São Paulo, quinta-feira, 04 de agosto de 2011

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Datena abre o bico

De volta à Band, apresentador diz que sofreu censura na Record, que não pagará multa e assume fazer um programa reacionário

DE SÃO PAULO

Nos últimos 45 dias, o apresentador José Datena, 54, trocou de emprego três vezes e viu seu salário, de R$ 850 mil, cair para menos da metade.
No período, seu programa saiu da Band, foi para a Record e, a partir da próxima segunda, volta para a Band.
Cercado de boatos e críticas, o entra e sai causou mal-estar nas duas emissoras e deixou como rastro um processo jurídico envolvendo duas multas milionárias. A primeira, ainda pendente, que corresponde a sua primeira saída da Record, em 2003, no valor de R$ 18 milhões. E a atual, de R$ 25 milhões.
"Eles estão invertendo a bola. O natural seria perdoarem minha primeira multa. E eu é que vou cobrar esta segunda, pois foram eles que não cumpriram o que estava combinado", diz. Procurada pela reportagem, a Record não quis se pronunciar. A expectativa na Band é que o ibope da programação noturna volte aos patamares anteriores, de 6 pontos. Com a saída dele, a audiência havia caído pela metade.
"Estou absurdamente bem resolvido. E cagando se as pessoas gostam ou não de mim. Não sou um produto comercial de prateleira", diz à Folha, gesticulando o braço ornado com duas pulseiras: uma de ouro, outra de prata.

 


AMEAÇA
Havia pessoas que me incomodavam na Band, avisei isso e não fizeram nada. Então busquei a Record, onde tinha ótimas relações. Afinal, havia trabalhado lá por oito anos.
O bispo Gonçalves [Honorilton Gonçalves, presidente da emissora], que não gosta mais que o chamem de bispo, sempre gostou de mim. E não deixei de gostar dele. Só que hoje ele subiu e fica numa espécie de torre de marfim, mandando recados que pareciam censura. Me puseram de quarentena e me proibiram de falar com a imprensa por seis meses. Também me proibiram de fazer críticas à Record no ar. O diretor de jornalismo me ameaçou, mencionando o caso do Tom Cavalcante, que teve de pagar uma multa de R$ 100 mil por ter falado mal da emissora. Foi aí que pensei: "Sobre quais assuntos posso falar?". Quando meti o pau no Ricardo Teixeira [presidente da CBF], ninguém falou nada, porque é do interesse deles.

GOTA D'ÁGUA
Primeiro, disseram que o programa ["Cidade Alerta"] seria nacional. Depois, que não seria. Então, no meio do caminho, cortaram quase uma hora e mudaram seu horário. Pior: chegaram a cortar matéria ao vivo para não pagar hora extra da equipe. Veja o caso do Hamilton [piloto de helicóptero]. Ele tinha liberdade total na Band, mas na Record cortaram o barato dele. "Não usa demais, senão banaliza o cara", era o que me diziam.
Outra coisa: quem pagina o jornal normalmente sou eu e, na Record, queriam que eu apenas comentasse. Guardadas as proporções, é a mesma coisa que você contratar o Neymar e falar que ele não pode driblar, dar chapéu, gol de cabeça... A gota d'água foi quando fui ao "Legendários", do Marcos Mion. Ali, tinha um monte de talentos relegados, só levantando plaquinha. Quando conversamos, me disseram que o contrato os prendia. Aí, decidi sair. Não tinha para onde ir, e a Band fez a proposta. A Band só me demonstrou carinho e amizade.

FILOSOFIA
Eu faço um programa que é reacionário, sob um ponto de vista. Mas o que não tem violência hoje? Quem produz a matéria-prima do meu programa é a sociedade. E não divulgar isso é omissão. Você só melhora a sociedade mostrando seus podres. Sou um cara de formação totalmente de esquerda, próximo da anarquia. Sempre li muito desde moleque, adoro filosofia. Leio Schopenhauer, que parece comigo, por conta do pessimismo. Mas busco a felicidade de Spinoza.

REMÉDIOS
Que as pessoas não sigam meu exemplo, mas, enquanto não for ao hospital, não vou saber o que tenho. Tirei um tumor -metade do pâncreas e do baço. Isso provocou um aumento de diabetes, mas estou legal. O chato é que hoje tomo 12 remédios ou mais.


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