São Paulo, sábado, 05 de janeiro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA

Diretor fala do sucesso de "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" e dos problemas de produção de filmes na França

"Não vai ser fácil reviver tal milagre", afirma Jeunet

GERARD LEFORT
DIDIER PERON
DO "LIBÉRATION"

Para falar sobre "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain", o diretor Jean-Pierre Jeunet escolheu um café no bairro de Abbesses, lugar em que mora e que serviu de locação para o filme. Leia os principais trechos da entrevista.

Pergunta - Qual é o efeito de "Amélie" ter tido tanto público?
Jean-Pierre Jeunet -
Eu me lembro de ter pensado, antes do lançamento, que seria genial fazer um filme a que o mundo todo assistisse. Era como um sonho, mas eu estava convencido de que jamais me aconteceria, porque o que faço é tão especial, avançado, estético. É engraçado como as coisas acontecem.

Pergunta - Mais de 8 milhões de ingressos vendidos na França. Quem ganhou dinheiro?
Jeunet -
Principalmente a UGC, porque o grupo ao mesmo tempo produziu, distribui, explora e vende o filme no exterior. Para eles, foi ganhar na loteria. Mas minha produtora, Claudie Ossart, e eu, que co-produzi, também nos beneficiamos. Grandes quantias, com certeza, com os 20 milhões de ingressos vendidos em todo o mundo.

Pergunta - É fácil esquecer que você teve problemas para produzir o filme.
Jeunet -
Problema talvez não seja a palavra certa. Ao voltar dos Estados Unidos, onde dirigi "Alien 4", fiz contato com a Pathé. Estávamos bem avançados no processo e, de repente, me disseram que 70 milhões de francos era um preço muito alto. Disseram que era preciso se preocupar com os lucros. Um dia, me devolveram o projeto, porque estavam preocupados. Isso aconteceu na manhã de uma sexta-feira. De tarde, mostrei o roteiro à UGC e, na semana seguinte, assinei o contrato. Hoje, sei que o pessoal da Pathé ficou mal.

Pergunta - Você se mantém informado sobre a bilheteria no exterior?
Jeunet -
Na Polônia, Grécia, Finlândia e Hong Kong rendeu muito dinheiro, isso me diverte. Nos Estados Unidos, o faturamento chega a US$ 12 milhões, e pode atingir os US$ 20 milhões, maior sucesso de um filme francês por lá. Mas cabe relativizar: "Alien 4" faturou US$ 49 milhões e "A Vida é Bela", de Benigni, US$ 59 milhões.

Pergunta - Ninguém ficou incomodado com o sucesso do filme?
Jeunet -
Quando há muito dinheiro em jogo, isso acontece mais do que quando se trata do caso oposto. Há rancores, ciúmes, reclamações, mas prefiro não falar disso. Descobrimos o caráter real das pessoas, descobrimos a cobiça dos agentes. Mas, no fim, tudo se resolve.

Pergunta - O fato de que seu bairro, Les Abbesses, foi inteiramente alterado pelo filme não lhe causa uma impressão cômica?
Jeunet -
Retrospectivamente, dou-me conta de que assumi um risco, porque depois de encher a paciência de todo mundo em três meses de rodagem, se o filme fosse uma bomba, não sei se teriam continuado a me atender tão bem! O que me agradou foi perceber que o filme mudou a vida do cara do armazém da esquina, do dono do Deux-Molins. Ele queria vender o lugar, mas desistiu, dá entrevistas todo dia, turistas frequentam o seu bar...

Pergunta - Você não se sente meio soterrado pela recepção do seu filme como fenômeno social?
Jeunet -
Eu certamente me sinto meio soterrado, meio deixado para trás. No começo, era um projeto pessoal no qual eu pensava há tempos e corri o risco de dar as costas a Hollywood, de voltar à França. Esperava vender 1,5 milhão de ingressos e amortizar o custo do filme. Eu o dirigi por prazer, não achava que tocaria tantas pessoas. As coisas que recebo pelo correio são incríveis. Por exemplo, um cara que decidira se suicidar e mudou de idéia depois do filme. Esse gênero de história me comove...

Pergunta - Que produtos derivados já lhe foram propostos?
Jeunet -
Os norte-americanos queriam lançar uma série de televisão. Conheci gente em bares que queria produzir paródias. Tenho uma proposta do Ministério da Saúde para usar "Amélie" em uma campanha de informação sobre o aborto. A causa é boa, mas preferi recusar. Um sujeito quer plantar rosas Amélie Poulain. Tenho horror a rosas.

Pergunta - E o próximo projeto? Jeunet - Quero adaptar um romance francês que adoro, mas não posso contar mais.


Tradução Paulo Migliacci


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.