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Belmonte lança 4º longa e questiona distribuição
Acúmulo de produções brasileiras sem estréia garantida motiva discussão no Rio
Para diretor, o cinema comercial e o dependente de leis de incentivo devem cessar iniciativas para exterminar o outro lado
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
"Se Nada Mais Der Certo",
sobre jovens de Brasília que
tentam a vida em São Paulo, é a
atração de hoje na disputa entre oito filmes de ficção da Première Brasil, no Festival do Rio.
Quarto longa do cineasta José Eduardo Belmonte, "Se Nada Mais Der Certo" é, de acordo
com o cineasta, "o fim de uma
tetralogia, que resume e articula todas as questões discutidas
nos outros filmes".
Ocorre que pouca gente teve
chance de ver os títulos anteriores do diretor. "Subterrâneos" (2003), seu primeiro longa, não chegou a estrear nos cinemas. "A Concepção" (2005)
recebeu boas críticas, mas circulou por poucas salas no país.
O terceiro filme de Belmonte,
"Meu Mundo em Perigo", premiado em Brasília em 2007, deve ter lançamento "em formato
de guerrilha" até o final deste
ano, diz Belmonte.
Atualmente, existem 84 longas nacionais prontos ou prestes a ser concluídos. A previsão
de estréias até agosto de 2009
registra 42 títulos, de acordo
com dados do portal Filme B,
especializado no setor.
O acúmulo de filmes sem estréia garantida é uma distorção
do mercado, na opinião do distribuidor Rodrigo Saturnino
Braga, diretor da filial brasileira da empresa norte-americana
Columbia, que lançou uma proposta polêmica para solucionar
a questão. Ele defende que produções beneficiadas por investimento do Estado via leis de
renúncia fiscal não tenham
suas filmagens autorizadas enquanto não possuírem um contrato de distribuição.
A Folha apurou que a Ancine
(Agência Nacional do Cinema)
é sensível à idéia.
"Há no Brasil distribuidoras
suficientes para escoar uma
produção de 80 a 90 títulos nacionais por ano, sejam comerciais ou independentes. Se elas
não se interessam em distribuir esses filmes é porque têm
um problema com qualquer tipo de público", diz Braga.
Para Belmonte, "a gente vive
um pré-capitalismo nessa área
de cinema. O cobertor é muito
curto, e a lógica não é muito racional para todos os lados".
Ele cita que "há uns que pleiteiam o fim do cinema comercial no Brasil, que, na prática, é
um cinema no vermelho, que
não se paga" e defende que "é
preciso parar com essas iniciativas, tanto de um lado como de
outro, que são sempre para exterminar o outro lado".
A apresentação dos concorrentes da Première Brasil termina na segunda, com "Verônica", de Maurício Farias. Amanhã, será exibido "Apenas o
Fim", de Matheus Souza.
A cerimônia de premiação
ocorre na próxima quinta.
Groucho Marx
O cantor Jards Macalé não se
deixou ver na estréia do documentário a seu respeito, "Jards
Macalé - Um Morcego na Porta
Principal", anteontem, no Cine
Odeon. Ao apresentar o filme,
que compete na Première Brasil, o diretor Marco Abujamra
disse: "Ele está por aí, disfarçado de Groucho Marx. Macal, se
você se dispuser...". Nada.
No filme, o compositor Abel
Silva conta como João Gilberto
demoveu Macalé da idéia do
suicídio, que se apoderara dele
no décimo aniversário da morte de Torquato Neto (1944-72).
Macalé ligou para se despedir. João Gilberto pegou o violão e cantou uma canção de Ary
Barroso e Lamartine Babo. "No
rancho fundo/ De olhar triste e
profundo/ Um moreno canta
as "mágua'/ Com os olhos rasos
d'água."
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