São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2008

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CINEMA / ESTRÉIAS

Longa narra saga ditada em piscadelas

"O Escafandro e a Borboleta" conta a história de editor que ficou paralisado, com exceção do olho esquerdo, após derrame

Autobiografia que inspirou o filme é resultado de mais de 200 mil piscadas a ghost- writer; drama foi premiado em Cannes e no Globo de Ouro


Divulgação
Mathieu Amalric e Emmanuelle Seigner em cena de "O Escafandro e a Borboleta"; protagonista levou o César de melhor ator

MARCELO STAROBINAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LONDRES

Adaptar um ótimo livro para as telas é um desafio que poucos enfrentam com sucesso. Imagine então se este livro for a autobiografia de um sujeito paralisado dos pés à cabeça, que não fala e que ditou o livro letra por letra utilizando o único órgão sobre o qual ainda exercia controle: o olho esquerdo.
A autobiografia em questão, "O Escafandro e a Borboleta" (ed. Martins Fontes), é o relato da vida de Jean-Dominique Bauby (1952-97), bon-vivant e editor da revista "Elle" francesa. Em 1995, aos 43 anos, ele sofreu um derrame que o deixou paralisado, mas consciente.
Era uma questão de tempo para que a obra, resultado de mais de 200 mil piscadelas de Bauby a uma ghost-writer, chegasse ao cinema (o filme estréia hoje em São Paulo). A adaptação do roteiro, porém, não era uma tarefa simples. O protagonista não fala nem se move. Leva minutos para comunicar uma única frase. Como dramatizar suas ações e emoções?
A tarefa ficou com o veterano roteirista Ronald Harwood, Oscar de roteiro adaptado com "O Pianista" (2002). Harwood viajou a Paris e se encontrou com a mulher de Bauby. Depois, foi ao hospital em Berck-sur-Mer, no litoral da Normandia, onde Bauby ficou em reabilitação. Conversou com enfermeiras e fisioterapeutas.
"Voltei a Paris e tinha decidido telefonar à produtora anunciando que desistiria do projeto", disse Harwood em bate-papo com o público após uma pré-estréia em Londres. "Mas poucas coisas ajudam mais a concentrar a mente de um escritor do que a perspectiva de devolver o dinheiro."
Harwood resolveu fazer o filme a partir do ponto de vista do protagonista. Com isso, transferiu ao espectador a claustrofobia de estar na pele de alguém imobilizado, compreendendo pela primeira vez no olhar piedoso das enfermeiras a gravidade de sua terrível condição.
O roteiro ficou pronto em 2003, e Harwood não se envolveu na filmagem. Suas palavras ganharam forma nas mãos do americano Julian Schnabel, que levou o prêmio de melhor diretor do Festival de Cannes-2007, além do Globo de Ouro-2008 na mesma categoria com o filme. Foi indicado ainda a quatro Oscars.
Indagado sobre como foi colaborar com o diretor, Harwood diz não ter havido colaboração. "Schnabel tem um ego muito grande. É estranho, nunca vi algo nessas dimensões."
Os dois se encontraram uma vez e trocaram e-mails. "Ele nunca mais me consultou depois. Acho que é porque ele faz boa parte do trabalho nas filmagens e na edição. Não é meu jeito preferido de trabalhar."
O papel foi inicialmente oferecido a Johnny Depp, que mostrou entusiasmo e pediu que seu amigo Schnabel dirigisse o filme. Depp acabou deixando o projeto e foi bem substituído pelo francês Mathieu Amalric, que venceu o prêmio César de melhor ator em 2008.


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