São Paulo, quarta, 4 de novembro de 1998

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MEMÓRIA
Jovelina era a cara do Rio

XICO SÁ
da Reportagem Local

Seria uma injustiça machista chamá-la de "o Bezerra da Silva de saias". Mas para quem não conhece a história de Jovelina Pérola Negra, que morreu anteontem, aos 54 anos, a comparação serve, pelo menos, para puxar um bom começo de conversa.
Também batizada como "mãe do pagode", Jovelina conheceu tarde o sucesso. Somente em 86, com o disco "Raça Brasileira", quando o seu destino felizmente encontrou os parceiros Zeca Pagodinho e Almir Guineto.
Porta-voz feminina do morro, na mesma linha de malandragem sonora do pernambucano Bezerra da Silva, a cantora deixou uma biografia honrada de mulher do povo: trabalhou como lavadeira, babá e vendedora de linguiça, entre outras funções.
Vadiou com a voz em oito discos, incluindo as coletâneas e participações especiais, e sempre foi definida também como herdeira direta de Clementina de Jesus.
Um dos seus maiores sucessos, "Feirinha da Pavuna", no entanto, lembra-nos mesmo é de Jorge Ben Jor e suas paixões pavunenses do disco "Jorge Ben Jor - no Rio - Ao Vivo", de 1991
Bezerra da Silva, Clementina de Jesus, Ben Jor. Jovelina (Faria Belfort) Pérola Negra era, de fato, a cara da cidade do Rio de Janeiro.
A sambista guardava tanto aspectos do chamado Rio das "antigas" como também do Rio de hoje em dia, que tem na voz de cerveja gelada de Zeca Pagodinho e na onda sampleada de Marcelo D2 as suas melhores traduções.
Para não falar na literatura de Paulo Lins, autor de "Cidade de Deus" (Cia. das Letras), que deu voz e memória a desajustados que só haviam frequentado anteriormente os livros de Lima Barreto e alguns contos de João Antônio.
Cabe citar todo esse cardápio carioca quando o assunto é Jovelina Pérola Negra -apelido que parece um verso livre de Nelson Cavaquinho, mas que cai muito bem para o batismo de uma respeitável dama do samba.



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