São Paulo, sexta, 4 de dezembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA
Diretor Gus van Sant baseou-se no mesmo roteiro e seguiu o plano de filmagem utilizado por Alfred Hitchcock
Estréia nos EUA a ""réplica'' de "Psicose"

RICARDO CALIL
especial para a Folha, em Nova York

Quando a Universal Pictures anunciou há um ano que iria ban car o projeto do cineasta Gus van Sant de refilmar plano a plano "Psicose", todo mundo achou a idéia absurda.
O filme chegou a ser chamado por um crítico de "o projeto mais estúpido da história do cinema desde a colorização de "Casablan ca'". Mas hoje, dia da estréia do fil me nos EUA (ele chega ao Brasil no dia 8 de janeiro), pouca gente duvi da que o "Psicose" cover será um dos maiores sucessos da tempora da. Se o êxito se confirmar, será uma vitória pessoal de Van Sant. Há dez anos, o diretor americano vinha tentando vender a idéia de um remake do mais famoso filme de suspense de todos os tempos, realizado por Alfred Hitchcock em 1960. "Se tanta gente faz remakes de filmes ruins, por que não pegar um grande filme e não mudar na da?", ele perguntava. Mas o argu mento não convencia ninguém.
Tudo mudou depois que Van Sant dirigiu "Gênio Indomável", sucesso de crítica e bilheteria que ainda lhe rendeu uma indicação ao Oscar. A Universal, então, decidiu investir US$ 30 milhões no projeto.
Van Sant fez questão de que tudo fosse o mais próximo possível ao original. Baseou-se no mesmo ro teiro, usou o mesmo estúdio, de senterrou velhos objetos de cena, seguiu o mesmo plano de filma gem de seis semanas, filmou as ce nas quase na mesma sequência.
"Esse filme é antes uma réplica do que um remake", explicou Van Sant. "É como se tivéssemos feito uma falsificação da Mona Lisa ou da estátua de Davi." Claro, existem algumas diferen ças. Para começar, a nova versão será em cores, contra o preto-e-branco original. Vince Vaughn reencarna o maníaco Norman Ba tes no lugar de Anthony Perkins, e Anne Heche faz o papel de Marion Crane, que fora de Janet Leigh.
Os atores tiveram liberdade para dar interpretações aos persona gens, mas eram obrigados a ver as cenas originais antes de repeti-las no mesmo tempo de duração.
O roteiro foi modificado mini mamente. Exemplo: no original, Crane roubava US$ 40 mil de seu patrão; agora, US$ 400 mil. A trilha sonora foi refeita por Danny Elf man, que seguiu os passos de Ber nard Hermann com reverência. O filme começa de maneira dife rente, com um rasante de helicóp tero em torno do Bates Motel, uma cena prevista por Hitchcock, mas não realizada por problemas técni cos. E a famosa cena do chuveiro terá mais nudez e sangue. Mas, no geral, o novo "Psicose" é igual ao velho. Van Sant chega a fa zer uma pequena ponta, à maneira de Hitchcock. Até o mistério em torno do filme foi mantido: as visi tas ao estúdio foram proibidas du rante a filmagem e não foram feitas festas nem pré-estréias de lança mento. O maior mistério sobre "Psicose", porém, continua sendo as razões que levaram Van Sant a refilmá-lo. Às vezes ele fala que se trata de uma homenagem a Hitchcock. Outras vezes diz que será uma chance para um novo público co nhecer o filme. Mas ele também já declarou que foi um golpe de mar keting ou uma grande diversão. A atriz Julianne Moore, que faz o papel que foi de Vera Miles, che gou a uma explicação mais psico lógica: ""Psicose' é um filme sobre dupla personalidade, sobre refle xos no espelho. Então esse remake faz muito sentido. Van Sant apenas queria saber como seria entrar na mente do velho Hitchcock".
Alguns críticos preferiram usar uma frase de Norman Bates: "We all go a little mad sometimes" ("Todos nós enlouquecemos um pouco de vez em quando"). Uma parte de Hollywood ainda acredita que é o diretor e não o personagem que precisa de um psiquiatra.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.