São Paulo, quarta-feira, 04 de outubro de 2000

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ARTES PLÁSTICAS

Série é baseada em painéis de Lisboa e do Nordeste, reproduzidos em grandes dimensões em galeria de SP
Varejão amplia melancolia em "Azulejão"

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Tudo é superlativo nas novas obras da artista plástica Adriana Varejão. "Azulejão", a mostra que ela inaugura amanhã, em São Paulo, tem uma instalação que cobre duas paredes inteiras da galeria, com 70 telas reproduzindo azulejos com dimensões de 1 m2. Há também o "quadrão", uma tela de 2,3 m por 1,9 m, sobre 160 pratos.
"No exterior, as pessoas sempre têm dificuldade em falar meu nome, por causa do "ão", que é um som da língua portuguesa, e faço uma brincadeira com isso", diz.
As obras foram criadas especialmente para a galeria. Os dois grandes murais de telas imitam painéis de azulejos que Varejão pesquisou em Salvador e Cachoeira, na Bahia, Olinda, Recife e Lisboa. "Foi em Cachoeira que vi painéis desconstruídos e estou dando grandes dimensões a eles."
Varejão fotografou azulejos pelas cidades por onde passou e, ao ampliá-los cerca de 7 vezes, faz com que os detalhes assumam grande importância.
"Azulejos azuis sempre me impressionaram, eles transmitem melancolia", diz a artista. Esse sentimento é traduzido nas novas obras, o que entra em contraste com seus trabalhos mais conhecidos, em geral de grande violência, como as séries nas quais Varejão cria massas de carne viva que rompem com superfícies, muitas vezes imitando azulejos.
No mezanino da galeria, ela mostra uma série que retoma a veemência em suas outras obras. São três telas, também como azulejos, suportadas por blocos de carne. Uma delas é uma homenagem ao italiano Lucio Fontana, com cortes verticais na tela, que mostram os blocos de carne na parte interior. "Sempre admirei os artistas que exploraram a carne como objeto de pintura, seja Rembrandt ou Francis Bacon."
Nas novas obras, a carne assume formato mais compacto, como carne-seca, fruto de fotos que a artista fez em Caruaru. "Vivo fotografando açougues e azulejos."
No próximo ano, Varejão prepara uma grande exposição na galeria Vitoria Miro, em Londres. De lá, em breve, a artista aguarda boas notícias. Ela foi procurada pela Tate Modern para a aquisição de sua obra "Azulejaria Verde em Carne Viva", e a decisão está para ser formalizada pelo conselho curador do museu. Se aprovada, será o segundo nome brasileiro a entrar para o acervo da Tate. O primeiro foi o escultor Sergio Camargo (1930-1990).


O quê: Azulejão (térreo), Carne e Pratos (mezanino), obras de Adriana Varejão
Onde: galeria Camargo Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, Vila Madalena, tel. 0/xx/11/3032-7066)
Quando: abertura amanhã, às 20h; de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 14h. Até 31/10;
Quanto: entrada franca; obras de US$ 10 mil a US$ 30 mil



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