Programa apresentado pelo ator Marcos Palmeira recebe Vincent Carelli

Premiado no Festival de Gramado de 2009 com "Corumbiara", cineasta coordena projeto audiovisual em aldeias

GUSTAVO VILLAS BOAS
DE SÃO PAULO

O ator Marcos Palmeira sai da gravação do "A'Uwe", programa sobre a cultura indígena que apresenta há três anos, descolando a camiseta branca do corpo. "Olha só, estou suando", diz, em tom surpreso. "É por causa do Vicent Carelli, ele é um exemplo. Fiquei nervoso."
Carelli, francês radicado no Brasil, é indigenista e cineasta. Seu nome chegou ao grande público há um ano, quando venceu o Kikito de melhor filme no Festival de Gramado, com o documentário "Corumbiara", sobre um massacre em Rondônia.
Mas o francês não estava na gravação de novos episódios de "A'Uwe" para falar sobre seu filme. Ele coordena o programa Vídeo nas Aldeias, que produz e vende filmes feitos pelos indígenas. Um documentário sobre o projeto é intercalado com os trechos da entrevista, que vai ao ar em três partes. E a vivência de Carelli nas aldeias é explorada na conversa.

A TELEVISÃO
Fala, por exemplo, da relação entre os membros da aldeia e a TV. Futebol é uma unanimidade. Filmes de ação são adorados -Bruce Lee é um ídolo jovem, afirma Carelli. Lideranças gostam de assistir ao "Jornal Nacional". E as crianças se atraem por desenhos. "Infelizmente," diz o francês. O bate-papo avança também para temas mais áridos. Há um "círculo vicioso de desinformação" sobre essas populações, diz Carelli. Diz que projetamos, no índio, o mito do bom selvagem. "[Mas] ele é um ser humano, não é uma ficção."
Ideia que Palmeira desenvolve depois, em conversa com a Folha, na presença de Carelli. "Essa visão tem que acabar. Eles têm contradições, cometem erros". "O Vídeo nas Aldeias ajuda nisso também. Através de uma coisa extremamente tecnológica, eles fazem um resgate cultural, que serve a eles, mas pode ser apresentado ao grande público", sugere Palmeira.
Como falado no programa, os dois afirmam, após a gravação, [ ] que o debate da sustentabilidade e do ambiente -em pauta nos últimos anos e, consideram, reforçado nesta eleição- ajuda a sublinhar a questão indígena.
"A pressão do agronegócio, a construção das hidrelétricas, [ ] a reforma do Código Florestal recém-proposta no Congresso", tudo isso são pontos que unem os temas. "E os índios têm muito a ensinar quanto à sustentabilidade", lembra Palmeira.