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ANÁLISE
Bate papo morno substitui o mundo cão
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
A estréia na última segunda-feira de "Tudo a Ver",
com Paulo Henrique Amorim e
Janine Borba, além de uma animada equipe de colunistas, com
destaque para o 1,20 m de pernas
da modelo Ana Hickmann, foi
noticiada como parte de um "movimento civilizatório da TV".
Mas será que a fofoca, não necessariamente ao vivo, sobre o casamento de famosos, lições sobre
como combinar um jeans com
uma camiseta branca ou o depoimento de um empresário que teve
o filho seqüestrado e adverte que
"a ordem agora é passar por cima" são assuntos menos agressivos do que notícias sobre um acidente de trânsito, um incêndio ou
um assassinato em família?
Telejornais locais herdeiros do
"Aqui, Agora" do SBT parecem finalmente seguir o destino do influente ancestral. A anunciada redução, ou até mesmo extinção, de
telejornais policialescos, como o
"Cidade Alerta" da Record ou o
"Brasil Urgente" da Band, substituídos por programas que se
apresentam como inofensivos, dá
o que pensar sobre noções dominantes do que seja gosto popular.
O problema dos noticiários populares hoje, como antes, não é a
audiência, em geral satisfatória. É
a recusa dos anunciantes, que, em
última instância, sustentam a TV
comercial.
Não se trata aqui de defender o
"espreme que sai sangue" que caracteriza a linha editorial da
maioria desses programas. Porém
vale desconfiar da versão politicamente correta de patrocinadores
zelosos da norma culta.
"Tudo a Ver" é bem intencionado. Paulo Henrique Amorim é
um jornalista com repertório, credibilidade e bom humor -qualidades mais do que suficientes para qualificá-lo para ancorar um
programa inteligente.
Não há porque sufocar o talento
do experiente jornalista em favor
de um tom de bate papo morno.
Afinal será que o público popular
feminino, que constitui o segmento-alvo do programa, cabe
nesse estereótipo tão surrado?
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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