|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA
Diretor fala do sucesso de "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" e dos problemas de produção de filmes na França
"Não vai ser fácil reviver tal milagre", afirma Jeunet
GERARD LEFORT
DIDIER PERON
DO "LIBÉRATION"
Para falar sobre "O Fabuloso
Destino de Amélie Poulain", o diretor Jean-Pierre Jeunet escolheu
um café no bairro de Abbesses, lugar em que mora e que serviu de
locação para o filme. Leia os principais trechos da entrevista.
Pergunta - Qual é o efeito de
"Amélie" ter tido tanto público?
Jean-Pierre Jeunet - Eu me lembro de ter pensado, antes do lançamento, que seria genial fazer
um filme a que o mundo todo assistisse. Era como um sonho, mas
eu estava convencido de que jamais me aconteceria, porque o
que faço é tão especial, avançado,
estético. É engraçado como as coisas acontecem.
Pergunta - Mais de 8 milhões de
ingressos vendidos na França.
Quem ganhou dinheiro?
Jeunet - Principalmente a UGC,
porque o grupo ao mesmo tempo
produziu, distribui, explora e vende o filme no exterior. Para eles,
foi ganhar na loteria. Mas minha
produtora, Claudie Ossart, e eu,
que co-produzi, também nos beneficiamos. Grandes quantias,
com certeza, com os 20 milhões
de ingressos vendidos em todo o
mundo.
Pergunta - É fácil esquecer que
você teve problemas para produzir
o filme.
Jeunet - Problema talvez não seja a palavra certa. Ao voltar dos
Estados Unidos, onde dirigi
"Alien 4", fiz contato com a Pathé.
Estávamos bem avançados no
processo e, de repente, me disseram que 70 milhões de francos era
um preço muito alto. Disseram
que era preciso se preocupar com
os lucros. Um dia, me devolveram
o projeto, porque estavam preocupados. Isso aconteceu na manhã de uma sexta-feira. De tarde,
mostrei o roteiro à UGC e, na semana seguinte, assinei o contrato.
Hoje, sei que o pessoal da Pathé ficou mal.
Pergunta - Você se mantém informado sobre a bilheteria no exterior?
Jeunet - Na Polônia, Grécia, Finlândia e Hong Kong rendeu
muito dinheiro, isso me diverte.
Nos Estados Unidos, o faturamento chega a US$ 12 milhões, e
pode atingir os US$ 20 milhões,
maior sucesso de um filme francês por lá. Mas cabe relativizar:
"Alien 4" faturou US$ 49 milhões
e "A Vida é Bela", de Benigni, US$
59 milhões.
Pergunta - Ninguém ficou incomodado com o sucesso do filme?
Jeunet - Quando há muito dinheiro em jogo, isso acontece
mais do que quando se trata do
caso oposto. Há rancores, ciúmes,
reclamações, mas prefiro não falar disso. Descobrimos o caráter
real das pessoas, descobrimos a
cobiça dos agentes. Mas, no fim,
tudo se resolve.
Pergunta - O fato de que seu bairro, Les Abbesses, foi inteiramente
alterado pelo filme não lhe causa
uma impressão cômica?
Jeunet - Retrospectivamente,
dou-me conta de que assumi um
risco, porque depois de encher a
paciência de todo mundo em três
meses de rodagem, se o filme fosse uma bomba, não sei se teriam
continuado a me atender tão
bem! O que me agradou foi perceber que o filme mudou a vida do
cara do armazém da esquina, do
dono do Deux-Molins. Ele queria
vender o lugar, mas desistiu, dá
entrevistas todo dia, turistas frequentam o seu bar...
Pergunta - Você não se sente
meio soterrado pela recepção do
seu filme como fenômeno social?
Jeunet - Eu certamente me sinto
meio soterrado, meio deixado para trás. No começo, era um projeto pessoal no qual eu pensava há
tempos e corri o risco de dar as
costas a Hollywood, de voltar à
França. Esperava vender 1,5 milhão de ingressos e amortizar o
custo do filme. Eu o dirigi por prazer, não achava que tocaria tantas
pessoas. As coisas que recebo pelo
correio são incríveis. Por exemplo, um cara que decidira se suicidar e mudou de idéia depois do
filme. Esse gênero de história me
comove...
Pergunta - Que produtos derivados já lhe foram propostos?
Jeunet - Os norte-americanos
queriam lançar uma série de televisão. Conheci gente em bares
que queria produzir paródias. Tenho uma proposta do Ministério
da Saúde para usar "Amélie" em
uma campanha de informação
sobre o aborto. A causa é boa, mas
preferi recusar. Um sujeito quer
plantar rosas Amélie Poulain. Tenho horror a rosas.
Pergunta - E o próximo projeto?
Jeunet - Quero adaptar um romance francês que adoro, mas
não posso contar mais.
Tradução Paulo Migliacci
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Frase Índice
|