São Paulo, segunda-feira, 04 de julho de 2005

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TEATRO

"Farsa Quixotesca", dos grupos Pia Fraus e Parlapatões, representa país em tributo ao personagem de Cervantes

Dom Quixote à brasileira encanta platéia na Espanha

DANIEL HORA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MADRI

As artes cênicas da América Latina navegam em sentido oposto ao do explorador Colombo para apresentar ao público espanhol seu ponto de vista sobre "Dom Quixote", a mais célebre das obras de literatura escritas na língua de um de seus colonizadores. O Brasil participa dessa remessa teatral com a companhia Pia Fraus que, acompanhado pelo grupo Parlapatões, Patifes e Paspalhões, leva pela primeira vez aos palcos do país de Miguel de Cervantes (1547-1616) sua "Farsa Quixotesca".
A peça escrita e dirigida pelo parlapatão Hugo Possolo e estreada em 2000 no Teatro Popular do Sesi, em São Paulo, foi selecionada entre sete produções latino-americanas e uma portuguesa para o festival madrileno "Quixote na América Ibérica", iniciado no fim de junho e que se estende até o próximo dia 10. Um dos aspectos desses trabalhos que chamaram a atenção da produtora do evento, Elena Schaposnik, foi a elevada importância que ganha o escudeiro Sancho Pança em comparação com o texto original de Cervantes e adaptações teatrais de outros países. "Creio que isso acontece por causa de uma maior identificação com os mais pobres e desfavorecidos", opinou Schaposnik.
Depois de Madri, a "Farsa Quixotesca" estará presente também nos festivais da cidade portuguesa de Almada (na quarta, dia 6) e nas espanholas de Almagro (dias 18 e 19) e de Cadiz (outubro). A estréia da turnê aconteceu na sexta-feira, em um teatro localizado justamente na praça de Madri que homenageia o navegador que estabeleceu para a Espanha uma rota à América.
A montagem, ganhadora do Prêmio APCA de melhor espetáculo infanto-juvenil e já levada ao Uruguai, Colômbia e Estados Unidos, desembarcou na capital espanhola para três sessões no final de semana com algumas novidades. "A peça se tornou ainda mais farsesca: a Dulcinéia, que antes era apenas ela mesma, passa a representar o Duque de Saavedra, personagem do romance que sintetiza a figura de vários nobres. Assim, ela aparece com um humor mais ácido contra o Quixote", exemplificou Possolo, falando sobre a amada do cavaleiro interpretada em 2000 por Bárbara Paz e agora por Junia Busch.
Alguns ajustes foram necessários já que desta vez se misturaram duas companhias inteiras e a Pia Fraus não contou em Madri com uma equipe de contra-regras do mesmo tamanho que a utilizada em São Paulo. O texto foi alterado e o cenário se reduziu a um menor número de elementos. Além disso, foi necessário incluir um painel eletrônico que exibia as legendas em castelhano do texto dos atores. Algumas falhas de exibição, as improvisações e a velocidade de troca das frases no aparelho confundiram o público espanhol. "Perdemos um pouco dos diálogos, embora se entendesse um pouco do que diziam", lamentou Milagros Corente.
Com exceção dos três pares de Quixotes e Sanchos e da Dulcinéia, papéis em que os atores mostravam seu próprio rosto, todos os personagens foram interpretados com uso de máscaras ou bonecos. "Trata-se de um jogo entre a realidade e os disfarces sociais", explicou Possolo. Foi essa mistura de linguagens de teatro e circo, típica dos trabalhos da Pia Fraus e Parlapatões, a característica que mais seduziu a platéia. "Vi o espetáculo como se fossem três em um", elogiou a espanhola Angela Postigo. O encanto prova a universalidade da obra e desvela um pedaço de uma identidade cultural. "Herdamos do contexto ibérico nossa idéia de fidalguia e nobreza", comentou Possolo.

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