São Paulo, Quarta-feira, 05 de Janeiro de 2000


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Biografia resgata João do Vale, artista dos artistas

Reprodução/Arquivo pessoal
João do Vale em show



Projeto sobre o autor de "Carcará", que é referência da MPB e morreu no anonimato, terá prefácio do cantor Chico Buarque


TOM CARDOSO
especial para a Folha

"Carcará pega, mata e come/ Carcará, não vai morrer de fome/ Carcará, mais coragem do que homem..." A metáfora social de Carcará, imortalizada por Maria Bethânia no lendário show "Opinião", é de autoria de um homem pobre e analfabeto chamado João Batista do Vale, compositor de dezenas de músicas inesquecíveis que marcaram a canção popular brasileira.
Após morrer no anonimato e na miséria em 1996, o compositor maranhense, idolatrado por dez entre dez artistas do primeiro time da MPB, começa a renascer com o lançamento de vários projetos envolvendo o seu nome.
O principal deles é o livro "Pisa na Fulô, mas Não Maltrate o Carcará - Vida e Obra de João do Vale", biografia do escritor e jornalista carioca Márcio Paschoal, que será lançada em março pela editora Lumiar.
Outros projetos dependem de patrocínio para sair do papel: o documentário "João do Vale Carcará", dirigido por Zózimo Bubul, e um musical com o mesmo nome, que terá participações da cantora Milena, ex-parceira do compositor, e do ator Aroldo de Oliveira.

Songbook
Já o produtor Almir Chediak não descarta a possibilidade de fazer um songbook do artista maranhense este ano. "Material é o que não falta, pois ele é dono de um repertório fantástico", diz o produtor. Amigo do compositor durante anos, Chediak diz que ficava impressionado com a sua simplicidade.
"As pessoas olhavam aquele negão descalço e não acreditavam que ele era o autor de obras-primas como "Carcará", "Pisa na Fulô" e "Estrela Miúda'", lembra o produtor. O filho do compositor, Riva do Vale, também luta para que a Sony Music e a BMG relancem os dois únicos CDs gravados pelo músico maranhense: "João do Vale" (Sony Music), lançado em 1981, e "Tributo a João Batista do Vale" (BMG), de 1994, ambos produzidos por Chico Buarque, fã ardoroso do artista e um de seus maiores amigos.
"João do Vale está na mesma linha de Luiz Gonzaga e, para mim, sua obra tem tanto peso e valor quanto a do rei do baião", afirmou Chico no dia da morte do compositor, 6 de dezembro de 96.
Chico já se comprometeu a escrever o prefácio da biografia, que contará histórias fantásticas da vida de João, que percorreu quase todo o Norte e Nordeste brasileiro até conquistar a intelectualidade carioca nos anos 60.
Apesar de ter músicas gravadas pela nata da MPB, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Bethânia, Chico Buarque e Nara Leão, João do Vale só fez sucesso de fato na época do show "Opinião", estrelado por ele, Nara Leão (substituída mais tarde por Bethânia) e Zé Keti.
"João tinha o carinho de muitos, o apadrinhamento de poucos e nenhum dinheiro", diz Paschoal. "Ele era um desses fenômenos inexplicáveis: não possuía nenhum tipo de formação acadêmica, mas era capaz de compor verdadeiros hinos políticos."


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