São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2008

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Belmonte lança 4º longa e questiona distribuição

Acúmulo de produções brasileiras sem estréia garantida motiva discussão no Rio

Para diretor, o cinema comercial e o dependente de leis de incentivo devem cessar iniciativas para exterminar o outro lado

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

"Se Nada Mais Der Certo", sobre jovens de Brasília que tentam a vida em São Paulo, é a atração de hoje na disputa entre oito filmes de ficção da Première Brasil, no Festival do Rio.
Quarto longa do cineasta José Eduardo Belmonte, "Se Nada Mais Der Certo" é, de acordo com o cineasta, "o fim de uma tetralogia, que resume e articula todas as questões discutidas nos outros filmes".
Ocorre que pouca gente teve chance de ver os títulos anteriores do diretor. "Subterrâneos" (2003), seu primeiro longa, não chegou a estrear nos cinemas. "A Concepção" (2005) recebeu boas críticas, mas circulou por poucas salas no país. O terceiro filme de Belmonte, "Meu Mundo em Perigo", premiado em Brasília em 2007, deve ter lançamento "em formato de guerrilha" até o final deste ano, diz Belmonte.
Atualmente, existem 84 longas nacionais prontos ou prestes a ser concluídos. A previsão de estréias até agosto de 2009 registra 42 títulos, de acordo com dados do portal Filme B, especializado no setor.
O acúmulo de filmes sem estréia garantida é uma distorção do mercado, na opinião do distribuidor Rodrigo Saturnino Braga, diretor da filial brasileira da empresa norte-americana Columbia, que lançou uma proposta polêmica para solucionar a questão. Ele defende que produções beneficiadas por investimento do Estado via leis de renúncia fiscal não tenham suas filmagens autorizadas enquanto não possuírem um contrato de distribuição.
A Folha apurou que a Ancine (Agência Nacional do Cinema) é sensível à idéia.
"Há no Brasil distribuidoras suficientes para escoar uma produção de 80 a 90 títulos nacionais por ano, sejam comerciais ou independentes. Se elas não se interessam em distribuir esses filmes é porque têm um problema com qualquer tipo de público", diz Braga.
Para Belmonte, "a gente vive um pré-capitalismo nessa área de cinema. O cobertor é muito curto, e a lógica não é muito racional para todos os lados".
Ele cita que "há uns que pleiteiam o fim do cinema comercial no Brasil, que, na prática, é um cinema no vermelho, que não se paga" e defende que "é preciso parar com essas iniciativas, tanto de um lado como de outro, que são sempre para exterminar o outro lado".
A apresentação dos concorrentes da Première Brasil termina na segunda, com "Verônica", de Maurício Farias. Amanhã, será exibido "Apenas o Fim", de Matheus Souza.
A cerimônia de premiação ocorre na próxima quinta.

Groucho Marx
O cantor Jards Macalé não se deixou ver na estréia do documentário a seu respeito, "Jards Macalé - Um Morcego na Porta Principal", anteontem, no Cine Odeon. Ao apresentar o filme, que compete na Première Brasil, o diretor Marco Abujamra disse: "Ele está por aí, disfarçado de Groucho Marx. Macal, se você se dispuser...". Nada.
No filme, o compositor Abel Silva conta como João Gilberto demoveu Macalé da idéia do suicídio, que se apoderara dele no décimo aniversário da morte de Torquato Neto (1944-72).
Macalé ligou para se despedir. João Gilberto pegou o violão e cantou uma canção de Ary Barroso e Lamartine Babo. "No rancho fundo/ De olhar triste e profundo/ Um moreno canta as "mágua'/ Com os olhos rasos d'água."


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