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"Deve-se deixar o acaso penetrar a obra"
da Publifolha
Leia a seguir trechos inéditos de
uma entrevista exclusiva concedida à Folha em 1994, por ocasião do
80º aniversário do escritor.
(EdS)
Ofício de artista
"Gosto de atirar em meus quadros como uma forma de introduzir o fator aleatório. Deve-se deixar
o acaso penetrar a obra."
"A vida é um cut-up: quando
você olha pela janela, a sua consciência está sendo cortada por fatores aleatórios. Podemos dizer
que somos divididos e inseridos
em capítulos dentro de nossas vidas."
"Eu tenho pintado há anos, não
foi algo que aconteceu subitamente. Mas não tenho nenhuma formação, não sei desenhar nada, sequer uma cadeira. Tudo sai das
minhas mãos, é uma pintura automática. Quando se está escrevendo, é inevitável que nós temos que
nos deparar com o que está escrito
na nossa frente. Mas, quando se
pinta, pode-se fazê-lo de olhos fechados."
"Alguém caminha em volta do
quarteirão e, ao voltar, transpõe
para uma tela o que ele viu e sentiu
naquele exato momento. Essa pessoa está sendo atravessada pelo
próprio conceito de tempo. Enquanto ela pinta a cena está mudando, e os fatores tempo e mutação estão sempre presentes e em
movimento."
Beats
"Os trabalhos de Ginsberg, Kerouac e os meus são muito distintos. Mas as influências mútuas são
várias. O título de 'Almoço Nu',
por exemplo, foi o Jack quem
deu."
Droga e polícia
"Nunca experimentei crack.
Nunca consumi algo que fizesse
minhas mãos tremerem ou que
cortasse meu apetite."
Imagens
"Billie Holiday dizia que só teve
certeza de que havia largado o vício quando parou de assistir à TV.
Televisão não significa nada para
mim. Eu nunca tive necessidade
indiscriminada de imagens".
"Quando da primeira exposição
de fotografia como arte, na virada
do século, os artistas consideraram que aquilo era a morte da pintura. Foi uma conclusão precipitada, claro, mas que forçou os pintores a fazer algo diferente."
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