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TEATRO
"Farsa Quixotesca", dos grupos Pia Fraus e Parlapatões, representa país em tributo ao personagem de Cervantes
Dom Quixote à brasileira encanta platéia na Espanha
DANIEL HORA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MADRI
As artes cênicas da América Latina navegam em sentido oposto
ao do explorador Colombo para
apresentar ao público espanhol
seu ponto de vista sobre "Dom
Quixote", a mais célebre das
obras de literatura escritas na língua de um de seus colonizadores.
O Brasil participa dessa remessa
teatral com a companhia Pia
Fraus que, acompanhado pelo
grupo Parlapatões, Patifes e Paspalhões, leva pela primeira vez
aos palcos do país de Miguel de
Cervantes (1547-1616) sua "Farsa
Quixotesca".
A peça escrita e dirigida pelo
parlapatão Hugo Possolo e estreada em 2000 no Teatro Popular do
Sesi, em São Paulo, foi selecionada entre sete produções latino-americanas e uma portuguesa para o festival madrileno "Quixote
na América Ibérica", iniciado no
fim de junho e que se estende até o
próximo dia 10. Um dos aspectos
desses trabalhos que chamaram a
atenção da produtora do evento,
Elena Schaposnik, foi a elevada
importância que ganha o escudeiro Sancho Pança em comparação
com o texto original de Cervantes
e adaptações teatrais de outros
países. "Creio que isso acontece
por causa de uma maior identificação com os mais pobres e desfavorecidos", opinou Schaposnik.
Depois de Madri, a "Farsa Quixotesca" estará presente também
nos festivais da cidade portuguesa
de Almada (na quarta, dia 6) e nas
espanholas de Almagro (dias 18 e
19) e de Cadiz (outubro). A estréia
da turnê aconteceu na sexta-feira,
em um teatro localizado justamente na praça de Madri que homenageia o navegador que estabeleceu para a Espanha uma rota
à América.
A montagem, ganhadora do
Prêmio APCA de melhor espetáculo infanto-juvenil e já levada ao
Uruguai, Colômbia e Estados
Unidos, desembarcou na capital
espanhola para três sessões no final de semana com algumas novidades. "A peça se tornou ainda
mais farsesca: a Dulcinéia, que antes era apenas ela mesma, passa a
representar o Duque de Saavedra,
personagem do romance que sintetiza a figura de vários nobres.
Assim, ela aparece com um humor mais ácido contra o Quixote", exemplificou Possolo, falando
sobre a amada do cavaleiro interpretada em 2000 por Bárbara Paz
e agora por Junia Busch.
Alguns ajustes foram necessários já que desta vez se misturaram duas companhias inteiras e a
Pia Fraus não contou em Madri
com uma equipe de contra-regras
do mesmo tamanho que a utilizada em São Paulo. O texto foi alterado e o cenário se reduziu a um
menor número de elementos.
Além disso, foi necessário incluir
um painel eletrônico que exibia as
legendas em castelhano do texto
dos atores. Algumas falhas de exibição, as improvisações e a velocidade de troca das frases no aparelho confundiram o público espanhol. "Perdemos um pouco dos
diálogos, embora se entendesse
um pouco do que diziam", lamentou Milagros Corente.
Com exceção dos três pares de
Quixotes e Sanchos e da Dulcinéia, papéis em que os atores
mostravam seu próprio rosto, todos os personagens foram interpretados com uso de máscaras ou
bonecos. "Trata-se de um jogo
entre a realidade e os disfarces sociais", explicou Possolo. Foi essa
mistura de linguagens de teatro e
circo, típica dos trabalhos da Pia
Fraus e Parlapatões, a característica que mais seduziu a platéia. "Vi
o espetáculo como se fossem três
em um", elogiou a espanhola Angela Postigo. O encanto prova a
universalidade da obra e desvela
um pedaço de uma identidade
cultural. "Herdamos do contexto
ibérico nossa idéia de fidalguia e
nobreza", comentou Possolo.
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