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Última Moda
ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@grupofolha.com.br
100% independente
Sonia Rykiel, que será homenageada em Paris com uma retrospectiva dos 40 anos de criação de sua grife, defende a liberdade do estilista na era dos grandes grupos de moda
DANIELA FERNANDES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
Em maio último, quando a
França celebrava as quatro décadas do movimento estudantil
de 68, a grife Sonia Rykiel também comemorou seus 40 anos.
Como os jovens daquela época, a estilista francesa fez sua
própria revolução na moda, incitando as mulheres a criarem
um estilo próprio, conforme a
sua personalidade.
Em novembro, Rykiel será
homenageada por suas quatro
décadas na moda com uma exposição no Museu de Artes Decorativas, em Paris.
A grife, uma das mais prestigiosas da Europa, faturou 105
milhões em 2007 (cerca de R$
260 milhões), possui 50 lojas
em vários países e é "100% independente", diz a estilista. A
sua filha, Nathalie Rykiel, é a
atual presidente da companhia. Em 2007, a alemã Gabrielle Greiss se tornou diretora de
criação da marca.
Leitora voraz e autora de nove livros, Rykiel, quando criança, pensava em fazer teatro ou
escrever. Nunca estudou moda
e começou criando roupas de
tricô para a loja de seu marido.
Um dia, a atriz Audrey Hepburn comprou na loja 14 peças
de uma só vez, de diferentes cores. Em 1970, quando Rykiel já
tinha uma butique própria, a
publicação "Women's Wear
Daily" a chamou de "rainha
mundial do tricô".
A seguir, Rykiel, 78, conta como sobreviveu à perseguição
aos judeus durante a Segunda
Guerra e explica por que não
quis vender a sua grife para um
grande grupo de moda. "É muito importante poder fazer seu
trabalho sozinho, sem ter alguém nas tuas costas dizendo:
"Faça isso ou aquilo'", afirma.
FOLHA - O que mudou no mundo
da moda nos últimos 40 anos?
SONIA RYKIEL - Tudo. Quando eu
comecei, as roupas eram cortadas à mão, costuradas e depois
alguém experimentava. Era esse o sistema. Hoje, as roupas
são cortadas a laser e tudo é feito por computador, mesmo a
definição das cores. No início,
eu fazia roupa por roupa, uma
peça de cada vez. Hoje, são feitas dez unidades de uma vez.
FOLHA - Por que a sra. nunca vendeu sua marca para um grande grupo de luxo ou financeiro?
RYKIEL - Claro que recebemos
ofertas, mas até o momento
não quisemos vender. É muito
importante poder fazer seu trabalho sozinho, sem ter alguém
nas suas costas dizendo: "Faça
isso ou aquilo".
FOLHA - Os grandes grupos sufocam a independência do estilista?
RYKIEL - Não vendi até agora
por esse motivo. Preservar a independência é muito importante. Mas, hoje, não fazemos
mais projetos de longo prazo. A
política e a economia internacionais não nos permitem saber o que o futuro nos reserva.
FOLHA - Que conselho a sra. daria
para os estilistas que estão pensando em vender suas marcas?
RYKIEL - Se os costureiros têm
talento, eles podem fazer qualquer coisa. O talento não é algo
simples. E é preciso ter muito
talento para ser um estilista.
FOLHA - Por que a sra. decidiu interromper a sua linha masculina?
RYKIEL - Por razões estratégicas decidimos nos concentrar
na linha feminina Rykiel. Mas
ainda não tenho a data do encerramento da linha Rykiel
Homme nem do fechamento
das lojas masculinas.
FOLHA - Seu trabalho sempre misturou moda e literatura?
RYKIEL - Sempre. Fiz meus estudos secundários em um colégio literário. Foi muito difícil
para mim criar moda. Era algo
fútil. Não que eu não quisesse
fazer isso, mas não teria encontrado tempo se não tivesse me
casado com alguém que já trabalhava com moda. Então,
aproveitei para atuar nos dois
campos e continuo vivendo
dessa forma. Tenho vários livros publicados e me sinto próxima dos escritores em relação
ao trabalho que eles fazem. Isso
quer dizer que eu acredito no
que faço, no que crio. Não vou
fazer algo apenas por fazer.
FOLHA - Quando começou a Segunda Guerra, a sra. tinha nove
anos. Como viveu o período de perseguição aos judeus na Europa?
RYKIEL - Nós fomos viver no
campo. Ficamos escondidos
em uma fazenda e fomos ajudados por uma outra família judia. Uma das primeiras coisas
que a Gestapo fez foi apreender
listas de nomes de judeus que
integravam associações culturais, entre outras, que existiam
principalmente em centros urbanos. Quem não participava
de nenhuma associação ou movimento teve mais facilidade
para passar incógnito. Eu nunca usei a estrela amarela, mas
percebia que estavam acontecendo coisas muito graves.
FOLHA - Há 40 anos, a sra. incentivou as mulheres a criarem um estilo
próprio. A proposta ainda é válida?
RYKIEL - Ela não pode ser praticada da mesma maneira, mas o
conceito das mulheres usarem
a cabeça para pensar em uma
moda adaptada aos seus corpos
continua funcionando, desde
que o costureiro coloque nas
roupas tudo o que ele recebe da
sociedade. Um vestido deve ser
um caldo de cultura. Para mim,
o que conta é estar atenta a essa
mulher que eu sigo há 40 anos,
que corresponde à minha mãe,
à minha filha, às minhas amigas
e a essas mulheres que, como
eu, têm uma certa idéia da personalidade feminina -mulheres inteligentes, intelectuais,
mas que gostam de sair, de cozinhar e de serem sedutoras. O
que me interessa nas mulheres
são suas particularidades, suas
diferenças, que elas não sejam
todas iguais.
Fast fashion
IMPÉRIO 1
Termina hoje a ótima
exposição "Mulheres
Reais - Modas e Modos
no Rio de d. João 6º",
na Casa França-Brasil,
no Rio de Janeiro.
Criada por Kika Gama
Lobo, com curadoria
da figurinista Emilia
Duncan e consultoria
de Bruno Astuto, a
mostra conta de maneira muito didática e
interessante a história
da vestimenta no Brasil durante o Império.
IMPÉRIO 2
Parte das roupas de
"Mulheres Reais" foi
recriada para a exposição. Outras peças são originais e vieram de acervos de museus europeus. A mostra deve vir para São Paulo nos
próximos meses.
PÓLO DELUXE
A nova edição da revista "Visionaire" homenageia a Lacoste,
que faz 75 anos. A publicação traz imagens
de 12 camisas pólo com
estampadas criadas
por um time de celebridades. Entre elas,
Pedro Almodóvar,
Karl Lagerfeld e o músico Michael Stipe, da
banda R.E.M. A festa
de lançamento, só para
VIPs, rolou na quarta-feira, em Paris.
com VIVIAN WHITEMAN
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