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São Paulo, segunda-feira, 04 de agosto de 2003

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FESTA LITERÁRIA DE PARATI

Amor e bom humor dão o tom no evento que terminou ontem na cidade fluminense

Escritores levam público às gargalhadas

CASSIANO ELEK MACHADO
ENVIADO ESPECIAL A PARATI

A palestra estava aberta para perguntas. Uma mulher levantou a mão: "Hanif Kureishi, muita gente tem comentado que você é muito ranheta. O seu mau humor é uma fonte de inspiração para sua literatura?". O escritor inglês respondeu: "Posso fazer uma pergunta? Você esteve falando com minha mulher?". O público gargalhou.
O sorriso venceu a sisudez na Festa Literária Internacional de Parati, que terminou ontem na cidade fluminense. Nas praças, nas calçadas de pedra decoradas com bandeirinhas azul e amarelas, na Casa de Cultura, onde aconteceram os 15 eventos da Flip, o clima foi de "passa lá em casa para tomar algo".
A definição foi de Julian Barnes, um dos principais romancistas britânicos da atualidade, que também conseguiu uma boa quantidade de risadas de todos os quilates em sua fala.
"Na Inglaterra, quando um casal discute, a mulher sempre diz: "Estava tudo ótimo até que...". E então ela completa com "até que sua mãe chegou", "até que você começou a beber" ou algo assim. O homem, quando o casal discute, diz: "Estava tudo errado desde o início"." A platéia fez a claque.
Em alguns casos, a relação do público com os autores foi até um passo além do humor, o amor. E a menina dos olhos de Parati foi definitivamente Eric Hobsbawm. O historiador inglês de 86 anos andou pelas calçadas de pedra afora distribuindo autógrafos até em camisetas de crianças.
Um dos 200 espectadores que conseguiram ver sua concorrida palestra, também assistida em dois telões, um na Casa de Cultura, outro em uma grande tenda na Praça da Matriz, deu o tom.
O rapaz perguntou, em português, que conselhos Hobsbawm daria para um jovem historiador. E concluiu com um: "Obrigado, I love you".
Hobsbawm respondeu pacientemente: "Nunca confundir fato e ficção, evitar pensar em termos nacionais, tentando enxergar a história de modo global, e evitar ser apenas um colecionador de fatos". A platéia aplaudiu de pé, por três minutos. "Ele virou uma espécie de Mick Jagger aqui", brincou o historiador inglês Leslie Bethel, amigo de Eric Hobsbawm há 40 anos.
Sem o mesmo status de "pop stars", os autores brasileiros tiveram grande acolhida também. Don DeLillo, um dos principais escritores da América, escalado para falar ontem pela tarde na Flip, fez elogios rasgados à palestra de Ana Maria Machado e Milton Hatoum. "Foi uma conversa muito inteligente."
Grande sucesso de público foi a conversa do escritor e jornalista Zuenir Ventura. Ao ler uma crônica que fez sobre a renovação de sua carteira de motorista, fez a tenda balançar de tanto riso.



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