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MEMÓRIA
Jovelina era a cara do Rio
XICO SÁ
da Reportagem Local
Seria uma injustiça machista
chamá-la de "o Bezerra da Silva de
saias". Mas para quem não conhece a história de Jovelina Pérola Negra, que morreu anteontem, aos 54
anos, a comparação serve, pelo
menos, para puxar um bom começo de conversa.
Também batizada como "mãe do
pagode", Jovelina conheceu tarde
o sucesso. Somente em 86, com o
disco "Raça Brasileira", quando o
seu destino felizmente encontrou
os parceiros Zeca Pagodinho e Almir Guineto.
Porta-voz feminina do morro, na
mesma linha de malandragem sonora do pernambucano Bezerra da
Silva, a cantora deixou uma biografia honrada de mulher do povo:
trabalhou como lavadeira, babá e
vendedora de linguiça, entre outras funções.
Vadiou com a voz em oito discos,
incluindo as coletâneas e participações especiais, e sempre foi definida também como herdeira direta
de Clementina de Jesus.
Um dos seus maiores sucessos,
"Feirinha da Pavuna", no entanto,
lembra-nos mesmo é de Jorge Ben
Jor e suas paixões pavunenses do
disco "Jorge Ben Jor - no Rio - Ao
Vivo", de 1991
Bezerra da Silva, Clementina de
Jesus, Ben Jor. Jovelina (Faria Belfort) Pérola Negra era, de fato, a cara da cidade do Rio de Janeiro.
A sambista guardava tanto aspectos do chamado Rio das "antigas" como também do Rio de hoje
em dia, que tem na voz de cerveja
gelada de Zeca Pagodinho e na onda sampleada de Marcelo D2 as
suas melhores traduções.
Para não falar na literatura de
Paulo Lins, autor de "Cidade de
Deus" (Cia. das Letras), que deu
voz e memória a desajustados que
só haviam frequentado anteriormente os livros de Lima Barreto e
alguns contos de João Antônio.
Cabe citar todo esse cardápio carioca quando o assunto é Jovelina
Pérola Negra -apelido que parece
um verso livre de Nelson Cavaquinho, mas que cai muito bem para o
batismo de uma respeitável dama
do samba.
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