São Paulo, sexta-feira, 04 de dezembro de 2009

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Crítica/"Atividade Paranormal"

Ótimo filme B, suspense se orgulha em parecer vagabundo

ANDRÉ BARCINSKI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Viva o cinema B! Enquanto novos filmes independentes usam tecnologia barata para parecer mais caros do que são, surge um que se orgulha de parecer vagabundo: "Atividade Paranormal". Nada de efeitos especiais, computação gráfica ou imagens envernizadas de comercial de TV. "Atividade Paranormal" é um ótimo filme B, desses que fariam Roger Corman ou Samuel Fuller orgulhosos.
É justamente da ausência de recursos que o diretor estreante Oren Peli tira a beleza do filme. "Atividade Paranormal" custou a mixaria de 15 mil dólares, tem quatro atores e é passado inteiramente dentro de uma casa. Tinha tudo para ser um abacaxi. Mas sua história simples, envolvente e cheia de suspense envolve o espectador.
No filme, Katie e Micah (os ótimos e desconhecidos Katie Featherston e Micah Sloat) veem suas vidas abaladas quando ela diz estar sendo perseguida por um fantasma. O marido é cético e zomba da história da mulher. Para provar que fantasmas não existem, ele compra uma velha câmera de vídeo e resolve filmar o dia a dia da casa, inclusive gravando seu quarto durante a noite. O resultado é assustador.
Assim como outro grande sucesso do cinema independente, "A Bruxa de Blair" (1999), "Atividade Paranormal" finge ser um documentário (no caso, uma fita achada pela polícia) e tem um perturbador visual granulado de "cinéma verité". Mas sua narrativa é mais radical e inventiva que a de "Blair".
Todas as cenas de "Atividade Paranormal" vêm da câmera de Micah, ou seja, ele é ao mesmo tempo personagem e narrador da história. A rigor, o longa não tem montagem. Acompanhamos tudo em longuíssimos planos-sequência, que só terminam quando a câmera é desligada. O filme também não tem música, apenas efeitos sonoros simples e engenhosos.
"Atividade Paranormal" consegue assustar sem ter um efeito especial sequer. Vai na contramão da escola "Jogos Mortais" de terror, que prefere atacar o espectador com uma "blitzkrieg" de imagens chocantes e sanguinolentas.
Em "Atividade Paranormal", o poder da sugestão volta ao cinema de suspense, fazendo uma ponte com clássicos do terror psicológico como "Desafio ao Além" (Robert Wise, 1963) e "O Bebê de Rosemary" (Roman Polanski, 1968). Oren Peli ainda não está na mesma liga que Wise e Polanski, mas começou muito bem.


ATIVIDADE PARANORMAL

Direção: Oren Peli
Produção: EUA, 2009
Com: Katie Featherston e Micah Sloat
Onde: estreia no Anália Franco UCI, Center Norte Cinemark e circuito
Classificação: não recomendado a menores de 16 anos
Avaliação: ótimo




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