São Paulo, sexta-feira, 04 de dezembro de 2009

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CINEMAS/ESTREIAS

Crítica/"Abraços Partidos"

"Filme de crise" traz Almodóvar hesitante

Longa do cineasta espanhol alterna cenas memoráveis e final artificial

RICARDO CALIL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Por uma feliz coincidência, dois dos maiores cineastas contemporâneos realizaram quase simultaneamente filmes que funcionam como cartas de amor ao cinema -e que são praticamente opostos em tom. Se "Bastardos Inglórios", de Quentin Tarantino, representa uma paixão juvenil e explosiva, "Abraços Partidos", de Pedro Almodóvar, simboliza um afeto maduro, melancólico.
Dentro da obra de Almodóvar, "Abraços Partidos" faz par com "Má Educação" (2004): é seu reflexo hétero no espelho da obra do diretor. Mais sombrios e secos que a maioria dos filmes do espanhol, ambos são protagonizados por um cineasta em crise que precisa ajustar as contas com o passado.
No novo filme, ele é o roteirista e diretor Matteo Blanco (Lluís Homar), que usa o pseudônimo Harry Caine em trabalhos de encomenda. A partir de um episódio traumático, fica cego, desiste do trabalho autoral e decide se identificar apenas com o pseudônimo. Em flashbacks, o ocorrido é esclarecido aos poucos e fica evidente que tudo está ligado à paixão por Lena (Penélope Cruz), amante de um homem poderoso que se torna a estrela de um filme de Matteo.
(Aqui vale a pena abrir parênteses para o curioso caso de Penélope Cruz, uma atriz que sempre floresce sob a luz de Almodóvar, mas que parece tão limitada sob as ordens de outros cineastas, com a brilhante exceção de Woody Allen em "Vicky Cristina Barcelona".)

Fim artificial Por uma hora e meia de projeção, Almodóvar se exibe em sua melhor forma, intercalando os dois tempos narrativos com maestria, renovando clichês de gêneros como o noir e o melodrama, criando um punhado de cenas memoráveis.
Mas algo desanda na meia hora final, como se a hesitação de Matteo contaminasse Almodóvar. O cineasta parece perdido, tateante, sem saber o que fazer -a ponto de a ode final ao cinema, ao poder reparador dos filmes, soar um tanto vaga e artificial (bem diferente do final de "Bastardos Inglórios").
A tentação de classificar "Abraços Partidos" como um filme menor de Almodóvar é grande. Mas, como isso significa que a produção ainda é superior a 99% do que se vê em cartaz, será mais justo dizer que este é um filme de crise.
Num sentido imediatista, é uma má notícia. Mas, para a carreira de Almodóvar, pode ser muito saudável. Porque mostra que ele está disposto a recusar às vezes apostas seguras como "Volver" (um filme superior, mas menos arriscado), a vagar um pouco fora da zona de conforto que consagrou o termo "almodovariano".
"Abraços Partidos" poderá deixar alguns admiradores do cineasta ligeiramente frustrados, mas também muito ansiosos pelo que essa crise pode trazer em seguida.


ABRAÇOS PARTIDOS

Direção: Pedro Almodóvar
Produção: Espanha, 2009
Com: Penélope Cruz, Lluís Homar e Blanca Portillo
Onde: nos cines Espaço Unibanco Augusta, Kinoplex Itaim e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom




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