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FESTA LITERÁRIA DE PARATI
Amor e bom humor dão o tom no evento que terminou ontem na cidade fluminense
Escritores levam público às gargalhadas
CASSIANO ELEK MACHADO
ENVIADO ESPECIAL A PARATI
A palestra estava aberta para
perguntas. Uma mulher levantou
a mão: "Hanif Kureishi, muita
gente tem comentado que você é
muito ranheta. O seu mau humor
é uma fonte de inspiração para
sua literatura?". O escritor inglês
respondeu: "Posso fazer uma pergunta? Você esteve falando com
minha mulher?". O público gargalhou.
O sorriso venceu a sisudez na
Festa Literária Internacional de
Parati, que terminou ontem na cidade fluminense. Nas praças, nas
calçadas de pedra decoradas com
bandeirinhas azul e amarelas, na
Casa de Cultura, onde aconteceram os 15 eventos da Flip, o clima
foi de "passa lá em casa para tomar algo".
A definição foi de Julian Barnes,
um dos principais romancistas
britânicos da atualidade, que
também conseguiu uma boa
quantidade de risadas de todos os
quilates em sua fala.
"Na Inglaterra, quando um casal discute, a mulher sempre diz:
"Estava tudo ótimo até que...". E
então ela completa com "até que
sua mãe chegou", "até que você começou a beber" ou algo assim. O
homem, quando o casal discute,
diz: "Estava tudo errado desde o
início"." A platéia fez a claque.
Em alguns casos, a relação do
público com os autores foi até um
passo além do humor, o amor. E a
menina dos olhos de Parati foi definitivamente Eric Hobsbawm. O
historiador inglês de 86 anos andou pelas calçadas de pedra afora
distribuindo autógrafos até em
camisetas de crianças.
Um dos 200 espectadores que
conseguiram ver sua concorrida
palestra, também assistida em
dois telões, um na Casa de Cultura, outro em uma grande tenda na
Praça da Matriz, deu o tom.
O rapaz perguntou, em português, que conselhos Hobsbawm
daria para um jovem historiador.
E concluiu com um: "Obrigado, I
love you".
Hobsbawm respondeu pacientemente: "Nunca confundir fato e
ficção, evitar pensar em termos
nacionais, tentando enxergar a
história de modo global, e evitar
ser apenas um colecionador de fatos". A platéia aplaudiu de pé, por
três minutos. "Ele virou uma espécie de Mick Jagger aqui", brincou o historiador inglês Leslie Bethel, amigo de Eric Hobsbawm há
40 anos.
Sem o mesmo status de "pop
stars", os autores brasileiros tiveram grande acolhida também.
Don DeLillo, um dos principais
escritores da América, escalado
para falar ontem pela tarde na
Flip, fez elogios rasgados à palestra de Ana Maria Machado e Milton Hatoum. "Foi uma conversa
muito inteligente."
Grande sucesso de público foi a
conversa do escritor e jornalista
Zuenir Ventura. Ao ler uma crônica que fez sobre a renovação de
sua carteira de motorista, fez a
tenda balançar de tanto riso.
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