São Paulo, segunda, 5 de janeiro de 1998.




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Artista comemora 30 anos de carreira com 12 eventos durante o ano da Copa
Siron Franco é o dono da bola em 98

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem local

Neste ano em que o Brasil entra em campo para correr atrás de seu quinto título em uma Copa do Mundo, o artista plástico goiano Siron Franco, 50, também não vai ficar parado.
A diferença é que Siron, que este ano completa 30 anos de carreira, não vai se concentrar em campos franceses, como a seleção brasileira, mas em campos alemães, brasileiros e norte-americanos também. Afinal, são 12 os compromissos já assumidos pelo artista este ano .
Cleo Velleda/Folha Imagem
"Sete Mistérios", obra que Siron criou para o MAM - BA


A maratona começa esta semana, com a inauguração, na sexta-feira, da obra "Sete Mistérios", no jardim das esculturas do MAM-BA, em Salvador (leia texto nesta página).
O mês de janeiro lhe reserva ainda outros dois compromissos. No dia 14, Siron inaugura no Centro Cultural Banco do Brasil (Rio) a retrospectiva "Siron Franco - Pinturas dos 70 aos 90", com 40 telas, curadoria do editor de arte e colecionador Charles Cosac.
Também entrega este mês três projetos para a realização de um monumento aos jogadores brasileiros campeões das quatro Copas do Mundo, em frente ao estádio Mané Garrincha, em Brasília. O governador Cristóvam Buarque (PT), idealizador do projeto, e Pelé devem optar por um deles ainda este mês.
Siron não esconde sua preferência pelo projeto em que dispõe as imagens de todos os campeões em frente ao estádio, como em um campo que simula um jogo de futebol de botão, por onde os visitantes circularão. "A obra remete também à arquitetura que Lina Bo Bardi criou para o acervo do Masp, em que o visitante passeia entre as obras", disse o artista à Folha.
O monumento não será o único projeto em que Siron vai entrar no campo futebolístico este ano. Em julho, participa em Paris da mostra "Futebol/Arte", em que 22 artistas brasileiros desenvolverão trabalhos relacionados ao imaginário esportivo.
Siron criou seu trabalho sobre sete macas, com o uso de diversos materiais, como radiografias, tomografias e até holografias, além de tintas e outros pigmentos.
"Costurei as radiografias nas macas como uma remissão às suturas das cirurgias. Estava pensando em falar da violência -dentro e fora do campo- e por isso utilizei o objeto que carrega o violentado, jogador ou torcedor. Fiz política estudantil e a questão da violência deixou suas marcas", disse.
Artista franco-atirador? Pode ser. "Eu achava que eu não tinha personalidade pelo fato de eu não ter coerência e abrir um leque muito grande de opções, mas quando falo, por exemplo, do Planalto Central, não é de um ponto de vista bucólico. Meu olhar é político", disse.
A política sempre contaminou a produção artística de Siron Franco. Mesmo em suas telas, são constantes as remissões aos desatinos brasileiros em relação à ecologia (série "Peles") e às tragédias sociais, como a contaminação de parte da população de Goiânia com o césio 137, em 1987.
"Falo de questões sociais, mas elas não estão ligadas apenas a minha pintura, mas principalmente a toda a minha geração. Isso gera muita confusão pois as pessoas só vêem o lado político da minha obra, sem perceber que mesmo dentro dele existe uma pesquisa de linguagem, da qual não é possível fugir", disse.
Siron Franco nasceu em 25 de julho de 1947, em Goiás Velho (antiga capital de Goiás), mas com um ano de idade se transferiu para Goiânia (a atual capital), onde ainda hoje mantém seu ateliê, na chácara Santa Bárbara, nos arredores da cidade.
A distância de Rio e São Paulo não impediu que a obra de Siron rapidamente ganhasse reconhecimento nacional. Em 1968, aos 20 anos de idade, iniciou oficialmente sua carreira artística ao ganhar um prêmio aquisição no Salão de Artes da Bahia, em Salvador.
De lá para cá, Siron não parou mais. "O desejo de ser pintor sempre foi mais forte, e Goiânia nunca foi para mim uma cidade do interior pois eu sempre viajei muito."
Foi em um de seus retornos a Goiânia, por exemplo, que Siron se deparou com a tragédia nuclear do césio 137, que o levou a criar uma série de telas, desenhos e esculturas sobre o tema, um marco em sua carreira, mas também novo motivo para a acentuação de sua pecha de oportunista.
O artista, porém, não se incomoda em envolver sua produção estética com os problemas do homem contemporâneo. "Sou engajado porque sou cidadão", disse.



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