São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2008

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Crítica

Inserções estratégicas de humor suavizam drama que faz apologia à vida

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

A bem-sucedida carreira internacional de "O Escafandro e a Borboleta" começou com dois prêmios no Festival de Cannes de 2007 (melhor diretor e Grande Prêmio Técnico), prosseguiu com diversas escolhas de melhor filme estrangeiro do ano nos EUA e só não culminou com o Oscar da categoria porque a França selecionou "Persépolis" para representá-la.
Ainda assim, "Escafandro" recebeu quatro indicações (direção, roteiro adaptado, fotografia e montagem). Tudo isso, mais uma calorosa recepção do público, para um drama em que o protagonista passa a maior parte do tempo imóvel, na cama ou em uma cadeira de rodas, vítima de um derrame.
Qual é a mágica? Em primeiro lugar, o tom: a situação-limite enfrentada pelo editor Jean-Dominique Bauby (Mathieu Amalric, de "A Questão Humana", em outra excelente atuação) transforma-se em apologia à vida, graças à superação que o levou a "escrever" sua autobiografia. Inserções estratégicas de humor cuidam, desde o início, de suavizar um pouco a perspectiva.
O uso de flashbacks também contribui para que se respire além dos quartos e dos corredores de hospital onde Bauby termina confinado. Dessas idas e vindas no tempo surgem contrastes que evitam olhar para ele como um coitado. Longe disso, aliás: haverá quem enxergue no que ocorreu alguma forma de castigo superior. Ou seria apenas pura manifestação da música do acaso?
Vital para o impacto gerado sobre o público, a primeira parte é uma extraordinária demonstração do uso de câmera subjetiva (que adota o ponto de vista do personagem). Quando ela termina, e adota-se concomitantemente o procedimento narrativo clássico, o choque do que se vê é em parte neutralizado pelo que se sabe continuar ocorrendo dentro de Bauby.
Diretor bissexto, o artista plástico norte-americano Julian Schnabel ("Basquiat", "Antes do Anoitecer") encontra no fotógrafo polonês Janusz Kaminski ("A Lista de Schindler", "O Resgate do Soldado Ryan") um parceiro de pesquisa para estabelecer o registro visual único de uma história ímpar.


O ESCAFANDRO E A BORBOLETA
Produção: EUA/França, 2007
Direção: Julian Schnabel
Com: Mathieu Amalric, Emmanuelle Seigner
Onde: estréia hoje no Cine Bombril, HSBC Belas Artes e circuito; 10 anos
Avaliação: ótimo



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