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"ROBERTO MARINHO"/BIOGRAFIA
Bial reverencia o "Doutor Roberto"
RENATA LO PRETE
EDITORA DO PAINEL
Não é fácil escrever sobre um
homem para quem se trabalhou desde sempre. Menos ainda
quando se continua a trabalhar
para seus herdeiros. E em especial
se o homem é Roberto Marinho.
Essa dificuldade original não é
superada na biografia que Pedro
Bial lança em São Paulo nesta
quarta-feira. Em "Roberto Marinho", parte de um projeto da
Central Globo de Comunicação
para preservação de memória, a
relação do autor com seu personagem ultrapassa a fronteira da
admiração. É de reverência.
Começa pela opção de referir-se
ao jornalista e empresário, morto
em agosto de 2003 aos 98 anos,
como "Doutor Roberto" ao longo
das quase 400 páginas.
Pode-se alegar que assim o chamavam os funcionários das Organizações Globo e todos os que dele se aproximavam. Mas, aliada ao
recurso de continuamente convidar o "amigo leitor" a seguir a jornada de "nosso companheiro",
essa forma de tratamento revela
disposição para diluir contrastes e
iluminar o personagem sempre
com a luz mais favorável.
Tome-se a história de quando
Roberto Marinho, já septuagenário, voltou a saltar a cavalo, para
grande preocupação dos familiares. Segundo Bial, notícias de suas
quedas não saíam no "Globo"
nem em outros jornais. "Com exceção, é claro, da "Tribuna da Imprensa", do eterno e implacável
adversário Hélio Fernandes."
O caso em si é lateral, mas o modo de narrá-lo deixa claro que, no
entender do autor, fora de lugar
está não o silêncio obsequioso dos
demais, mas sim a atitude de
quem "ultrapassava as raias da
deselegância fazendo zombaria
com a idade do competidor".
Não faltam atrativos a "Roberto
Marinho", seja pela riqueza de
eventos e realizações na trajetória
de seu protagonista, que ontem
teria feito cem anos, seja pela fartura de entrevistas e documentos
de que se serviu o autor.
Estão lá os presidentes (para
Juscelino, que insistia em erguer
Brasília no Planalto Central: "Por
que o senhor não constrói a nova
capital ali na Barra?").
Estão lá os jornalistas (na correspondência entre Marinho e
Evandro Carlos de Andrade se enxerga com nitidez o processo que
transformou "O Globo" no jornal
influente que é hoje).
Está lá uma história quintessencial sobre o significado de ser Roberto Marinho. Certo domingo,
ele quis saber a que horas a TV
Globo transmitiria o jogo de seu
Flamengo. Ninguém ousou dizer
a verdade: não transmitiria.
Foram minutos de desespero
até surgir a idéia salvadora: como
o sinal do estádio seria enviado à
emissora, conectou-se uma linha
à casa do Cosme Velho. Mandado
às pressas ao Maracanã, um locutor de primeiro time narrou a partida para um homem só.
Pena que tanta matéria-prima
tenha sido plasmada com olhar
de deslumbramento por Bial, que
ao final reflete: "Roberto Marinho... Nunca imaginei que me
coubesse tal missão, escrever,
com independência, um perfil
biográfico de Roberto Marinho.
Assim como nunca sonhei em vir
a ser apresentador do "Fantástico"
ou do "Big Brother Brasil'".
Se independência lhe foi dada,
ele mostrou pouco interesse em
utilizá-la. Não obstante o valor
documental de "Roberto Marinho", resta por ser feita uma biografia que, sem deixar de reconhecer seus méritos e o papel central na história das comunicações
no Brasil, seja capaz de encará-lo
com algum distanciamento.
Roberto Marinho
Autor: Pedro Bial
Editora: Jorge Zahar
Quanto: R$ 29,50 (400 págs.)
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