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Em busca de
regime
político
ideal,
personagem
criado pelo
professor
inglês
Steven
Lukes passa
pelos países
Militária,
Utilitária e
Libertária
Neoliberalismo chega ao romance
MARCELO RUBENS PAIVA
especial para a Folha
Steven Lukes, 56, nascido no
Reino Unido, é pesquisador e professor universitário. Dá aulas no
departamento de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade de
Siena, na Itália.
Sociólogo, direciona suas pesquisas para a concepção de poder e
novas formas de neoliberalismo.
Já dirigiu projetos de pesquisa sobre a esquerda do Leste e Oeste Europeu. Já escreveu "What Is
Left?" (O Que é Esquerda?), publicado pela Clarendon Press, de Oxford (Reino Unido).
Um dia, diante de um mundo de
pasmaceira ideológica, de uma esquerda deprimida e da falta de história, Lukes teve a idéia: por que
não escrever um romance simples,
didático e alegórico sobre um homem em busca do país ideal?
O romance é "A Curiosa Iluminação do Professor Caritat - Uma
Comédia de Idéias", que a editora
carioca Revan lança agora. O homem é Nicholas Caritat, professor
como o autor, preso em seu país de
origem, Militária, que vive sob
uma patética e familiar ditadura.
Caritat foge da prisão. Exila-se
em Utilitária, um paraíso se comparado com Militária, mas terra
tensa e invadida por estrangeiros
em busca do bem-estar.
Sequestrado por "botafoguenses", os separatistas de Utilitária,
ele é enviado a Comunitária, país
étnico-religioso a um palmo de
uma guerra civil.
Foge para cair em Libertária, país
neoliberal que acaba de privatizar
todos os serviços sociais -inclusive a polícia. Antes, passou por
Proletária, republiqueta sem classes sociais, mas atrasada.
Depois do Iluminismo e de Kant
(Immanuel, filósofo alemão,
1724-1804), o bem-estar de todos é,
ou deveria ser, a origem do Estado.
Aboliram-se monarquias, repúblicas foram proclamadas, tentou-se o socialismo, a social-democracia, atropelou-se o nazismo,
impõe-se o neoliberalismo, e a
busca por uma "sociedade ideal"
(Kant) prossegue.
Para falar dessa utopia e de seu
livro, Steven Lukes concedeu, de
sua casa em Siena, Itália, esta entrevista à Folha.
Folha - Seu livro é irônico com todos os sistemas políticos, representados por países imaginários.
Mas, ao menos, não há guerras entre eles. Isso é um bom sinal?
Steven Lukes - Os países não
estão em guerra e nem estão interconectados, porque acho que cada
um está certo de que é o melhor,
dentro dos sistemas possíveis, e de
que os outros, com o tempo, irão
copiá-lo.
Folha - Na sequência de países
visitados por Caritat, há, pela ordem, uma ditadura, uma social-democracia, um país étnico-religioso
e um neoliberal. Esta sequência representa a transformação da Europa no século 20?
Lukes - Não. Eu não tinha essa
sequência em mente, apesar de serem todos sistemas-crias do Iluminismo europeu. E acho que algumas pessoas vão contestar que caminhamos todos para o neoliberalismo.
Livro: A Curiosa Iluminação do Professor
Caritat - Uma Comédia de Idéias
Autor: Steven Lukes
Tradução: Sônia Torres
Lançamento: Editora Revan (tel.
021/502-7495)
Quanto: R$ 27 (272 págs.)
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