São Paulo, Quinta-feira, 04 de Novembro de 1999
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Morador impede colocação de marco a Marighella em SP

FRANCESCA ANGIOLILLO
da Redação

Um morador do edifício situado à alameda Casabranca, 815 (zona sudoeste de São Paulo) impediu ontem a colocação, em frente a seu prédio, de um marco em homenagem a Carlos Marighella, no local onde ele foi morto, em 4 de novembro de 69.
O líder da Ação Libertadora Nacional -que com Carlos Lamarca formava a dupla de guerrilheiros mais procurada pelo regime militar- recebeu quatro tiros em emboscada comandada pelo então delegado Sérgio Paranhos Fleury; na época, a versão oficial dizia que ele teria reagido à voz de prisão de Fleury, se refugiando dentro de um carro.
Por volta das 11h30 de ontem, o arquiteto Marcelo Ferraz, autor do projeto, levantava, com sua equipe, o monumento lembrando o 30º aniversário do assassinato do guerrilheiro.
Durante a instalação da obra, permitida por decreto do prefeito Celso Pitta, o morador Edgard Salemi chegou ao local exigindo a interrupção dos trabalhos.
Segundo Ferraz, Salemi chegou ao local "aos berros, mandando parar a cada gesto do pedreiro. Como não estava com o decreto lá, achei melhor não pôr a pedra na hora".
Para Salemi, que também é arquiteto, "não tem cabimento uma pedra, na beira da calçada, em homenagem a um terrorista. Vai virar um jazigo, uma baderna. Por que não numa praça?"
"Eu não tenho nada contra o seu Marighella, contra o seu PT... Mas prefiro uma árvore", disse Salemi, que seria segundo-tenente da reserva -ele não confirmou a informação.
O monumento é uma pedra de granito natural, com uma inscrição, a ser posta sobre o resto de uma árvore que caiu e foi serrada pela Prefeitura, tempos atrás.
A instalação está programada para esta manhã, seguida pela inauguração, às 11h, quando serão colocadas flores no local por familiares do guerrilheiro.
Salemi afirma que, se o monumento for instalado hoje, vai falar com o prefeito.
O síndico do prédio, Milton Gattaz, afirma que vai cumprir o decreto da prefeitura. "Mas os moradores preferiam uma árvore. É agressivo: todos saem do prédio e vêem um monumento a alguém que morreu -e nem foi ali, foi do outro lado da rua."
Ferraz diz que "existe polêmica sobre o local exato da morte, mas, simbolicamente, é naquele quarteirão, e, simbolicamente, a árvore serrada é forte".
Clara Charf, companheira do guerrilheiro, afirma que, mesmo que o marco não seja instalado, haverá homenagem: "Acho que os militares, no futuro, vão reconhecer o valor de Marighella assim como reconheceram o de Tiradentes".


Colaboraram Ivan Finotti, da Reportagem Local, e Dado Galdieri, free-lance para a Folha


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