São Paulo, sábado, 4 de outubro de 1997.




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Em busca de regime político ideal, personagem criado pelo professor inglês Steven Lukes passa pelos países Militária, Utilitária e Libertária
Neoliberalismo chega ao romance

MARCELO RUBENS PAIVA
especial para a Folha

Steven Lukes, 56, nascido no Reino Unido, é pesquisador e professor universitário. Dá aulas no departamento de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade de Siena, na Itália.
Sociólogo, direciona suas pesquisas para a concepção de poder e novas formas de neoliberalismo. Já dirigiu projetos de pesquisa sobre a esquerda do Leste e Oeste Europeu. Já escreveu "What Is Left?" (O Que é Esquerda?), publicado pela Clarendon Press, de Oxford (Reino Unido).
Um dia, diante de um mundo de pasmaceira ideológica, de uma esquerda deprimida e da falta de história, Lukes teve a idéia: por que não escrever um romance simples, didático e alegórico sobre um homem em busca do país ideal?
O romance é "A Curiosa Iluminação do Professor Caritat - Uma Comédia de Idéias", que a editora carioca Revan lança agora. O homem é Nicholas Caritat, professor como o autor, preso em seu país de origem, Militária, que vive sob uma patética e familiar ditadura.
Caritat foge da prisão. Exila-se em Utilitária, um paraíso se comparado com Militária, mas terra tensa e invadida por estrangeiros em busca do bem-estar.
Sequestrado por "botafoguenses", os separatistas de Utilitária, ele é enviado a Comunitária, país étnico-religioso a um palmo de uma guerra civil.
Foge para cair em Libertária, país neoliberal que acaba de privatizar todos os serviços sociais -inclusive a polícia. Antes, passou por Proletária, republiqueta sem classes sociais, mas atrasada.
Depois do Iluminismo e de Kant (Immanuel, filósofo alemão, 1724-1804), o bem-estar de todos é, ou deveria ser, a origem do Estado.
Aboliram-se monarquias, repúblicas foram proclamadas, tentou-se o socialismo, a social-democracia, atropelou-se o nazismo, impõe-se o neoliberalismo, e a busca por uma "sociedade ideal" (Kant) prossegue.
Para falar dessa utopia e de seu livro, Steven Lukes concedeu, de sua casa em Siena, Itália, esta entrevista à Folha.

Folha - Seu livro é irônico com todos os sistemas políticos, representados por países imaginários. Mas, ao menos, não há guerras entre eles. Isso é um bom sinal?
Steven Lukes -
Os países não estão em guerra e nem estão interconectados, porque acho que cada um está certo de que é o melhor, dentro dos sistemas possíveis, e de que os outros, com o tempo, irão copiá-lo.
Folha - Na sequência de países visitados por Caritat, há, pela ordem, uma ditadura, uma social-democracia, um país étnico-religioso e um neoliberal. Esta sequência representa a transformação da Europa no século 20?
Lukes -
Não. Eu não tinha essa sequência em mente, apesar de serem todos sistemas-crias do Iluminismo europeu. E acho que algumas pessoas vão contestar que caminhamos todos para o neoliberalismo.

Livro: A Curiosa Iluminação do Professor Caritat - Uma Comédia de Idéias Autor: Steven Lukes Tradução: Sônia Torres Lançamento: Editora Revan (tel. 021/502-7495) Quanto: R$ 27 (272 págs.)


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