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CINEMA
Museu abre hoje festival com filmes do cineasta paranaense, como "A Causa Secreta" e "Romance"
Corrosão de Bianchi é exibida no MIS
Reprodução
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Rodrigo Santiago e Isa Kopelmann em cena de "Romance", de Sérgio Bianchi |
PAULO SANTOS LIMA
especial para a Folha
Sérgio Bianchi ainda filma. Isolado e trabalhando "diariamente
das 9h às 10h", como ele próprio
enfatiza, em seu apartamento no
centro de São Paulo, aguarda os
últimos recursos para concluir a
mixagem de seu "Cronicamente
Inviável", projeto em que, nas
suas próprias palavras, está envolvido há cinco anos.
O MIS (Museu da Imagem e do
Som) prepara o público para a estréia prometida para o próximo
semestre com a exibição de todos
os filmes do cineasta paranaense,
desde os curtas inspirados em
contos de Julio Cortázar à contundência de "Romance", longa-metragem concluído em 1988.
A mostra fica em cartaz até o dia
7 de novembro (leia programação
ao lado), numa oportunidade rara, já que apenas "A Causa Secreta" foi lançado em vídeo e "Romance" foi comprado por uma
emissora que ainda não o exibiu.
Relíquias como o curta-metragem "Omnibus" (72) e "Divina
Previdência" (93), este último, seu
primeiro longa e um dos seus filmes mais experimentais.
Bianchi optou pelo trabalho em
seu apartamento -cujas paredes
estão forradas de fotografias que
ele próprio tirava, nos anos 70,
quando se aventurava no estudo
da fotografia, antes de dirigir filmes. "Nada de cinema há um ano.
Aliás, saio raramente e prefiro
cuidar de minhas coisas aqui em
casa", disse.
E nada de política, também. Como ele disse à Folha, "falar sobre
política cinematográfica pode significar não trabalhar mais". Leia a
seguir o que Sérgio Bianchi falou
sobre o cinema brasileiro, sua experiência na ECA e seu processo
criativo.
Folha - Você ficou surpreso
com uma mostra de seus filmes?
Sérgio Bianchi - Sim, é muito
bom. Para você ter uma idéia,
"Romance" ficou em cartaz duas
semanas nas salas de exibição e
nunca mais foi relançado nos cinemas ou na TV.
Folha - É o velho problema da
distribuição?
Bianchi - E o problema é o Brasil
não gostar da própria cultura. Naquela época, filme brasileiro já era
desova e passava só no Belas Artes. Para se lançar um filme, hoje,
são necessários dinheiro e espaço
na mídia.
Folha - Como "Orfeu"?
Bianchi - Não cito nomes. Já é
muito difícil meus colegas fazerem cinema aqui.
Folha - Seus filmes sempre foram extremamente críticos e
pessimistas, não?
Bianchi -Sim, desde os anos 80
venho tendo problemas para financiar meus filmes. Só que, agora, a coisa ficou mais complicada,
pois são diretores de marketing,
por exemplo, que decidem se seu
filme vale investimento ou não. E,
no mais, sou meio malcriado. Sou
daqueles que perdem o amigo,
mas não perdem a piada.
Folha - À época da Embrafilme
era melhor?
Bianchi - Vendo agora, dá impressão que sim, mas sempre
houve problemas. A culpa não é
só de coisas como a globalização,
não é só a política cultural, mas é
essa colonização cultural na qual
vivemos. Nunca estivemos tão colonizados como agora. A mídia
comprova isso, veiculando e propagando tudo o que vem de fora.
E há uma elite nesse país que
aplaude isso tudo. O dinheiro,
aliás, não deixa de ser indiretamente estatal, já que há debitação
no imposto de renda.
Folha - O que fazer, então, já
que a Lei do Audiovisual não
consegue cumprir as exigências
neste renascimento do cinema
nacional?
Bianchi - Renascimento? A mídia sepultou 20 anos de história
do cinema brasileiro, saltando do
cinema novo ao tal renascimento.
Há grandes diretores, mas fazer
filme brasileiro continua sendo
muito árduo, muito penoso.
Folha - O que você propõe?
Bianchi - Sou a favor de curadoria. O dinheiro do Estado seria
um fundo perdido gerenciado
por curadores com tempo fixo. Se
o curador fizesse com que bons
filmes fossem lançados, ele continuaria. E, melhor, com curadores
diferenciados para cada área do
cinema. Mas é só uma idéia.
Folha - "Cronicamente Inviável" é seu filme mais caro?
Bianchi - Sim, seu orçamento já
passa do R$ 1 milhão, mas não
porque rodei em vários estados.
Ele é mais caro porque todos as
produções estão custando acima
do normal. Um fotógrafo, um cameraman ou mesmo um ator cobrarão um preço "justo", ou seja,
o preço que uma superprodução
pode bancar.
Folha - O que você admira no
cinema atual?
Bianchi - Não sou crítico de cinema para escolher bons e maus
filmes. Não qualifico os filmes,
pois eles são mal lançados e não
seria justo denegri-los.
Folha - O que o influenciou no
cinema?
Bianchi - Não sei. Fiz sete faculdades. Não conclui nenhum curso, mas a ECA, entre 69 e 72, me
marcou muito, com a geração de
Paulo Emilio Salles Gomes e Roberto Santos.
Folha - E como você sobrevive?
Bianchi - Vivo bem, apesar da
frustração de fazer cinema de jeito tão penoso. E, para se viver
bem, dinheiro não é necessário.
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