São Paulo, terça-feira, 04 de setembro de 2007

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Cia. Sankai Juku vê mundo pelo espelho no butô

Em "Kagemi", hoje e amanhã em SP, grupo japonês sugere realidade fantasiosa com metamorfoses ligadas aos sentimentos

Para o coreógrafo Ushio Amagatsu, movimento de vanguarda da dança japonesa surgido nos anos 50 "dialoga com a gravidade"

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Está de volta a São Paulo "Kagemi - Além das Metáforas de Espelho" (2001), espetáculo do grupo japonês de dança Sankai Juku. A coreografia é de Ushio Amagatsu, representante da segunda geração do butô, movimento de vanguarda japonesa do fim dos anos 50, que incorpora influências ocidentais e busca as raízes e a identidade japonesas.
Segundo Amagatsu, a coreografia do espetáculo nasceu da memória "de estar debaixo de centenas de folhas frescas de lótus pregadas no teto de uma sala de exposição de um mestre em ikebana [arte de arranjos florais]".
Antes de chegar ao Brasil, Amagatsu conversou com a Folha, por e-mail, sobre sua criação e seu percurso. "Kagemi" é uma antiga palavra japonesa para "espelho" ("kage" significa "sombra" e "mi", "enxergar"). O complemento do título, "Além das Metáforas de Espelho", sugere, segundo o coreógrafo, "um mundo virtual e fantasioso, no outro lado ou através das finas camadas da superfície dos espelhos".
Ele diz que os movimentos "são acompanhados por mudanças e metamorfoses, ligadas aos sentimentos humanos: alegria, tristeza, medo, calma etc.".
Os gestos são controlados em uma espécie de tempo suspenso, com um ritmo expandido, dialogando com os movimentos das folhas de lótus do cenário e com a música suave e contínua de Takashi Kako (piano, violoncelo chinês, koto) e Yoichiro Yoshikawa (sintetizador). Ele define a luz como uma "atmosfera ou um espaço".
"Penso no quanto de escuridão restante haverá na obra em vez da quantidade de luz com que posso iluminá-la."

Expressão não-verbal
Amagatsu, na sua formação, participou de aulas de teatro, balé e dança moderna. No final dos anos 60 e começo dos 70, reconheceu que "as formas de expressão não-verbais faziam cada vez mais sentido".
Em seguida, encontrou o butô, no Dairakudakan, fundado em 1972 por Akaji Maro. O grupo, com muitos integrantes, "procurava expressar as energias que proliferam". Em contraste, ao criar o Sankai Juku, desejava uma reunião de poucos dançarinos que "explorasse as possibilidades expressivas do "menos'".
Em seu trabalho, Amagatsu decidiu "enfrentar o [seu] eu", passando por um processo semelhante ao dos criadores do gênero, levando sempre em consideração o contexto social da obra e as experiências individuais.
"Sinto como se tivesse derretido para dentro do furacão de criatividade que é o butô", afirma.
O Sankai Juku ganhou renome internacional em 1980, no Festival de Nancy (França), com a coreografia "Kinkan Shonen". Em 1985, a morte trágica de um dos seus membros, numa apresentação em Seattle (EUA), marcou a companhia e definiu uma mudança na sua dança, cada vez mais refinada e menos centrada no sofrimento e na angústia do butô original.
"Para mim, butô é um diálogo com a gravidade. Em razão de tempo e espaço, acredito ser importante fazer com que o corpo mantenha suavidade e que a mente e a consciência sejam aguçadas", diz Amagatsu.
Em "Kagemi", composto de sete cenas, Amagatsu desenha o palco com sete bailarinos (incluindo ele mesmo), pintados caracteristicamente de branco.
Num mundo de areia e água, estão todos suspensos: entre as cinzas e o sangue, entre a vida e a morte, flutuando na paisagem da memória.


KAGEMI - ALÉM DAS METÁFORAS DE ESPELHO
Quando:
hoje e amanhã, às 21h
Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, Santo Amaro, tel. 0/xx/11/5693-4000)
Quanto: de R$ 40 a R$ 100


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