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Morador impede colocação de marco a Marighella em SP
FRANCESCA ANGIOLILLO
da Redação
Um morador do edifício situado à alameda Casabranca, 815
(zona sudoeste de São Paulo)
impediu ontem a colocação, em
frente a seu prédio, de um marco
em homenagem a Carlos Marighella, no local onde ele foi morto, em 4 de novembro de 69.
O líder da Ação Libertadora
Nacional -que com Carlos Lamarca formava a dupla de guerrilheiros mais procurada pelo regime militar- recebeu quatro
tiros em emboscada comandada
pelo então delegado Sérgio Paranhos Fleury; na época, a versão
oficial dizia que ele teria reagido
à voz de prisão de Fleury, se refugiando dentro de um carro.
Por volta das 11h30 de ontem, o
arquiteto Marcelo Ferraz, autor
do projeto, levantava, com sua
equipe, o monumento lembrando o 30º aniversário do assassinato do guerrilheiro.
Durante a instalação da obra,
permitida por decreto do prefeito Celso Pitta, o morador Edgard
Salemi chegou ao local exigindo
a interrupção dos trabalhos.
Segundo Ferraz, Salemi chegou ao local "aos berros, mandando parar a cada gesto do pedreiro. Como não estava com o
decreto lá, achei melhor não pôr
a pedra na hora".
Para Salemi, que também é arquiteto, "não tem cabimento
uma pedra, na beira da calçada,
em homenagem a um terrorista.
Vai virar um jazigo, uma baderna. Por que não numa praça?"
"Eu não tenho nada contra o
seu Marighella, contra o seu PT...
Mas prefiro uma árvore", disse
Salemi, que seria segundo-tenente da reserva -ele não confirmou a informação.
O monumento é uma pedra de
granito natural, com uma inscrição, a ser posta sobre o resto de
uma árvore que caiu e foi serrada
pela Prefeitura, tempos atrás.
A instalação está programada
para esta manhã, seguida pela
inauguração, às 11h, quando serão colocadas flores no local por
familiares do guerrilheiro.
Salemi afirma que, se o monumento for instalado hoje, vai falar com o prefeito.
O síndico do prédio, Milton
Gattaz, afirma que vai cumprir o
decreto da prefeitura. "Mas os
moradores preferiam uma árvore. É agressivo: todos saem do
prédio e vêem um monumento a
alguém que morreu -e nem foi
ali, foi do outro lado da rua."
Ferraz diz que "existe polêmica
sobre o local exato da morte,
mas, simbolicamente, é naquele
quarteirão, e, simbolicamente, a
árvore serrada é forte".
Clara Charf, companheira do
guerrilheiro, afirma que, mesmo
que o marco não seja instalado,
haverá homenagem: "Acho que
os militares, no futuro, vão reconhecer o valor de Marighella assim como reconheceram o de Tiradentes".
Colaboraram Ivan Finotti, da Reportagem
Local, e Dado Galdieri, free-lance para a
Folha
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