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CINEMAS/ESTREIAS
Crítica/"Abraços Partidos"
"Filme de crise" traz Almodóvar hesitante
Longa do cineasta espanhol alterna cenas memoráveis e final artificial
RICARDO CALIL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Por uma feliz coincidência, dois dos maiores cineastas contemporâneos realizaram quase simultaneamente filmes que funcionam como cartas de amor ao cinema -e que são praticamente
opostos em tom. Se "Bastardos
Inglórios", de Quentin Tarantino, representa uma paixão juvenil e explosiva, "Abraços Partidos", de Pedro Almodóvar,
simboliza um afeto maduro,
melancólico.
Dentro da obra de Almodóvar, "Abraços Partidos" faz par
com "Má Educação" (2004): é
seu reflexo hétero no espelho
da obra do diretor. Mais sombrios e secos que a maioria dos
filmes do espanhol, ambos são
protagonizados por um cineasta em crise que precisa ajustar
as contas com o passado.
No novo filme, ele é o roteirista e diretor Matteo Blanco
(Lluís Homar), que usa o pseudônimo Harry Caine em trabalhos de encomenda. A partir de
um episódio traumático, fica
cego, desiste do trabalho autoral e decide se identificar apenas com o pseudônimo.
Em flashbacks, o ocorrido é
esclarecido aos poucos e fica
evidente que tudo está ligado à
paixão por Lena (Penélope
Cruz), amante de um homem
poderoso que se torna a estrela
de um filme de Matteo.
(Aqui vale a pena abrir parênteses para o curioso caso de
Penélope Cruz, uma atriz que
sempre floresce sob a luz de Almodóvar, mas que parece tão limitada sob as ordens de outros
cineastas, com a brilhante exceção de Woody Allen em
"Vicky Cristina Barcelona".)
Fim artificial
Por uma hora e meia de projeção, Almodóvar se exibe em
sua melhor forma, intercalando os dois tempos narrativos
com maestria, renovando clichês de gêneros como o noir e o
melodrama, criando um punhado de cenas memoráveis.
Mas algo desanda na meia
hora final, como se a hesitação
de Matteo contaminasse Almodóvar. O cineasta parece perdido, tateante, sem saber o que
fazer -a ponto de a ode final ao
cinema, ao poder reparador dos
filmes, soar um tanto vaga e artificial (bem diferente do final
de "Bastardos Inglórios").
A tentação de classificar
"Abraços Partidos" como um
filme menor de Almodóvar é
grande. Mas, como isso significa que a produção ainda é superior a 99% do que se vê em cartaz, será mais justo dizer que
este é um filme de crise.
Num sentido imediatista, é
uma má notícia. Mas, para a
carreira de Almodóvar, pode
ser muito saudável. Porque
mostra que ele está disposto a
recusar às vezes apostas seguras como "Volver" (um filme
superior, mas menos arriscado), a vagar um pouco fora da
zona de conforto que consagrou o termo "almodovariano".
"Abraços Partidos" poderá
deixar alguns admiradores do
cineasta ligeiramente frustrados, mas também muito ansiosos pelo que essa crise pode trazer em seguida.
ABRAÇOS PARTIDOS
Direção: Pedro Almodóvar
Produção: Espanha, 2009
Com: Penélope Cruz, Lluís Homar e
Blanca Portillo
Onde: nos cines Espaço Unibanco Augusta, Kinoplex Itaim e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom
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