro tem carreira retratada em produção exibida hoje

Audácia de Robert Capa ganha novo foco

Divulgação
O pintor Pablo Picasso e Françoise Gilot, na França, fotografados por Robert Capa (à dir.), que é tema de documentário exibido hoje


SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL

Robert Capa (1913-1954) foi o único repórter fotográfico a desembarcar com as tropas aliadas na praia de Omaha, na Normandia, em 6 de junho de 1944 , no sangrento episódio conhecido como Dia D, que definiria o resultado da Segunda Guerra Mundial. Só por isso, poderia não ter feito mais nada pelo resto da vida.
Mas este húngaro de cabelos preto-azulados e sobrancelhas grossas à Groucho Marx fez muito mais. É o que mostra o documentário "No Amor e na Guerra - Um Retrato de Robert Capa", que o canal Cinemax exibe hoje.
Dirigido e roteirizado pela norte-americana Anne Makepeace (o sobrenome é este mesmo, "Faça a paz" em inglês), o filme foi exibido no Festival de Sundance deste ano e traz 40 entrevistas com parentes, amigos e personalidades ligadas à história de Capa, como o fotógrafo Henri Cartier-Bresson, o diretor Steven Spielberg e a atriz Isabella Rossellini.
O que emerge dele é uma figura maior do que a vida, um obstinado e destemido correspondente de guerra que soube estar nos lugares certos, nas horas certas e tinha charme suficiente para encantar de mulheres como a atriz Ingrid Bergman, com quem teve um caso, a homens como o diretor Alfred Hitchcock, que se inspirou em sua vida para criar o fotógrafo interpretado por James Stewart em "Janela Indiscreta".
Capa nasceu com polidactilia na parte pobre de Budapeste (Peste), na Hungria, em 1913, filho de um casal de costureiros. Foi tentar a sorte em Paris nos anos 20, onde conheceu os que viriam a ser seus melhores amigos, os também fotógrafos Henri Cartier-Bresson e David Seymour (com os quais fundaria a primeira agência de fotografia do mundo, a Magnum).
Andrei Friedmann de batismo, ganhou o novo nome por graça de uma namorada, a também fotógrafa Gerda Taro, provavelmente inspirada pelo diretor Frank Capra. Nascia "Robert Capa, fotógrafo norte-americano de fama internacional", como costumava dizer o casal aos amigos. Juntos, foram cobrir a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), e foi então que a realidade imitou a ficção.
A série de fotos feita por Capa na Espanha realmente lhe deu fama internacional, principalmente a de um soldado tirada no momento em que este é atingido e morre, de braços abertos. É quando começa a colaborar com a revista "Life", então a principal dos EUA, por onde cobre os principais conflitos dos anos 30 e 40.
Seu auge acontece durante a Segunda Guerra. Em 1942, o fotógrafo estará em Londres durante os bombardeios alemães (e daí nasce outra imagem clássica: a missa realizada numa igreja sem teto, recém-destruída pelas bombas). De lá, vai para o norte da África e está em Palermo quando a cidade italiana é tomada pelo Exército do general Patton.
Sua presença constante faz de Capa uma espécie de talismã das tropas americanas, que acreditavam que aquele jovem calmo, de mão firme e precisa, lhes trazia sorte. Isso o ajudou a ser o único permitido no Dia D. Apenas 11 imagens foram aproveitadas das dezenas de filmes feitos por Capa naquela manhã; a maioria foi velada por um assistente desastrado num laboratório em Londres.
Em 1954, foi designado para cobrir o final da Guerra da Indochina para a mesma "Life". Na ocasião, costumava dizer: "Se a sua foto não é boa o suficiente, você não estava próximo o suficiente". Morreu no dia 25 de maio, ao pisar numa mina terrestre.

NO AMOR E NA GUERRA - UM RETRATO DE ROBERT CAPA. Quando: hoje, às 22h, no Cinemax (TVA).


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