São Paulo, domingo, 04 de julho de 2004

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MÔNICA BERGAMO

Ana Ottoni/Folha Imagem
De manhã, depois de tomar suco de ameixa, mamão, leite e germe de trigo, além de alho e aspirina infantil, para prevenir problemas cardíacos, Paulo Maluf se despede da mulher, Sylvia, com um beijinho: "Já avisei que você é empresária"


Apenas uma mulher

Se tem uma coisa no governo do PT que está agradando a Sylvia Maluf, mulher de Paulo Maluf, é Marisa, mulher do presidente Lula e primeira-dama do Brasil. "Ela nunca abriu a boca, coitada. Nem sei a voz dela. Mas está bem no lugar dela. Ela é apenas uma mulher. Tem que estar sorrindo, sempre feliz ao lado do marido. Nada mais que isso." Neste ponto, diz Sylvia, ela e Marisa são parecidas. "Eu não sou nada. Apenas a mulher dele [Maluf]. Quem se interessa por mim? Primeira-dama não vale nada."

Na quarta-feira passada, a coluna acompanhou a rotina de um dia típico de Sylvia. Já estão acertadas também reportagens com Monica Serra, mulher de José Serra, e Luis Favre, marido de Marta Suplicy.

Maluf, que está engajado em sua 19ª campanha eleitoral -dez delas como candidato- diz que dona Sylvia "jamais" pediu a ele que largasse a política.

Pois logo na manhã da quarta, Sylvia revelou exatamente o contrário à coluna. "Já nasceu pêlo na minha língua de tanto pedir para ele parar. Mas adianta? Não adianta." Ela explica seus apelos. "Se ele não fosse um industrial [Maluf é dono da Eucatex], "tá" bom. Mas nós não vivemos de política."

"Mas depois dessa ele vai ter que parar", diz Sylvia. "Chega! Acabou! Ele já está com 72 anos. É a última campanha. Deus me livre! Tem que ter um limite. E ele vai ganhar a eleição, viu? Isso é que é o pior."

São 9h e Sylvia está sentada no sofá verde-claro do jardim-de-inverno da mansão em que vive há 40 anos, no Jardim Europa. Na sala, há quadros de Portinari, Di Cavalcanti, Volpi, Cícero Dias, fotos de família e potes com doces, muitos doces.

Sylvia tem quase o mesmo peso de quando era solteira: 53 kg. Ela acorda às 7h, anda na esteira até as 8h e desce para um café da manhã frugal, com iogurte light, mamão e um polenghinho. É assim que mantém a forma. Há 15 anos, se aventurou a fazer uma lipoaspiração. Detestou. "Um ano depois eu já tinha engordado de novo."

Não raro, quando Sylvia começa o café, Maluf já saiu de casa. Os dois têm horários diferentes: ela fica acordada até bem tarde, na sala ao lado do quarto do casal, vendo programas como os de Luciana Gimenez, Hebe e Ratinho; ele fica no quarto, vendo tudo quanto é telejornal. E acaba dormindo mais cedo. Quando vai se deitar, Sylvia liga uma lanterna e tateia a cama para não acordar o marido.
Na quarta, Maluf aguardou a chegada de Sylvia à sala de refeições. "Já falei a ela [colunista] que de manhã você trabalha, é empresária." Sylvia sorri. Maluf parte. "Tchau, paixão", diz ela.

Ela então vai para o jardim-de-inverno esperar o tempo passar até chegar a hora de ir ao escritório, de onde administra seus bens. "Não gosto de chegar cedo porque os bancos ainda estão fechados", diz. Perto de Maluf, Sylvia fica muda. Longe dele, sorri e conversa bastante. Conta que nem na lua-de-mel conseguiu a dedicação exclusiva do marido: os dois foram para a Alemanha e Maluf visitou dezenas de fábricas para comprar maquinário.

Maluf é vaidoso? "É asseado, limpinho. Troca de camisa duas vezes por dia, toma dois banhos. Mas nunca entrou em loja para comprar um sapato." Já Sylvia gosta de visitar Daslu, Dior, Versace, Cavalli.

A governanta Ana Feldhouse, catarinense descendente de alemães, trabalha com a família há 29 anos e ajuda Sylvia na administração da casa. No lar dos Maluf, aliás, todos os empregados foram recrutados no sul do país. São seguranças, motoristas, copeiros, arrumadeira, lavadeira, cozinheira e jardineiro. Têm no mínimo dez anos de casa. Folgam uma vez por semana. E nunca nos finais de semana.

Ana é a única que mexe nas porcelanas que Sylvia garimpou em "mais de 500" viagens pelo mundo.

Muitos deles foram colados- mesmo- nos móveis. Medo de roubo? "É que não gosto de ver nada fora do lugar. Então colei, para ninguém mexer ou quebrar. Comprei com tanto sacrifício...".

Às 10h, com a bolsa Louis Vuitton a tiracolo, ela embarca no Mercedes-Benz preto blindado que desliza alguns quarteirões até o escritório, ali mesmo nos Jardins. Atrás, mais carros e seguranças.

Em 15 minutos, ela chega ao escritório, se acomoda na mesa, na frente de uma grande foto de madre Tereza de Calcutá, a personalidade que mais admira. É recebida pela secretária, por uma auxiliar, uma copeira e um telefonista.

Das 10h15 às 11h20, assina dois documentos e atende a um telefonema de uma das filhas. Conversa um pouco e vai embora. Está encerrada a sua jornada de trabalho. Sylvia então visita um parente no hospital e volta para casa. Almoça com Maluf e com o neto, Otavinho, 19.

O jovem adora política, mas "Deus me livre", diz Sylvia: ele não vai seguir a carreira do avô, não. "Mesmo porque para ser político tem que achar uma santa que nem a minha avó. E isso não existe mais, né, vó?", diz Otavinho. "É isso aí", diz Sylvia.

Maluf chega, os dois se calam. Ele fala mal de Marta Suplicy. Fala mal do promotor Silvio Marques, que investiga as suposta existência de contas ilegais do casal no exterior. "Quem é a testemunha dele? A Nicéa Pitta. Ora, faça-me o favor. Uma mulher que, com 25 anos de casada, fez o que fez com o marido [Celso Pitta], um homem alto, bonitão...", diz Maluf. Sylvia arrisca um palpite: "Alto, pode ser. Mas bonitão?". Maluf rebate: "Para ela, ele era sim, Sylvia."

Depois do almoço, Sylvia embarca no Mercedes para visitar netos que vão viajar numa turnê que passará por Paris, Roma, Veneza e um cruzeiro na Sardenha. A segurança da casa deles, que inclui homens com carabinas, é mais forte que a de Maluf.

Sylvia não gosta de falar de política e evita ler jornais para não ver as reportagens sobre as supostas contas na Suíça. Como o marido, diz que "todas" as denúncias feitas contra Maluf são mentirosas e a incomodaram, "mas eu não liguei. Ele já foi até no cartório, fez DNA. Deixa falarem." Gosta de ler as revistas "Caras", "Quem", e "Tititi", de bastidores de novelas.

Às 16h30, Sylvia desembarca do Mercedes na casa de 1.000 m2onde vive sua mãe, Alexandra, 90, no Jardim Europa. Todas as quartas, religiosamente, ela se reúne lá com algumas tias. Nesse dia estavam Clemence, Ida e Assminha. Os assuntos são dois: novela das oito e assaltos. Todas têm uma história "horrível" para contar. "Antigamente não tinha isso", diz Alexandra. "É a droga, mãe. É tudo drogado", explica Sylvia.

A filha, Ligia, chega, e também alguns netos. Comem bolo, tomam suco de laranja-lima. A tarde passa rápido. Sylvia tem que voltar para casa. "Come here [venham cá]", grita Ligia para as crianças. Todos os netos de Maluf estudam na escola bilíngüe Saint Paul e falam inglês desde pequenos. "Let's say goodbye to grandma [vamos dizer adeus à vovó]." Sylvia chega em casa perto das 19h. Maluf telefona. Está com dor dente. Vai passar no dentista e não tem hora para chegar em casa.



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