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Cia. Sankai Juku vê mundo pelo espelho no butô
Em "Kagemi", hoje e amanhã em SP, grupo japonês sugere realidade fantasiosa com metamorfoses ligadas aos sentimentos
Para o coreógrafo Ushio Amagatsu, movimento de vanguarda da dança japonesa surgido nos anos 50 "dialoga com a gravidade"
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Está de volta a São Paulo
"Kagemi - Além das Metáforas
de Espelho" (2001), espetáculo
do grupo japonês de dança Sankai Juku. A coreografia é de Ushio Amagatsu, representante
da segunda geração do butô,
movimento de vanguarda japonesa do fim dos anos 50, que incorpora influências ocidentais
e busca as raízes e a identidade
japonesas.
Segundo Amagatsu, a coreografia do espetáculo nasceu da
memória "de estar debaixo de
centenas de folhas frescas de
lótus pregadas no teto de uma
sala de exposição de um mestre
em ikebana [arte de arranjos
florais]".
Antes de chegar ao Brasil,
Amagatsu conversou com a Folha, por e-mail, sobre sua criação e seu percurso.
"Kagemi" é uma antiga palavra japonesa para "espelho"
("kage" significa "sombra" e
"mi", "enxergar"). O complemento do título, "Além das Metáforas de Espelho", sugere, segundo o coreógrafo, "um mundo virtual e fantasioso, no outro
lado ou através das finas camadas da superfície dos espelhos".
Ele diz que os movimentos
"são acompanhados por mudanças e metamorfoses, ligadas
aos sentimentos humanos: alegria, tristeza, medo, calma etc.".
Os gestos são controlados em
uma espécie de tempo suspenso, com um ritmo expandido,
dialogando com os movimentos das folhas de lótus do cenário e com a música suave e contínua de Takashi Kako (piano, violoncelo chinês, koto) e Yoichiro Yoshikawa (sintetizador). Ele define a luz como uma
"atmosfera ou um espaço".
"Penso no quanto de escuridão
restante haverá na obra em vez
da quantidade de luz com que
posso iluminá-la."
Expressão não-verbal
Amagatsu, na sua formação,
participou de aulas de teatro,
balé e dança moderna. No final
dos anos 60 e começo dos 70,
reconheceu que "as formas de
expressão não-verbais faziam
cada vez mais sentido".
Em seguida, encontrou o butô, no Dairakudakan, fundado
em 1972 por Akaji Maro. O grupo, com muitos integrantes,
"procurava expressar as energias que proliferam". Em contraste, ao criar o Sankai Juku,
desejava uma reunião de poucos dançarinos que "explorasse
as possibilidades expressivas
do "menos'".
Em seu trabalho, Amagatsu
decidiu "enfrentar o [seu] eu",
passando por um processo semelhante ao dos criadores do
gênero, levando sempre em
consideração o contexto social
da obra e as experiências individuais.
"Sinto como se tivesse derretido para dentro do furacão de
criatividade que é o butô", afirma.
O Sankai Juku ganhou renome internacional em 1980, no
Festival de Nancy (França),
com a coreografia "Kinkan
Shonen". Em 1985, a morte trágica de um dos seus membros,
numa apresentação em Seattle
(EUA), marcou a companhia e
definiu uma mudança na sua
dança, cada vez mais refinada e
menos centrada no sofrimento
e na angústia do butô original.
"Para mim, butô é um diálogo com a gravidade. Em razão
de tempo e espaço, acredito ser
importante fazer com que o
corpo mantenha suavidade e
que a mente e a consciência sejam aguçadas", diz Amagatsu.
Em "Kagemi", composto de
sete cenas, Amagatsu desenha
o palco com sete bailarinos (incluindo ele mesmo), pintados
caracteristicamente de branco.
Num mundo de areia e água, estão todos suspensos: entre as
cinzas e o sangue, entre a vida
e a morte, flutuando na paisagem da memória.
KAGEMI - ALÉM DAS METÁFORAS DE ESPELHO
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco de
Andrade Filho, 722, Santo Amaro, tel.
0/xx/11/5693-4000)
Quanto: de R$ 40 a R$ 100
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