São Paulo, quarta-feira, 04 de outubro de 2000

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MÚSICA ERUDITA

Regente argentino volta à cidade também como solista de uma das cinco maiores orquestras dos EUA
Barenboim rege Sinfônica de Chicago em SP

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Orquestra Sinfônica de Chicago se apresenta hoje pela primeira vez no Brasil. Será às 21h na Sala São Paulo, em concerto extraordinário -não reservado aos assinantes- da temporada da Sociedade de Cultura Artística.
Terá como regente e solista Daniel Barenboim, 57, com o "Concerto para Piano e Orquestra nš 15", de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1792), e a "Sinfonia nš 1", de Gustav Mahler (1860-1911).
Nas récitas de amanhã e sábado estarão no programa uma outra sinfonia de Mahler, a de nš 7, duas peças de Claude Debussy, "Prélude à l'Après-Midi d'un Faune" e "La Mer", e, de Manuel de Falla, "El Sombrero de Tres Picos".

"Big five"
A Chicago é uma das "big five" norte-americanas -ao lado da Boston, da Cleveland, da Filadélfia e da Nova York- e a única, entre elas, que nunca se apresentou ao público brasileiro.
Ela é dona de uma sonoridade limpa, de uma interpretação que, mesmo em momentos emotivos, deixa transparecer sua construção em cima de uma estrutura racional.
Suas cordas têm um histórico que lembra um pouco a Filadélfia: um melodismo alemão mesclado à doçura quase francesa dos violinos e violoncelos.
Não são atributos adquiridos da noite para o dia. Fazem parte de uma sólida cultura interna. Fundada em 1891, a Sinfônica de Chicago teve, nos últimos 50 anos, um grupo reduzido de magníficos diretores musicais.
Foram Rafael Kubelik, um mestre da dinâmica, Fritz Reiner, um lírico de mão cheia, Jean Martion, um dos maestros que mais entendeu de Debussy, e, sobretudo, por 22 anos, Georg Solti, alguém para quem, no limite, toda obra sinfônica traz, mesmo recônditos, o narrativismo de Wagner e as cores brilhantes de Richard Strauss.

Barenboim
Foi essa a herança recebida em 1991 por Barenboim, hoje um dos grandes mundiais da regência. Mas que cresceu ao tirar a lição de seus próprios erros.
De uma batuta hesitante nos anos 70, frente à Orquestra de Paris, ele foi, no ano passado, um dos maestros cogitados para assumir, já em 2001, a sucessão de Claudio Abbado na Filarmônica de Berlim.
Perdeu para o britânico Simon Rattle, desde 1980 diretor da Sinfônica de Birminghan.
Uma das idiossincrasias dessa sinfônica norte-americana está na existência, ao lado do diretor, de um "regente convidado principal", espécie de complemento ou contraponto estilístico.
Já ocuparam o cargo Carlo Maria Giulini, Claudio Abbado e, de cinco anos para cá, Pierre Boulez, um gigante da composição e regência no século 20, que desagradara pelo vanguardismo sistemático de repertório o "board" da Filarmônica de Nova York, que o substituiu por Kurt Masur.
Chicago possui um histórico muito parecido ao das outras grandes orquestras nos Estados Unidos.
Surge como espelho musical do refinamento do gosto de uma aristocracia recém-enriquecida pela economia de mercado, mas sem ter rompido com as raízes culturais trazidas da Europa.
No caso, surgiu pelas mãos de Theodore Thomas, o primeiro grande regente nascido e criado nos Estados Unidos, que, sustentado por um forte mecenato, selecionou e importou instrumentistas. Ele colocou Chicago no mapa mundial dos concertos e ainda promoveu a construção do Orchestra Hall, uma sala de 2.600 lugares, aberta em 1904 e que ainda hoje é a sede da sinfônica.


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