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CINEMA
Livro disseca "Um
Corpo Que Cai"
AMIR LABAKI
de Nova York
Quarenta anos depois de sua estréia, "Um Corpo Que Cai"
("Vertigo", de 1958) continua a
ser o mais polêmico dos filmes de
Alfred Hitchcock (1899-1980).
Seus defensores acabam de ganhar uma nova bíblia. "Vertigo -
The Making of a Hitchcock Classic" (St. Martin's Press, 220
págs.), livro de estréia de Dan Auiler, devassa como nunca antes os
bastidores da produção.
Auiler segue os passos de Stephen Rebello, que, em 1990, lançou uma impecável reconstituição
da feitura de "Psicose" (1960). A
fonte principal de ambos é a coleção de documentos de Hitchcock
depositada na biblioteca da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.
Rebello escreve com mais estilo
que Auiler e não se aventura em
interpretações críticas superficiais
como a do colega. Mas a paixão de
Auiler o faz encher seu livro-reportagem com um maior número
de novidades -e derrubar mitos.
"D'Entre les Morts", o romance que deu origem ao filme, não
foi escrito já tendo em vista sua
adaptação por Hitchcock. Auiler
extrai a revelação numa entrevista
com um dos autores do livro,
Thomas Narcejac (o outro é Pierre
Boileau).
Os direitos para a versão cinematográfica foram adquiridos pela Paramount para Hitchcock ainda antes da tradução inglesa do
volume. A atenção sobre Narcejac-Boileau foi despertada pelo sucesso de "As Diabólicas" (1955),
de Henri-Georges Clouzot, uma
adaptação "hitchcockiana" do
primeiro livro da dupla.
A roteirização foi atribulada e
atípica para um projeto de Hitch.
Quatro roteiristas participaram,
em etapas distintas: Maxwell Anderson, Angus MacPhail, Alec
Coppel e Samuel Taylor. Os créditos fazem justa referência apenas
aos dois últimos, dada a efêmera
participação dos outros.
Coppel desenvolveu com Hitchcock a estrutura básica do filme. O
método foi o de sempre: longas
conversas diárias, num período de
dois meses. Insatisfeito com a primeira versão completa, que considerava por demais fantasiosa,
Hitch chamou Taylor.
Dois problemas de saúde afastaram Hitch por meses da roteirização. Taylor acabou desenvolvendo outra versão sozinho.
O ponto mais discutido do filme,
quando se revela bem antes do final o segredo da protagonista vivida por Kim Novak, foi criado por
Taylor. Hitch inicialmente aprovou a idéia, rodando-a como escrita. Durante a montagem, arrependeu-se e a cortou fora.
Auiler revela que a sequência só
foi incluída definitivamente no filme oito dias antes do lançamento
em San Francisco, em 9 de maio
de 1958.
Não menos longa foi a discussão
em torno do título. Auiler recupera nada menos que 51 propostas.
"From Among the Dead" (Dentre os Mortos), tradução literal do
nome do livro em francês, foi o título de trabalho até quase o fim
das filmagens. Hitch acabou escolhendo "Vertigo" (Vertigem),
contra a vontade da Paramount.
Ao reconstituir a rodagem
dia-a-dia, Auiler revela que o famoso e imitadíssimo efeito de vertigem, obtido com um "zoom"
para a frente e um movimento da
câmera para trás, foi criado pelo
fotógrafo-assistente Irmin Roberts.
Na ponta do lápis, prova ainda
que o filme, mal recebido pela crítica, não estourou nas bilheterias
-mas deu lucro.
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