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MÚSICA
Selo criado por Aloysio de Oliveira foi responsável por veicular nomes essenciais da bossa nova durante os anos 60
Universal reedita vozes da "indie" Elenco
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Sinal dos novos tempos.
Após longa espera, a Universal faz uma reedição esmerada de
alguns dos mais importantes títulos do selo Elenco, que marcou
história nos anos 60 por veicular
parte essencial da música até hoje
conhecida como bossa nova.
É sinal dos tempos novos porque recoloca a filial de uma das
maiores gravadoras do mundo
diante de uma das primeiras e
avassaladoras experiências de
música independente brasileira.
Em 1963, o ex-músico de Carmen Miranda e ex-diretor artístico de grandes gravadoras Aloysio
de Oliveira fundou seu próprio
selo, trazendo para o universo que
hoje se chamaria "indie" sua experiência de quatro anos antes na
Odeon, quando lançara João Gilberto e a bossa nova.
Pelo elenco da Elenco passaram
nomes da estatura de Tom Jobim,
Vinicius de Moraes e Dorival
Caymmi, mas também estreantes
como Nara Leão e Edu Lobo.
Já eram importantes, mas não
simbolizavam a nata sacralizada
da MPB. Estavam para os anos 60
como estão para os 2000 as dezenas de selos independentes que
bóiam na crise da indústria.
A filosofia Elenco de Aloysio era
do tipo começo, meio e fim. Na
ponta inicial, abarcava nomes históricos da MPB que já haviam
perdido espaço. Abrigou versões
modernizadas, em bossa, do samba antigo de Aracy de Almeida e
Cyro Monteiro e da fossa de Lúcio
Alves, Sylvia Telles, Dick Farney,
Maysa e Sérgio Ricardo.
Da ponta para o fim, Aloysio
mirava a modernização da bossa,
temendo desde então a fossilização que acabaria de fato acometendo-a. Fez estrear pela Elenco a
bossa-novista de primeira hora
Nara Leão. Lançou em comunhão
com o mercado norte-americano
discos históricos dos moços Astrud Gilberto e Sergio Mendes.
Fez estrear na militância musical Edu Lobo. Deu abrigo por fim,
já em 1967, ao até hoje raro álbum
de estréia de Sidney Miller. Em
sua obra, despontavam referências críticas ao anti-samba prestes
a ser batizado de tropicalismo.
Mais ou menos quando o tropicalismo começava a irromper,
Aloysio viu que sua empreitada
não tinha futuro e vendeu a Elenco à Philips (hoje Universal). O selo ainda sobreviveu, mas desvirtuado por exemplo no ato de colorir as capas em preto-e-branco.
O elenco antitropicalista se esparramou em êxodo.
A Philips, que embolsou o catálogo da Elenco, fez o tropicalismo,
fez Chico Buarque e Elis Regina,
fez Raul Seixas e Tim Maia, fez
nos anos 90 a axé music, virou
Universal. Nunca havia reeditado
com seriedade esse catálogo.
Revendo hoje seu passado, a
gravadora entrega ao titã Charles
Gavin o projeto de reentrada no
catálogo da Elenco. As datas originais das edições permanecem
confusas, mas Gavin e gravadora
explicam nos encartes que a dúvida existe, quando ela existe.
O esclarecimento definitivo sobre a trajetória da Elenco só virá
pela pena de seus historiadores.
Mas a gravadora começa a fazer
sua parte. E até olha para o futuro,
colocando historietas e prometendo uma rádio Elenco no
www.universalmusic.com.br/elenco.
Série Elenco
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 23, em média, cada CD (20
volumes)
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