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Crítica
Inserções estratégicas de humor suavizam drama que faz apologia à vida
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
A bem-sucedida carreira
internacional de "O Escafandro e a Borboleta"
começou com dois prêmios no
Festival de Cannes de 2007
(melhor diretor e Grande Prêmio Técnico), prosseguiu com
diversas escolhas de melhor filme estrangeiro do ano nos EUA
e só não culminou com o Oscar
da categoria porque a França
selecionou "Persépolis" para
representá-la.
Ainda assim, "Escafandro"
recebeu quatro indicações (direção, roteiro adaptado, fotografia e montagem). Tudo isso,
mais uma calorosa recepção do
público, para um drama em que
o protagonista passa a maior
parte do tempo imóvel, na cama ou em uma cadeira de rodas, vítima de um derrame.
Qual é a mágica? Em primeiro lugar, o tom: a situação-limite enfrentada pelo editor Jean-Dominique Bauby (Mathieu
Amalric, de "A Questão Humana", em outra excelente atuação) transforma-se em apologia à vida, graças à superação
que o levou a "escrever" sua autobiografia. Inserções estratégicas de humor cuidam, desde o
início, de suavizar um pouco a
perspectiva.
O uso de flashbacks também
contribui para que se respire
além dos quartos e dos corredores de hospital onde Bauby
termina confinado. Dessas idas
e vindas no tempo surgem contrastes que evitam olhar para
ele como um coitado. Longe
disso, aliás: haverá quem enxergue no que ocorreu alguma
forma de castigo superior. Ou
seria apenas pura manifestação
da música do acaso?
Vital para o impacto gerado
sobre o público, a primeira parte é uma extraordinária demonstração do uso de câmera
subjetiva (que adota o ponto de
vista do personagem). Quando
ela termina, e adota-se concomitantemente o procedimento
narrativo clássico, o choque do
que se vê é em parte neutralizado pelo que se sabe continuar
ocorrendo dentro de Bauby.
Diretor bissexto, o artista
plástico norte-americano Julian Schnabel ("Basquiat", "Antes do Anoitecer") encontra no
fotógrafo polonês Janusz Kaminski ("A Lista de Schindler",
"O Resgate do Soldado Ryan")
um parceiro de pesquisa para
estabelecer o registro visual
único de uma história ímpar.
O ESCAFANDRO E
A BORBOLETA
Produção: EUA/França, 2007
Direção: Julian Schnabel
Com: Mathieu Amalric, Emmanuelle
Seigner
Onde: estréia hoje no Cine Bombril,
HSBC Belas Artes e circuito; 10 anos
Avaliação: ótimo
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