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7ª FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE PARATY
Para Chico, "escrever é uma chatice"
Compositor e autor de "Leite Derramado" falou ontem à noite em mesa com Milton Hatoum, de "A Cidade Ilhada"
"Não sei exatamente onde encontrei meu romance. Queria escrever, não queria mexer com música", disse Chico Buarque em Paraty
MARCOS STRECKER
RAQUEL COZER
SYLVIA COLOMBO
ENVIADOS ESPECIAIS A PARATY
Chico escreve para ler. Para
ele, "escrever é uma chatice".
"Antes de começar a escrever,
eu lia tudo desde o começo",
disse Chico, em um dos comentários na mesa Sequências Brasileiras, ontem à noite na 7ª
Festa Literária Internacional
de Paraty.
Dividindo o microfone com o
escritor Milton Hatoum -mediados pelo tradutor Samuel
Titan Jr.-, Chico falou de diversos aspectos de seu livro
"Leite Derramado".
"Não sei exatamente onde
encontrei meu romance. Queria escrever, não queria mexer
com música. Assim como nunca estive em Budapeste, nunca
estive em 1929, quando se passa a ação. E encontrei meu narrador ao ouvir novamente a
música "O Velho Francisco"
[1987], um velho centenário, da
época do Império ainda."
Foram apontadas semelhanças nos livros dos dois autores.
Ambos disseram ser inocentes
e que não tinham copiado do
outro, arrancando algumas risadas do público que lotou a
Tenda dos Autores.
Chico disse que deu um "google" para saber mais detalhes
sobre o tema do livro de Hatoum, "A Cidade Ilhada". E
contou que não fez pesquisa
histórica rigorosa. "São coisas
que eu ouvi. Não tenho 100
anos, mas tenho 65. Com a idade, a gente passa a ter mais intimidade com o passado. Claro
que, como filho de historiador,
ouvi falar muito em casa, informações paralelas, fofocas que
não saíam nos livros."
Um exemplo: "Um primo
comprou a cama da Marquesa
de Santos e queria saber como
autenticar aquilo. e meu pai falou: "Mas a marquesa de Santos
tinha muitas camas, essa não
vale nada" e coisa assim".
A fila para ver a mesa de Chico e Hatoum começou logo depois das 17h, assim que as pessoas que esperavam para ver a
palestra anterior, de Mario Bellatin e Cristovão Tezza, entraram. Mas desde as 13h as aposentadas Maria Hilda Andrade,
73, e Maria Odete Franco, 74,
andavam por ali observando,
"com receio de que se formasse
uma fila". As duas saíram de
Salvador, na Bahia, quase um
mês depois de garantir o ingresso para ver Chico. De quebra, já que em 1º de junho estavam no primeiro lugar da fila,
compraram o ingresso do show
de abertura e o da mesa de Richard Dawkins.
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