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MÚSICA ERUDITA
Regente argentino volta à cidade também como solista de uma das cinco maiores orquestras dos EUA
Barenboim rege Sinfônica de Chicago em SP
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Orquestra Sinfônica de Chicago se apresenta hoje pela primeira
vez no Brasil. Será às 21h na Sala
São Paulo, em concerto extraordinário -não reservado aos assinantes- da temporada da Sociedade de Cultura Artística.
Terá como regente e solista Daniel Barenboim, 57, com o "Concerto para Piano e Orquestra nš
15", de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1792), e a "Sinfonia nš
1", de Gustav Mahler (1860-1911).
Nas récitas de amanhã e sábado
estarão no programa uma outra
sinfonia de Mahler, a de nš 7, duas
peças de Claude Debussy, "Prélude à l'Après-Midi d'un Faune" e
"La Mer", e, de Manuel de Falla,
"El Sombrero de Tres Picos".
"Big five"
A Chicago é uma das "big five"
norte-americanas -ao lado da
Boston, da Cleveland, da Filadélfia e da Nova York- e a única,
entre elas, que nunca se apresentou ao público brasileiro.
Ela é dona de uma sonoridade
limpa, de uma interpretação que,
mesmo em momentos emotivos,
deixa transparecer sua construção em cima de uma estrutura racional.
Suas cordas têm um histórico
que lembra um pouco a Filadélfia:
um melodismo alemão mesclado
à doçura quase francesa dos violinos e violoncelos.
Não são atributos adquiridos da
noite para o dia. Fazem parte de
uma sólida cultura interna. Fundada em 1891, a Sinfônica de Chicago teve, nos últimos 50 anos,
um grupo reduzido de magníficos
diretores musicais.
Foram Rafael Kubelik, um mestre da dinâmica, Fritz Reiner, um
lírico de mão cheia, Jean Martion,
um dos maestros que mais entendeu de Debussy, e, sobretudo, por
22 anos, Georg Solti, alguém para
quem, no limite, toda obra sinfônica traz, mesmo recônditos, o
narrativismo de Wagner e as cores brilhantes de Richard Strauss.
Barenboim
Foi essa a herança recebida em
1991 por Barenboim, hoje um dos
grandes mundiais da regência.
Mas que cresceu ao tirar a lição de
seus próprios erros.
De uma batuta hesitante nos
anos 70, frente à Orquestra de Paris, ele foi, no ano passado, um
dos maestros cogitados para assumir, já em 2001, a sucessão de
Claudio Abbado na Filarmônica
de Berlim.
Perdeu para o britânico Simon
Rattle, desde 1980 diretor da Sinfônica de Birminghan.
Uma das idiossincrasias dessa
sinfônica norte-americana está na
existência, ao lado do diretor, de
um "regente convidado principal", espécie de complemento ou
contraponto estilístico.
Já ocuparam o cargo Carlo Maria Giulini, Claudio Abbado e, de
cinco anos para cá, Pierre Boulez,
um gigante da composição e regência no século 20, que desagradara pelo vanguardismo sistemático de repertório o "board" da Filarmônica de Nova York, que o
substituiu por Kurt Masur.
Chicago possui um histórico
muito parecido ao das outras
grandes orquestras nos Estados
Unidos.
Surge como espelho musical do
refinamento do gosto de uma
aristocracia recém-enriquecida
pela economia de mercado, mas
sem ter rompido com as raízes
culturais trazidas da Europa.
No caso, surgiu pelas mãos de
Theodore Thomas, o primeiro
grande regente nascido e criado
nos Estados Unidos, que, sustentado por um forte mecenato, selecionou e importou instrumentistas. Ele colocou Chicago no mapa
mundial dos concertos e ainda
promoveu a construção do Orchestra Hall, uma sala de 2.600 lugares, aberta em 1904 e que ainda
hoje é a sede da sinfônica.
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