São Paulo, domingo, 04 de julho de 2004

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TELEVISÃO

Autor de tramas juvenis da Globo escreve "Começar de Novo" e prepara retorno à direção de filmes, após 21 anos

Calmon volta às telenovelas e ao cinema

DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

Respeitado cineasta nos anos 70, Antonio Calmon, 58, retorna às telenovelas das 19h da Globo em 30 de agosto, quando estréia "Começar de Novo". E anuncia: "Vou voltar a fazer cinema".
Como o protagonista da nova novela das sete, um "exilado" que após 30 anos recupera a memória e volta ao Brasil para colocar em prática um plano de vingança contra aqueles que o traíram, Calmon planeja seu retorno ao cinema em 2005, depois de mais de 21 anos de "degredo" voluntário.
Seu último longa-metragem foi "Garota Dourada", de 1984. Depois desse fracasso de bilheteria, ele se transformou em um especialista em séries e novelas (todas das 19h) marcadas por aspectos infanto-juvenis, com muitos efeitos especiais, poderes sobrenaturais, vampiros, hippies, moda, praia. São dele, entre outras obras, "Armação Ilimitada" (1985/1988), "Top Model" (1999), "Vamp" (1991) e "O Beijo do Vampiro" (2002/2003, a última novela).
Calmon diz que negocia a direção de dois longas-metragens. O primeiro será de "dramaturgia concentrada", focado em um casal, e terá Marcos Paulo como protagonista -o mesmo que viverá o desmemoriado Andrei Ivanovich em "Começar de Novo".
A novela, afirma Calmon, servirá para relançar como ator (e "galã maduro") Marcos Paulo, que nos últimos anos se dedicou à direção de novelas.
O outro filme será uma ambiciosa produção internacional, que terá atores norte-americanos e brasileiros. Calmon não revela mais detalhes, porque as negociações ainda estão em andamento.
O teledramaturgo fez quase tudo no cinema, menos fotografia. Começou no cinema novo. Foi assistente de Glauber Rocha em "Terra em Transe" (1967) e "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro" (1969).
Depois disso, dirigiu 12 longas. O primeiro deles, "O Capitão Bandeira contra o Doutor Moura Brasil" (1971), é um filme marginal, pop, com referências à maconha. Do underground, passa pela pornochanchada chique ("Nos Embalos de Ipanema", de 1978, e "Mulher Sensual", 1981) e inaugura o cinema adolescente, com o bem-sucedido "Menino do Rio" (1982). O fracasso de "Garota Dourada" interrompeu os planos de uma trilogia praia-adolescente.
O cinema de Calmon, que andava restrito ao Canal Brasil, foi "redescoberto" no ano passado, em uma mostra no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo. "Simplesmente não existo no cinema novo. É o preço que se paga por não ser etiquetável", diz o cineasta/teledramaturgo.
"Sempre fui rebelde. Nunca fui escoteiro nem sacristão. Sou um lobo da estepe", diz Calmon, que ainda se autoetiqueta como "artista industrial" e "artista pop".
"Começar de Novo" tem ingredientes autênticos do "universo calmoniano". Terá tom de história em quadrinhos, hippies sessentões, um pouco de praia, andróides vindos de Marte, discos voadores e um robô.
Mas será, segundo Calmon, sua novela mais adulta. Ou melhor, será a novela mais adulta que já assinou, porque esse amadurecimento se deve à co-autora, Elizabeth Jhin. É ela quem desenvolveu o perfil da protagonista Letícia (Natália do Valle), "que é uma mulher real". A Calmon cabe o protagonista masculino, que é um herói "estilizado", inspirado no Edmond Dantés do clássico infanto-juvenil "O Conde de Monte Cristo", de Alexandre Dumas. Dantés é o arquétipo do herói traído e preso/exilado que retorna, maduro, para se vingar.


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