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O ROMANCE
Stone faz ficção de sua aventura no Vietnã
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
da Reportagem Local
A Guerra do Vietnã está de volta.
Não por meio das imagens de Oliver Stone, o cineasta, mas das palavras de Oliver Stone, o escritor.
E também não do Oliver Stone
de hoje, rico, famoso e reconhecido internacionalmente pela direção de filmes como "Platoon" e
"Nascido em 4 de Julho", mas do
Oliver Stone dos anos 60, quando
vivia o final de sua adolescência.
Trinta anos depois de escrever
"A Child's Night Dream" (Um Sonho de Criança), a obra acaba de
ser lançada nos Estados Unidos.
"Eu comecei a escrevê-la quando tinha 19 anos, em 1966, e estava
em Guadalajara, no México. Fui
terminar no ano seguinte, já de
volta a Nova York", contou o cineasta. "Só que na época, você sabe como é, não era famoso, não era
conhecido de ninguém, e nenhuma editora quis publicá-la."
Passadas mais de duas décadas,
Robert Weil, um editor de NY, assistiu a uma entrevista do diretor
em que ele citava o manuscrito.
"Ele então me escreveu, pedindo para que eu lhe mandasse meus
rascunhos, ou o que sobrara deles.
Foi o que fiz. Enviei-lhe uma bagunça, tudo fora de ordem. Como
ele conseguiu reconstruir o que escrevi, é um mistério, mas fez um
trabalho excepcional."
Na obra, o cineasta cria um Oliver Stone fictício, voluntário na
Guerra do Vietnã. Ele mistura, porém, muitos dados de realidade,
que fizeram parte de sua vida durante a adolescência.
Em setembro de 1967, Stone foi
lutar no Vietnã, exatamente no dia
em que completava 21 anos.
"Quando o ser humano depara
com a morte, ele começa a questionar a própria vida, os valores
fundamentais de sua existência. O
Vietnã marcou minha geração,
porque colocou o jovem, mais do
que nunca, diante das questões
centrais da humanidade."
Dois anos antes, em 1965, Stone
já estivera no Vietnã, mas lecionando numa escola católica. Na
ocasião, trancara sua matrícula em
Yale, uma das principais universidades norte-americanas.
Quando retornou aos Estados
Unidos, em 1966, tentou prosseguir os estudos, mas, com a idéia
fixa de escrever o livro, acabou
mesmo deixando Yale para trás. A
frustração de não ter conseguido
publicá-lo foi, aliás, um dos motivos para sua decisão de voltar ao
Vietnã, agora como soldado.
Tendo deixado a literatura de lado, quando retornou a Nova York,
em 1968, decidiu transmitir à humanidade um pouco do que vivenciou tornando-se um cineasta. Entre 1969 e 1971, acabaria voltando
aos estudos e cursando cinema na
New York University.
O inconsciente
Em "A Child's Night Dream",
Oliver Stone opta por frases curtas, diretas e, muitas vezes, confusas. "Escolhi esse estilo porque era
assim que eu me sentia e é assim
que muitos jovens se sentem. Eu
vivia um estado de confusão mental, como se estivesse sonhando."
Para o cineasta, a obra reflete a
insegurança em que foi criado,
que culminou com a separação de
seus pais, em 1962. Para se refugiar
dos problemas, uma das estratégias de Stone era criar um mundo
de fantasia para si próprio.
Não é à toa que ele diz que, em
várias ocasiões de sua vida, sentia-se novamente uma criança de
cinco anos, lutando para se manter de pé numa das escadas rolantes da Bloomingdale's, famosa loja
de departamentos de Nova York.
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