São Paulo, domingo, 04 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TELEVISÃO

Minissérie premiada em Cannes investiga o período de 1966 a 2003 e tem exibição em duas partes no Cinemax

Giordana filma crítica à juventude dos anos 60

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

São muitos os motivos para desconfiar de "O Melhor da Juventude": sinopse que descreve uma saga familiar, seis horas de duração... Fortes sinais de um academicismo sonolento. Mas deixe de lado preconceitos. Vê-lo é uma experiência comparável a outros grandes filmes que foram concebidos para TV e acabaram no cinema (como "Fanny & Alexander", de Bergman, ou "Berlin Alexanderplatz", de Fassbinder).
"O Melhor da Juventude", de Marco Tullio Giordana, foi produzido pela RAI -outro motivo de desconfiança na Itália de Berlusconi- e deveria ter sido exibido só na TV. Mas os produtores ficaram tão entusiasmados que resolveram lançá-lo em cinema.
Selecionado para Cannes, levou o único prêmio da mostra Un Certain Regard. No Brasil, tem chance de ser visto no Cinemax.
Como "As Invasões Bárbaras", de Denys Arcand, se propõe a fazer o balanço de uma geração -que chegou à adolescência nos turbulentos anos 60, foi às ruas e, possivelmente, foi a última que viveu a política na carne. Mas tanto os meios como os resultados dos filmes são opostos. Ainda que carinhoso, o balanço de Arcand é cínico e pessimista. Giordana, ao contrário, estende-se com objetividade, oferecendo um balanço melancólico, porém otimista.
O espectador é convidado a acompanhar a história da família Carati a partir da trajetória de seus dois filhos homens: Nicola (Luigio Lo Cascio) e Matteo (Alessio Boni). A história tem início em 66, quando ambos são estudantes.
Um episódio será divisor de águas na trajetória dos dois. Matteo, trabalhando como voluntário em uma instituição psiquiátrica, não se conforma com o tratamento de choque dado a uma jovem paciente. Resolve "roubá-la" e, com o irmão, tenta levá-la de volta à família, sem sucesso. Ela termina presa, e eles a perdem de vista.
A partir daí, a vida dos irmãos toma rumos opostos. Nicola tem uma reação afirmativa: torna-se psiquiatra e vai liderar a reforma das instituições para doentes mentais.
Matteo, por sua vez, tem uma reação niilista: abandona os estudos, nega tudo o que aprendeu e se alista no Exército. O caminho deles se bifurca a ponto de raramente voltarem a se cruzar. Episódios da história italiana vão pontuar o filme, ora aproximando os irmãos, ora afastando-os.
Giordana propõe uma visão crítica da juventude dos anos 1960, lúcida em relação à opção pela violência e com uma certa cegueira em relação a dogmatismos.
A riqueza dos personagens impede que o filme se torne maniqueísta, mesmo quando avança no tempo (a ação termina em 2003). O tom é melancólico, as escolhas nem sempre se revelam certas, as surpresas da vida às vezes não são agradáveis. Mas o sentimento final é um otimismo pé-no-chão -e emocionante.


O MELHOR DA JUVENTUDE. Quando: amanhã e terça, às 20h15, no Cinemax.



Texto Anterior: Novelas da semana
Próximo Texto: Comendo pelas bordas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.