INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

A beleza dos filmes de Jean-Luc Godard parece que não vem da arte, mas do mundo. Em "Carmen de Godard" (TC Cult, 20h25, 14 anos) tem-se a impressão, por vezes, que Raoul Coutard, o magnífico fotógrafo, nem colocou luzes, que Godard nem distribuiu as cores, tal a evidência com que as coisas aparecem.
E, no entanto, cada enquadramento de Godard é um encantamento. Neste que é um de seus filmes mais próximos de algo narrativo, evoca-se a história de Carmen, a cigana fatal, e seu amor por um militar. Carmen torna-se uma assaltante que passa a perna no tio, o velho cineasta (Godard mesmo).
Bem à sua maneira, Godard faz um filme de amor, tremendamente romântico, ao qual acrescenta a visão de um tempo que termina (o dos "small movies" a cuja memória é dedicado) e de outro que começa (o das coisas desnecessárias).


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