São Paulo, Sábado, 04 de Setembro de 1999
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ARQUITETURA
CD-ROM revê cenários de cimento de Artacho Jurado

Lili Martins/Folha Imagem
O edifício Bretagne, em Higienópolis, a mais célebre construção de Artacho Jurado


CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

O arquiteto paulistano João Artacho Jurado (1907-1983) marcou com seu arrojo e gosto bizarro a história da arquitetura brasileira.
Nas décadas de 40 e 50, sem qualquer formação acadêmica (ele fez apenas cursos de desenho e perspectiva), Artacho Jurado projetou, construiu e vendeu -com notável sucesso- alguns empreendimentos imobiliários que ainda hoje chocam pelo ecletismo e pela desconcertante combinação de formas, cores e estilos.
Foram grandes edifícios, um conjunto residencial com 240 habitações e algumas casas e vilas, imóveis esses que voltam à discussão agora, com o CD-ROM "Artacho Jurado - Uma Arquitetura Cênica".
Já nos anos 30, junto com o irmão Aurélio, que cuidava da parte administrativa dos negócios, projetou estandes e organizou feiras industriais.
Nos anos 40, fundou a construtora Anhanguera, com a qual realizou várias casas, mas principalmente um conjunto residencial de 240 habitações chamado Cidade Monções, no Brooklin, inaugurado em 1945.
O estilo "Artacho Jurado", porém, só se manifestaria a partir de 1947, com a inauguração de seu primeiro grande edifício, o Duque de Caxias. Jurado tinha claustrofobia, não gostava de lugares escuros, e, por isso, abusava em suas construções do uso de elementos vazados, paredes de vidro, varandas e amplas coberturas.
Seu estilo se radicalizou nos edifícios seguintes, como o Planalto, o Viadutos, o Cinderela, o Louvre, o Verde Mar (Santos), o Saint Honoré e sua obra maior, o Bretagne, na avenida Higienópolis, inaugurado em 1959, cujos 160 apartamentos, reza a lenda, foram vendidos em 24 horas. O arquiteto pretendia justamente morar ali, no 13º andar do Bretagne.
Eclética (para seus defensores) e kitsch (para seus detratores), a arquitetura de Artacho Jurado é marcada pela combinação alucinante de detalhes, estilos e materiais utilizados.
Um mesmo edifício pode conter características dos estilos moderno, neoclássico, nouveau, decô, rococó e ainda elementos étnicos das culturas árabe, chinesa ou asteca. Também combina elementos arquitetônicos múltiplos, como coberturas vazadas, paredes de vidro e até mesmo os pilotis, tão amados pelos arquitetos modernistas (os maiores críticos da obra de Jurado).
Para realizar sua obra, poderia utilizar pastilhas vítricas, azulejos, cerâmicas, mármores, borracha, ferro, vidro e pedras. Seus prédios deveriam ainda oferecer muitos serviços, como salões de festa e de jogos, playgrounds, piscinas e até bares, como no condomínio Bretagne, que serviu de ponto de peregrinação turística nos anos 60 e 70. Visionário e excêntrico, Jurado realizou uma espécie de proto-arquitetura pós-moderna.
Apesar de toda a extravagância nos espaços públicos e exteriores dos edifícios, os apartamentos de Jurado são funcionais e os espaços internos são bem divididos. Também são resistentes, e se conservam melhor que a maioria das construções de sua época. Os materiais usados eram os melhores. Cores, curvas e formas insólitas abundam na arquitetura de Jurado, tanto nas macro, quanto nas microestruturas.


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